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Tenho um cunhado que está se mudando de São Paulo para Curitiba, e venho olhando junto com a família dele alguns imóveis que estão disponíveis para locação. Francamente, fiquei assustado.

A questão não é o preço – levando-se em conta a disparada do setor imobiliário nos últimos anos, os aluguéis subiram de uma forma até comedida. O problema está no estado de conservação de muitos desses apartamentos. Vi pisos maltratados, armários devorados por cupins e entrei em imóveis em que o cheiro de mofo dominava o ar. Mobiliário antigo, adaptações estapafúrdias nos cômodos e instalações elétricas inadequadas são comuns. E não se trata de apartamenticos, mas de imóveis bem localizados em bairros como Batel e Água Verde, com aluguel mensal na faixa dos R$ 2 mil ou mais.

Obviamente, há também imóveis em bom estado de conservação, mesmo em edificações mais antigas. O problema é que a quantidade de apês depreciados tem sido bem maior do que seria razoável. Muitos têm sinais claros de que estão fechados há um bom tempo, e não é difícil entender por quê.

Imóveis mais antigos são os mais bem localizados em uma cidade como Curitiba. Mais que isso, eles também costumam ser mais amplos que os lançamentos atuais. Tudo isso faz com que eles se tornem atraentes. O problema é que muita coisa mudou desde que eles foram levantados. Geladeiras são mais altas hoje do que eram antigamente. As máquinas de lavar roupa são maiores. A quantidade de aparelhos eletrônicos em uma casa "normal" é bem maior. Há necessidade de mais cabeamento – além do telefone, tevê por assinatura, internet, por exemplo – e de tomadas.

Colocar um imóvel para locação exige preparação e certo grau de investimento, que serão recompensados por um preço de aluguel mais alto e por um tempo de ociosidade menor. Manutenção constante certamente ajuda, e uma reforma de tantos em tantos anos também. Pisos antigos de tacos e azulejos "de época" têm seu charme, mas muitos armários precisam ser rejuvenescidos, principalmente nas cozinhas. E o que dizer de um carpete com 30 anos de idade e poeira acumulada?

Se você pretende usar um imóvel de família para obter renda de aluguel, lembre-se que esse patrimônio poderá dar um retorno melhor se estiver "nos trinques". Ponha na ponta do lápis: às vezes, o investimento de R$ 1 mil em reformas pode significar um aluguel de R$ 200 a mais por mês. Em um contrato de 30 meses, serão R$ 6 mil. Tirando o valor gasto com a reforma, um adicional de R$ 5 mil.

No mínimo, coloque-se no lugar do futuro locatário. Ele merece respeito.

Mudando de assunto...

A edição de dezembro do jornal do Conselho Regional de Economia do Rio de Janeiro foi dedicada a um debate sobre a classe C – a "nova classe média" de que se vem falando há alguns anos, criada pelo aumento da renda média dos brasileiros. Entre as opiniões, chama a atenção o artigo do cearense Francisco Portela Vidal, que questiona a intensidade e a perenidade do fenômeno. Ele observa que a faixa de renda englobada pela classe C vai de R$ 1,2 mil a R$ 5,1 mil por mês (números de 2011), enquanto que o salário levantado pelo Dieese como o mínimo para atender às necessidades básicas de uma família de quatro pessoas fica em R$ 2.285 (dados de setembro de 2011, mantidos por coerência com o artigo original; o valor atual é de R$ 2.561,47). O que significa que boa parte dessa classe C vive com rendimentos inadequados.

O artigo conclui dizendo que a formação de "um verdadeiro país de classe média" depende de crescimento forte e prolongado, com melhorias na educação, infraestrutura e gestão pública.

Faz sentido para você? Para mim, faz. Embora tenha havido inegáveis avanços sociais em uma faixa da população brasileira, ainda não é possível saber de que forma eles se converterão em melhoria para as próximas gerações.

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