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Uma das principais tarefas dos pais é preparar seus filhos para o futuro: dar a eles segurança emocional e condições de enfrentar os desafios que terão pela frente – financeiros, inclusive. É por isso, por exemplo, que damos a eles mesadas. A função dela não é bancar as despesas da turminha, mas apresentá-las ao desafio pedagógico de cuidar, em ambiente controlado, de uma pequena quantidade de recursos. Com isso, espera-se que desenvolvam a habilidade de administrar seu próprio dinheiro quando o jogo for para valer.

Deixar que eles sejam responsáveis pelas suas próprias decisões é parte essencial do sistema. Lá em casa, por exemplo, temos um acordo quando saímos para almoçar fora: se as crianças quiserem sobremesa, elas pagam por elas (a não ser que seja em alguma ocasião especial). Se saímos e eles esquecem de levar o dinheiro, ficam sem sobremesa – ou, então, negociam um empréstimo. Se você bancar o sorvete, sem impor nenhuma condição, estará introduzindo um fator que distorce a capacidade de julgamento da criança, levando-a a pensar que não é necessário levar dinheiro. Afinal, sempre que ela esquece as moedinhas em casa, você paga a parte dela. Um risco moral, como se diz em financês.

O conceito de risco moral apareceu em análises sobre o mercado de seguros na Inglaterra, ainda no século 19. A ideia era que, quando coberto pelo seguro, o indivíduo deixava de adotar práticas de segurança importantes – ou seja, se tornava desleixado. Em consequência, a chance de ocorrer um sinistro era maior. O mesmo princípio é aplicável a outras áreas. Pense, por exemplo, em uma equipe de vendas. Todos os vendedores são remunerados com comissões, ou seja, quanto mais vendem, mais ganham. Imagine, entretanto, que um novo chefe resolva mudar as coisas, e agora todos os vendedores terão um salário fixo, independentemente dos resultados de venda. O risco moral levaria os vendedores a relaxarem em seus esforços, pois têm por segura a sua remuneração.

Aplicado às mesadas, o risco moral resulta em filhos malcriados. Aplicado à política industrial, também. Nos últimos anos, as montadoras têm se convertido em filhos malcriados para o governo federal. De 2009 para cá, foram duas grandes ondas de incentivo a esse setor industrial, sustentadas pela redução nos impostos federais. Uma terceira ajuda está se desenhando nos últimos dias, com o aceno de que a União estaria disposta a tomar providências para reduzir as chances de inadimplência nos contratos de financiamento de carros.

As montadoras vêm se queixando ao governo de dificuldade para fechar negócios. Algumas andaram dando férias coletivas e fazendo suspensões temporárias de contratos de trabalho. São questões bem ligadas à conjuntura momentânea, porque até agora ninguém falou em cancelar os planos de crescimento no mercado local. Pelo contrário, há quem tenha anunciado expansão – caso da Renault, que divulgou investimentos de R$ 500 milhões e a produção de novos modelos.

Pegando os dados da Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), os números não parecem assim tão assustadores. Comparando-se apenas veículos leves, o número de carros licenciados no primeiro trimestre deste ano caiu 0,67% em relação ao mesmo período de 2013.

Essas empresas continuam com fome, mas esperam que o governo pague parte da conta. Dado que ele já fez isso duas vezes no passado recente, quem as condenaria?

Também quero!

Por que só para as montadoras? Muitas empresas Brasil afora devem estar sonhando com planos de redução de impostos, estímulo às vendas e combate à inadimplência. Destacaria, por exemplo, o comércio. Com poucas exceções, as empresas dessa área estão passando pelo pior momento dos últimos cinco anos, ou até mais.

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