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Em alguns países lança-se bombas. Em outros, atira-se a esmo nas ruas. No Brasil, mente-se. Em larga escala.

Nos últimos dias recebi algumas mensagens terroristas. Uma delas, espalhada por aplicativo de mensagens instantâneas, dizia que “um amigo que é oficial do Exército” alertou para que as pessoas estoquem água mineral em casa, encham as despensas de comida e armazenem combustível, porque foram localizados grupos guerrilheiros na Amazônia e a guerra civil vai começar a qualquer momento. A outra dizia que alguém tinha um amigo diretor de banco nos Estados Unidos avisou que o governo brasileiro estaria preparando para esta semana um novo confisco da caderneta de poupança, como aquele do Fernando Collor.

Leitor querido, me desculpe, mas não há espaço para sutilezas aqui. É MENTIRA – assim mesmo, em maiúsculas, negrito e sublinhado. Não dedique mais que trinta segundos para avaliar o assunto.

Tempos de crise despertam o pior das pessoas. Não sei o que passa pela cabeça de alguém que espalha um boato falso capaz de provocar prejuízos ao sistema financeiro e de colocar a segurança das pessoas em risco – sim, porque armazenar combustível em casa é perigoso e, se não estou enganado, ilegal justamente por razões de segurança. Aliás, na semana passada soube de um condomínio em que um morador resolveu guardar um galão de combustível na garagem do prédio, por causa da greve dos caminhoneiros e do diz-que-diz de que faltaria gasolina. Que perigo!

A quem interessa espalhar mentiras? A quem interessa inflar o número da perda de vidas na horrível tragédia de Minas Gerais? Nos últimos dias tenho lido mensagens de pessoas indignadíssimas porque 400 pessoas morreram com o desabamento das barragens da Samarco. Só que são, até o momento em que escrevo, 11 corpos localizados e 15 pessoas que permanecem desaparecidas. É verdade que a dimensão do desastre vai bem além disso – o impacto sobre o meio ambiente é tremendo e pode ser que a região nunca se recupere. Mas é preciso ser fiel à realidade.

Eu não sei a quem interessa esse terrorismo de informações. Posso imaginar: no campo político, por exemplo, há vários possíveis beneficiários das teses do “quanto pior, melhor”. Você os encontra tanto na situação como na oposição, à direita e à esquerda – o mau caráter não é exclusividade ideológica de ninguém, está fraternalmente distribuído pela humanidade toda. O que eu sei é que não posso participar desse terrorismo. Sugiro que você faça o mesmo: busque fontes confiáveis de informação e ponha à luz as mentiras que você descobrir. Não compactue com o terror.

Terrorismo financeiro

Sobretudo, não guie decisões sobre o que vai fazer com seu dinheiro por informações cuja veracidade só pode ser atestada pelo amigo do amigo do amigo, se é que pode.

Se quiser tirar o dinheiro da poupança, tire para comprar algo que seja relevante para você ou para investir em uma aplicação que renda mais. Não porque alguém falou que o governo vai confiscar. Esse raio não vai cair duas vezes no Brasil.

Boas intenções

Ah, antes que eu me esqueça, mentira é mentira, mesmo quando tem boas intenções e traz mensagens positivas. Pegue, por exemplo, a inspiradora mensagem que anda circulando por aí como “as últimas palavras de Steve Jobs”. Ela é tão falsa quanto uma nota de três reais. Na verdade, sabemos quais foram as verdadeiras últimas palavras de Jobs. Sua irmã Mona contou no discurso que fez na sua cerimônia fúnebre, em 2008 – um discurso tocante que foi reproduzido pelo The New York Times (você pode ler no link http://goo.gl/MZoq1r, em inglês). Monossílabos. “Oh wow! Oh wow! Oh wow!”

O textão que andam espalhando por aí também não consta em nenhum livro ou registro sobre Jobs, conforme diz o site Snopes.com, especializado na investigação de boatos na internet (chamados de hoax, em internetês).

Tem gente que achou bonitinho. Se é o seu caso, pode passar adiante. Só não diga que é do Jobs...

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