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Vi uma vez uma reportagem sobre turismo, que mostrava um riacho que desaparecia, em algum lugar no interior do Brasil. Ele vinha por um trecho acidentado – com águas "muito apressadinhas e mexeriqueiras", à moda de Monteiro Lobato – até chegar a um ponto onde o leito se abria num buraco estreito e redondo. De lá o riozinho despencava para um trecho subterrâneo, como se fosse o ralo de uma pia natural. Com direito a redemoinho e tudo. Não tenho a menor ideia de onde era o tal lugar (se algum dos leitores souber, por favor, mande um e-mail para matar a minha curiosidade), mas a imagem ficou na memória.

Ela voltou à minha mente agora, na hora de falar sobre o caso do Eustáquio, um leitor que escreveu para contar que não consegue controlar seu orçamento. Mencionei-o numa coluna no mês passado e prometi voltar ao assunto. Pois ele conta que trabalha há quase 30 anos na mesma empresa e tem um bom salário, mas vive endividado. Já cortou cartão de crédito e não tem mais talão de cheques – mesmo assim, a situação não se resolve. "Deveria ter dinheiro guardado", ele admite.

Mesmo sem muitos elementos, levei a questão a um especialista em gestão de patrimônio – Raul Ribas, da consultoria em investimentos Diversinvest. "A primeira coisa é descobrir onde está o dreno, para onde está indo o dinheiro", observou Ribas. Assim como as águas do rio que aparecia naquela reportagem, os recursos financeiros de Eustáquio estão sendo arrastados para algum outro lugar.

E como se faz isso? O instrumento óbvio é o orçamento. Se tivesse o hábito de registrar receitas e despesas da família, o leitor provavelmente não teria se permitido chegar aonde chegou. E fazer um orçamento quando as coisas já vão mal é tarefa complexa. "É bem comum que quem está com problemas evite até montar o orçamento. É uma barreira psicológica: as pessoas preferem nem olhar para os números", diz Ribas. Só que não há outra saída: sem fazer contas não é possível sair do endividamento.

O processo começa com um levantamento das despesas fixas – aquelas que você paga todos os meses, como aluguel ou prestação da casa; tarifas de água, luz e condomínio; mensalidades escolares; combustível e seguro do carro; financiamento do veículo (se houver), entre outras. Em seguida é preciso fazer um levantamento, tão minucioso quanto for possível, dos gastos eventuais.

Muitas vezes são os gastos eventuais que levam ao endividamento. "Aparentemente o leitor está gastando com algo que não se converteu em patrimônio. Pode ser carro, compras de eletrodomésticos ou roupas, por exemplo", observa Ribas. No caso de Eustáquio, os drenos mais frequentes já estão fechados – são o cheque especial e o cartão de crédito.

De posse dos dados reais de quanto e em que a família gasta, é necessário então comparar os gastos com as receitas da casa (salários e rendas). O levantamento de gastos então se transforma em orçamento, incluindo a previsão de gastos sazonais – IPVA, IPTU, material escolar etc. – e, naturalmente, a difícil decisão de onde cortar.

É nessa hora que muita gente empaca, concluindo que não há onde cortar. Ribas observa que a conclusão natural desse processo é de que a família vinha vivendo um padrão de consumo incompatível com a renda. E muitas vezes as pessoas estão apegadas com esses símbolos de status, tratando-os como se não fosse possível fazer um recuo. Mas é.

Não sei se é o caso do leitor – ele não contou o suficiente no e-mail. Mas convém abrir o olho.

O que há num nome

Rola por aí que o nome do partido DEM vai mudar. Em vez de Democratas, a sigla passará a significar Dinheiro Em Meias.

A gente faz piadas, mas o caso é sério. E eu me pergunto o que faria alguém que tem poder político, bons salários e um patrimônio razoável – na eleição passada o governador José Roberto Arruda declarou possuir bens e direitos que somam R$ 598 mil – envolver-se em mutretas e receber dinheiro em fardos, de fontes obscuras. Que ambição sem medidas é essa?

Mais...

... só na semana que vem. Até lá você pode enviar seu comentário, sua dúvida ou sua crítica, em português ou financês. Escreva para financaspessoais@gazetadopovo.com.br

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