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Sou otimista. Vejo um Brasil melhor, com instituições mais maduras e pronto para decolar tanto do ponto de vista econômico como social. Com 45 anos de idade, percebo que não existe mais aquele país maluco onde vivi a infância e a adolescência, em que era impossível fazer planos financeiros porque a moeda mudava a cada dois anos. Acho isso fantástico, e me animo só em pensar nas transformações (para melhor) que podemos experimentar nos próximos 30 anos.

Entretanto, há sempre alguma coisa que joga água fria nesse meu fervor otimista. Não me refiro ao resultado das eleições – isso é jogo jogado, como dizem, e quem não aceita ser contrariado é criança mimada –, mas ao clima de intranquilidade que o cerca do ponto de vista econômico.

Acho que ninguém negará que os resultados eleitorais têm influência sobre a economia. Parece lógico: as decisões de um governo influenciam variáveis importantes para o dia a dia das pessoas e das empresas, dando a elas mais ou menos condições de elevar seus ganhos. O que parece ilógico é a reação que os mercados têm apresentado ao cenário eleitoral atual.

Durante o surto de crescimento de Marina Silva nas pesquisas, entre meados de agosto e meados de setembro, os mercados encontraram seu paraíso. O dólar baixou, a bolsa subiu – imagino operadores e gestores das casas bancárias todos trabalhando com óculos cor-de-rosa em suas baias. Quando consumiu-se o fogo de palha da candidatura de Marina, tudo mudou. O dólar voltou a subir – foi de R$ 2,23, no fechamento de 3 de setembro, até os R$ 2,49 da sexta-feira – e a bolsa despencou de novo.

Na semana passada, começaram a surgir alguns comentários sobre como os indicadores se comportariam com a reeleição da presidente Dilma. "Acredito que a bolsa deverá cair no mínimo mais 10%, os juros futuros em janeiro de 2016 devem se aproximar de 12% e o dólar deve permanecer próximo de R$ 2,45 até dezembro deste ano", disse Raphael Juan, gestor da BBT Asset.

Há exagero nessa previsão? Provavelmente. É fato que os juros vão subir, porque o Banco Central precisará tomar medidas macroeconômicas para controlar a inflação que acumula 6,51% nos últimos 12 meses (acima do teto da meta, que é de 6,5%). Então uma Selic de 12% é natural, com Dilma ou sem ela. O dólar vem subindo também por razões externas, já que a moeda está se valorizando em todo o mundo. Provavelmente subiria menos em outro cenário, mas, certamente, subiria. Assim, algo do que viria a ocorrer de qualquer forma entra na conta do cenário eleitoral.

Mas há mais do que isso, como vimos ontem. O mercado reagiu quase com festa à ascensão surpreendente de Aécio na reta final. A isso deve ser atribuído o comportamento de hoje na bolsa (alta de 4,72%) e no mercado de câmbio (o dólar teve queda de 3,35%, fechando a R$ 2,4098).

A questão é por que isso ocorre: viradas de mesa no jogo econômico estão sempre no radar de empresas e investidores – até porque elas podem mesmo ocorrer, já tivemos mostra disso inclusive no passado recente. Eu, otimista, pensei que isso não iria ocorrer mais depois que Lula reverteu as expectativas do tal mercado, na década passada. Para quem esperava um governo a la Fidel Castro, ele serviu um prato inspiradíssimo na social-democracia europeia e fez o Brasil crescer, a ponto de sua imagem pouco sofrer mesmo com os diversos escândalos que cercaram sua administração.

Dilma escolheu uma receita diferente, e os resultados estão sendo avaliados nas urnas. Mas, ao que parece, a avaliação do mercado é muito mais dura.

Como investir?

Se o leitor está preocupado com a influência desse bololô eleitoral no dinheirinho que precisa investir agora, a sugestão é tentar abstrair essa confusão toda. É que a eleição vai passar, e essa efervescência vai desaparecer – ela se consome em si mesma, como um comprimido de vitamina C em um copo d’água.

Lembre-se que os juros precisarão subir para controlar a inflação e que há uma tendência de o dólar se manter um tanto alto. A bolsa é que fica mesmo em suspense, principalmente por causa da Petrobras, já que a nova presidência é quem vai ditar os rumos para a estatal. Na dúvida, deixe o investimento na bolsa para depois. A não ser, é claro, que você goste de emoções fortes…

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