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Quem vê os números do mercado de ações neste ano pode até achar que não dá mais pé. Veja só: o índice Ibovespa fechou ontem 52% abaixo do pico registrado em 20 de maio. Empresas importantes desabaram – caso da Vale, que perdeu 60% em pouco mais de seis meses. Companhias menores, então, sumiram do mapa.

Mas o mundo, ao contrário do que talvez estejam dizendo por aí, não acabou, e há testemunhas disso. Uma delas é Anderson Garcia Rodrigues, que conheci na semana passada. Anderson é motorista autônomo de táxi, e tem uma rotina das mais duras. Acorda todos os dias às 4 horas da manhã e trabalha das 5 às 17 horas levando gente de um lado a outro da cidade. Na quarta-feira passada, entretanto, ele parou mais cedo. Encerrou o expediente ao meio-dia para participar do Sul em Ações, uma iniciativa de seis empresas paranaenses listadas na bolsa, com o objetivo de aproximar as companhias abertas do investidor local. Foi um dia puxado: oito palestras, com pouco intervalo entre elas, e contato direto com os executivos da área de relações com o investidor. Anderson passeou entre os estandes com um ar um tanto indeciso. "Tenho muito que aprender", admite. Mas uma coisa ele já sabe – não dá para colocar todos os ovos numa só cesta. "Eu tenho de ir devagar, aprender, saber melhor como funciona. Muita gente perdeu dinheiro porque não fez isso", arrisca.

Anderson é um novato. Um dia antes do evento havia feito sua primeira operação no mercado, com a compra de ações das empresas Gol e Ambev. Mas por que entrou no mercado agora? Será que não ouviu falar em crise?

Claro que ouviu. Só não ficou com medo, pelo contrário. "Comprei ações porque achei que estavam baratas. Já estava até chamando atenção", explica. E por que escolheu os papéis de Gol e Ambev? "Não é nada muito técnico, não", diz. "Só achei que tinham caído demais." Os números não deixam de dar razão a ele. Os papéis ON da Ambev fecharam ontem 41% abaixo do valor de 3 de dezembro de 2007. No caso da Gol, a queda no mesmo período foi estrondosa: 80%.

A aposta de Anderson, pelo que se vê, é na retomada. Não só do mercado de capitais, mas da economia em si. E não é que ele não está sozinho?

Aquisições em alta

Gente muito mais experiente do que Anderson e do que os nossos investidores pessoas físicas está se aproveitando dos preços baixos do mercado, em mais uma prova de que o mundo das ações não encontrou seu apocalipse.

As empresas abertas são obrigadas por lei a comunicar ao mercado sempre que alguém comprar ações em tal quantidade que passe a deter mais de 5% do capital votante. Isso faz parte de uma regra de transparência, porque acionistas com esse porcentual passam a ter assento no conselho da companhia e, em teoria, podem apitar no futuro da empresa.

Entre 29 de outubro e 28 de novembro de 2007, foram registradas 24 operações desse gênero. No mesmo período deste ano, o número chegou a 39. Ok, a base de comparação é baixa. Mas um aumento de 62% é significativo por si só. Quer dizer que grandes investidores – muitos deles estrangeiros, representados por fundos de investimentos e bancos internacionais – estão desfrutando dos preços baixos para aumentar sua participação em empresas brasileiras que consideram promissoras. Casos recentes foram os das paranaenses Bematech e GVT. Em 17 de novembro, o fundo americano Equinox Partners passou a deter 5,14% das ações ordinárias da Bematech. Dias antes, em 11 de novembro, quinze fundos geridos pela Dynamo Administração de Recursos, do Rio de Janeiro, atingiram 5,11% das ordinárias da GVT.

Alguém acha que eles estão rasgando dinheiro?

Feriados e besteiras

Na semana passada, a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro divulgou um estudo dizendo que as empresas brasileiras deixarão de faturar R$ 155 bilhões (5% do PIB nacional) no ano que vem por causa dos feriados. Tudo porque 11 dos 12 feriados nacionais cairão em dias úteis.

Besteira.

Por acaso o leitor vai deixar de comprar um sapato ou um aparelho de televisão por causa de um feriado? Ou será que vai preferir fazer a compra um dia antes ou um dia depois? Acaso alguma indústria deixará de atender sua demanda por causa de um feriado?

Por outro lado, será que empresas do ramo hoteleiro, restaurantes e concessionárias de pedágio não contam com um faturamento a mais justamente em razão dos feriados?

Rumo ao Natal

A cidade está em clima de festa e os Papais Noéis estão à solta. Esta coluna quer de presente o seu comentário – pode ser uma dúvida ou até uma bronca. Participe pelo e-mail que está ali em cima.

iacomini@gazetadopovo.com.br

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