• Carregando...
 |
| Foto:

Taí uma boa pergunta: bancos estatais e privados andam alardeando redução de juros do consignado, do empréstimo pessoal, do financiamento de automóveis... Nem uma palavrinha sobre os empréstimos habitacionais. Será que eles já estavam baixos?

De jeito nenhum. Há um ano e meio, a consultoria internacional AT Kearney divulgou um estudo sobre os custos de financiamentos habitacionais ao redor do mundo. De acordo com o relatório, o Brasil tinha uma das maiores taxas do planeta na área: 11,3% ao ano, atrás apenas da Rússia.

Desde a tal pesquisa, as coisas não mudaram muito por aqui – lá fora sim, a lentidão na recuperação econômica fez com que as taxas sejam agora menores do que naquela época. Nos Estados Unidos, segundo dados de ontem do Federal Reserve, a taxa das hipotecas estava em 3,9% ao ano. Por aqui, os cortes de taxas nessa área foram localizados e não mexeram tanto com o panorama geral.

Ouvi opiniões diferentes a respeito, nos últimos dias. Há especialistas que não veem muita chance de o financiamento de imóvel baratear até que o governo destrave o mercado dos juros – alterando a remuneração da caderneta de poupança, por exemplo. Outros acham que a mudança pode sair ainda neste semestre, pela pressão do próprio consumidor. Acreditam que, se o mutuário assistir à queda de outras taxas, pode se sentir tentado a deixar de pagar as prestações para renegociar em termos mais favoráveis.

Sozinha, a Caixa Econômica Federal responde por mais de dois terços dos financiamentos do país. Bastaria, então, uma canetada para resolver tudo. Mas, aparentemente, o governo aposta no estímulo à concorrência para potencializar o efeito dos cortes. No caso dos imóveis, a concorrência não faz diferença nenhuma.

Palpite: o Estado vai tentar manter os ganhos derivados de seu quase-monopólio enquanto der.

Com a palavra...

... os leitores. Inês está com uma dúvida bem prática, que outras pessoas devem ter em mente neste mesmo momento. Ela quer comprar um carro zero e tem 33% do valor para dar de entrada. Estava quase fechando com a financeira da concessionária, a uma taxa de 1,57% ao mês, quando soube da redução de taxas praticada pelos bancos oficiais. Foi à Caixa e soube que poderia ter acesso a uma linha de 1,55% ao mês, desde que transferisse a conta. Seu marido, que tem conta no HSBC, viu a taxa subir de 1,5% para 1,7% – e olha que o banco está anunciando redução de juros! Com todo esse movimento, e taxas bastante uniformes, Inês não sabe o que fazer.

Pois é, Inês, do jeito que as coisas andam está difícil tomar uma decisão. O tom geral dos e-mails que recebi nos últimos dias, a respeito da redução das taxas de juros pelos bancos oficiais e alguns privados, seguia na mesma linha de dúvida. "Neste momento ainda sinto insegurança sobre por quanto tempo o governo manterá essas taxas", diz Eduardo. "Por tradição, o governo brasileiro muda regras repentinamente e todos podem virar vítimas. Será que essa estratégia é perene?", pergunta, sintetizando o sentimento de muita gente.

Pelo que se pode depreender do tom adotado pelo governo e pelos executivos dos bancos públicos, parece mesmo que a briga é pra valer. Mas os bancos privados não entraram de corpo e alma nela, continuam esperando para ver como o cliente se comporta. Também coopera contra o consumidor a velha falta de transparência das instituições financeiras: você nunca sabe em qual faixa de juros você se enquadra até que tenha assinado um contrato. Nem mesmo nos bancos oficiais. A Gazeta contou isso numa matéria e as instituições reclamaram, como se os repórteres é que estivessem de plantão nas agências, para orientar os correntistas.

Para a desnorteada Inês, sugiro concentrar-se no Custo Efetivo Total (CET) do financiamento. Ele inclui as tarifas cobradas no negócio, bem como os impostos. Normalmente, se a financeira da concessionária e o seu banco cobrarem juros iguais, o seu banco será mais barato, porque ele não vai cobrar tarifas para analisar o seu histórico de crédito, por exemplo. Os juros podem até ser iguais, mas o CET será bem diferente. O tom geral dos e-mails que recebi nos últimos dias, a respeito da redução das taxas de juros pelos bancos oficiais e alguns privados, era de dúvida.

Crédito não é bombom

Uma última observação: o fato de os bancos anunciarem juros mais baixos não significa que eles sejam baixos de verdade. São apenas menos absurdos do que eram há pouquíssimo tempo.

Por isso considero assustadora a notícia de que o Banco do Brasil triplicou volume médio diário de empréstimos consignados concedidos nos primeiros dias das novas taxas. Tomar dinheiro emprestado, seja qual for a taxa, deve ser uma atitude pensada e planejada. Não dá para consumir crédito como quem compra um bombom no caixa do supermercado.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]