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Jornalistas, em geral, não são conhecidos pela sua proficiência no manejo dos números. Não os condene – a língua portuguesa já costuma exigir bastante da maioria de nós. Em favor da categoria, é preciso observar que, em geral, os repórteres confiam a tarefa de executar cálculos mais complexos a fontes, profissionais especializados. Com isso se reduz o risco de cair em algum erro simples, daqueles que as pessoas cometem por falta da militância diária no assunto.

E quanto aos outros profissionais? Até que ponto a falta de familiaridade do brasileiro com os cálculos é uma fonte de atraso para o país?

Essa é uma discussão difícil e longa, para ser travada em um campo de batalha limítrofe entre a Pedagogia e a Economia. O fato é que o Brasil está em 58.º em um ranking de 65 países, no que se refere ao aprendizado de Matemática, segundo o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês). Gostaria de trazer a conversa para um campo mais corriqueiro – a forma como a falta de intimidade com a matemática afeta as nossas decisões de consumo e investimento.

É surpreendente a quantidade de pessoas com dinheiro aplicado em caderneta de poupança ou fundos de renda fixa em geral que também têm pequenas compras parceladas em andamento coisas como aparelhos de tevê, notebooks ou outros eletrônicos. Resultado de pouco raciocínio ou de falta de senso prático: o sujeito está deixando dinheiro parado, rendendo 0,5% ao mês, enquanto paga 4,35% ao mês de juros na compra parcelada – essa é a média dos juros do comércio no país segundo levantamento de fevereiro, da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). Mau negócio.

É o tipo de questão que só pode ser resolvido na esfera pública, com incentivos aos bons professores e (por que não?) aos bons alunos. E demora para resolver. Até lá, vamos engordando o bolso de alguns espertos que sabem fazer contas e não se incomodam em explorar a ignorância alheia.

Mudando de assunto…

Na semana que passou ouvi de um amigo um comentário interessante sobre as recentes elevações do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) nas compras feitas no exterior. Ele observou que, quando qualquer pessoa faz uma compra com cartão – seja no país ou fora dele –, há certo risco na operação, porque o cliente pode não pagar a fatura. Esse risco, obviamente, é coberto pela administradora do cartão, que cobra bem caro por isso (a média das taxas de juros de cartão no país é de 10,08% ao mês, ou 216,59% ao ano).

Já o risco do governo é menor – afinal, ele nem mesmo precisa se preocupar com a cobrança do imposto, já que este vem discriminado na fatura e deve ser recolhido pela administradora do cartão. Mesmo assim, recebe 6,38% do valor da compra. Bom negócio…

Em tempo

A alíquota de 6,38% é para compras feitas por usuários comuns. Quando forem usuários do cartão a União, estados, municípios, Distrito Federal, suas fundações e autarquias, a alíquota é zero, conforme o Decreto 6.306/2007, que regulamenta o IOF.

À portuguesa

Em Portugal, país onde a crise nas finanças públicas tem gerado protestos e levantado preocupação no restante do mundo, o governo impõe limites para as taxas de juros cobradas nos cartões. Lá, os juros do cartão de crédito não podem passar de 27,5%. Ao ano.

A taxa média brasileira é mais de sete vezes superior à máxima permitida na terrinha.

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