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O Brasil dos últimos anos lembra um pouco o personagem Gastão, o primo sortudo do Donald nas histórias em quadrinhos. Nos gibis, tudo o que o pato fazia dava certo, mesmo que as circunstâncias todas apontassem para o outro lado. Por aqui, a história caminha mais ou menos assim:

• o mundo emendou uma crise na outra nos últimos quatro anos. Nunca a imagem de uma recessão global esteve tão próxima da realidade quanto é hoje. No Brasil, um forte aumento da renda fez com que o mercado interno crescesse a ponto de absorver grande parte da produção que seria destinada ao comércio exterior;

• os bancos dos Estados Unidos foram as principais vítimas dos eventos de 2008. Muitos quebraram – desses , o Lehman Brothers era o maior e ficou como símbolo da crise –, outros receberam ajuda federal. Na Europa atual, a moratória grega jogou mais sombras sobre bancos franceses e belgas, que detêm títulos do governo da Grécia. No Brasil, a regulação estrita que os bancos nacionais herdaram do tempo da inflação alta os protegeu de maiores percalços;

• mercados tradicionais das exportações brasileiras, Estados Unidos e Europa patinam há alguns anos e reduziram suas compras. Mas a ascensão da China no cenário internacional trouxe um grande comprador, em hora mais que oportuna.

De boa notícia em boa notícia, o país vem se firmando na exótica posição de quase-potência econômica – à parte todos os nossos problemas, que não são poucos. Mas há sempre um risco à espreita.

Vejamos os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desem­pregados (Caged), do Ministério do Trabalho. Dados divulgados na semana passada mostram que o país gerou 118,8 mil empregos com carteira assinada em janeiro. Muitos consideraram o número até modesto – o pior janeiro desde 2009 –, mas o mercado financeiro esperava pior. Veja o que diz análise da XP Investimentos, publicada on­­tem: "A divulgação do Caged foi o destaque da semana no Brasil. O resultado acima da expectativa mediana pressionou para cima os prêmios das taxas longas de juros, incentivados pela perspectiva de que o BC terá que reverter o atual afrouxamento monetário mais à frente para conter a inflação". Traduzindo: bancos e investidores concluíram que mais emprego agora significa juros mais altos daqui a pouco. Isso é importante, porque terá reflexos no dinheiro que você, leitor, toma emprestado nos seus financiamentos, e também (principalmente, aliás) na remuneração de seus investimentos. Mas por que eles pensam isso?

A ideia por trás desse raciocínio é que mais gente empregada vai comprar mais feijão, macarrão, cerveja, ingressos de cinema, carros, móveis, geladeiras, casas. Farão mais carnês nas Casas Bahia e mais compras no cartão de crédito. Isso é bom – teremos mais crescimento econômico, e uma projeção do banco americano Goldman Sachs, divulgada ontem, já apontava que o país deve crescer 3,5% neste ano (antes, a mesma instituição falava em 2,8%). O lado ruim é que essa demanda crescente deve fazer com que os preços dessas mercadorias todas tendam a subir. Em economês, altas generalizadas de preços são conhecidas por um nome tão familiar quanto temido: inflação. Para combatê-la, o Banco Central usa sempre o mesmo remédio: elevação nos juros.

A tônica da economia brasileira neste ano deve ser a busca pelo equilíbrio. De um lado, o estímulo ao crescimento. É bom que mais pessoas tenham acesso a bens de consumo, não há país forte sem uma classe média forte. De outro, um controle para que a inflação não dispare. Assim vamos vivendo.

De longe

Dia desses, minha esposa foi atendida numa loja por uma funcionária que tinha um sotaque diferente: era australiana. Essa é mais uma faceta do Brasil do pleno emprego – cada vez mais teremos de conviver com imigrantes como colegas de trabalho. Não serão só os haitianos, que a maioria vê com simpatia, mas gente de todo o mundo. A diversidade será maior (o que é bom) e a competição também, especialmente naquelas áreas técnicas em que o Brasil tem uma dificuldade história para formar mão de obra.

Donde se conclui que temos pouco tempo para melhorar a qualidade da educação no país. Caso contrário, é bem possível que seu próximo chefe fale outro idioma.

Olho nele!

A pedido da revista RI, especializada em no mercado de ações, a corretora Gradual analisou o desempenho dos papéis de empresas que patrocinam o jovem craque Neymar e seu clube, o Santos. Entraram na dança tanto empresas nacionais (Am­­bev, patrocinadora do jogador, e Marfrig, que investe no Santos) e globais (das quais Nike, Pana­sonic, Santander e Unilever estão ligadas diretamente a Neymar, enquanto a CSU Card­system se relaciona com o clube). Resultados: o "Neymar Stock In­­dex" (NSI) valorizou-se 9,4% no ano passado, em dólar. Excelente performance, na comparação com o Ibovespa (que perdeu 27.3% em dólares) e com o Dow Jones, que ganhou 5,5%.

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