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Nível de desemprego |
Nível de desemprego| Foto:

iacomini@gazetadopovo.com.br

Na semana passada, com pouco mais de 24 horas de diferença, ouvi duas histórias que me convenceram de que a tal crise financeira é uma realidade bem mais palpável e próxima do que eu mesmo vinha sendo capaz de perceber. O primeiro relato veio de um executivo que recebeu uma ligação de um amigo, engenheiro, bem colocado em uma construtora de grande porte de São Paulo. "Fui demitido", contou o amigo. "Estão cortando projetos e eu e mais uns 15 aqui estamos sendo dispensados." O outro caso é de um profissional da área de processamento de dados, que foi dispensado pouco tempo depois de voltar de férias. A viagem, ao exterior, tinha sido parcelada, e o homem tem ainda um financiamento imobiliário e de automóvel por pagar.

Não parece ser caso isolado. Os números de desemprego do IBGE (ao lado) mostram uma trajetória admirável do ano passado para cá, mas dá medo de pensar no que pode acontecer caso as coisas piorem.

Quem te viu...

O sistema financeiro do Brasil passou por maus momentos há coisa de dez ou doze anos. Lembra do Nacional, do Econômico, do Bamerindus? Pois parece que esse tempo passou. A fusão Itaú-Unibanco criou um dos maiores bancos do mundo, e um dos poucos de seu porte que não carrega na barriga os papéis perigosos das hipotecas subprime. Tem tudo para iniciar uma bela carreira, internacional inclusive.

Resta saber o que fará o Bradesco. O Itaú sempre teve um discurso de que nunca mirou em ser o número 1 do Brasil e que seu foco era ser o primeiro em retorno ao acionista. Já o Bradescão sempre se orgulhou em ser o maior banco privado do país. Será que ele vai se resignar ao segundo posto ou vai sair às compras?

Catástrofe ecológica

Há uma semelhança entre a Economia e a Ecologia que começa nas sílabas iniciais, mas não termina nelas. As duas têm origem na mesma palavra grega, oikos, que significa casa. Ecologia, portanto, é o estudo desta nossa casa global; Economia é o conjunto das leis pelas quais ela funciona. Em ambos os casos, trata-se das relações entre diferentes agentes – se convivem com eles ou os devoram, por exemplo – e de sua capacidade de adaptação, entre outras tantas variáveis. Economistas e biólogos poderiam enumerar outras tantas; eu, jornalista, não me atrevo nem creio ser necessário neste momento.

Escolhi escrever sob o ponto de vista da Ecologia esta semana sob a influência de um debate do qual participei como moderador, o CEO Forum da Câmara Americana de Comércio. O tema era a sustentabilidade sócio-ambiental, mas como falar somente disso se havia executivos de diversas áreas presentes, e todos eles com a cabeça em taxas de juros, câmbio e no preço das ações? Sim, a crise pontuou as conversas, e não sem razão. Afinal, o mesmo mecanismo que levou à degradação do meio-ambiente está, no fundo, entre as razões que conduziram ao naufrágio financeiro.

Pense na causa primeira da encrenca atual, o problema com o mercado imobiliário americano. "Desde o início dos anos 70, o número de membros das famílias nos Estados Unidos caiu pela metade, mas o tamanho das casas triplicou", observa Hugo Penteado, economista-chefe do banco ABN Amro Real e autor do livro Ecoecomia, uma nova abordagem. "Não há exemplo de colapso ambiental que não tenha resultado em colapso populacional e econômico", diz ele.

A questão das casas é um sintoma de desequilíbrio, que permite fazer uma "ponte" entre as finanças pessoais e esse evidente desequilíbrio. Há uma decisão pessoal por trás de tudo. Os americanos escolheram casas maiores, imaginando talvez estar numa escalada de enriquecimento sem fim. Havia até motivos para crer nisso, afinal desde 1980 a produção de bens e serviços cresceu seis vezes mais do que a população. Mas o sonho não se realizou, e depois de findo o ciclo só lhes restou a dívida. O mesmo raciocínio os levou a investir em carrões potentes, imensos queimadores de petróleo como os Hummer. Estes ainda serão expostos em museus, como símbolos de uma era de inconseqüência. Tanto no que se refere ao trato do dinheiro quanto no que se refere ao meio-ambiente.

Chapéu largo

"Saúdo todos os que me lerem, tirando-lhes o chapéu largo quando me vêem à minha porta".

É Fernando Pessoa, via Alberto Caeiro, em O Guardador de Rebanhos.

Mesmo sem chapéu – quem sabe um boné? – o colunista se despede, para retomar este espaço em exatos sete dias. Quem quiser mais português e menos financês ainda pode entrar em contato por e-mail. O endereço está ali em cima.

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