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Sinto saudades do tempo em que o preço das ações da Petrobras era assunto apenas das páginas de Economia. Hoje o tema se estende pelas seções políticas – aqui na Gazeta, o noticiário da empresa sai quase que só nas páginas de Vida Pública –, mas poderia muito bem estar junto com as notícias policiais. A bandidagem revelada pela Operação Lava Jato está transformando em nada papéis de uma companhia outrora respeitada e respeitável.

Pode-se até dizer que a corrupção é uma “senhora bem idosa” na história do Brasil, mas essa senhora nunca foi respeitável. Sua companhia é indesejável para os cidadãos. Políticos e empresários não querem ser vistos perto dela. Não em público, pelo menos.

A Petrobras, entretanto, não tem conseguido se afastar dessa presença incômoda. Na segunda-feira, o comitê responsável pelo Índice Dow Jones de Sustentabilidade – um “pacote” de ações de empresas reconhecidas pelas suas boas práticas na área ambiental e social, do qual a companhia fazia parte desde 2006 – excluiu a companhia de sua listagem. E a Petrobras viu-se obrigada a divulgar um comunicado ao mercado dizendo que a decisão “foi baseada nas denúncias de corrupção investigadas no âmbito da Operação Lava Jato”. O comitê informou ainda que irá monitorar a evolução das investigações e o posicionamento da Petrobras ao longo deste ano, “podendo reconsiderar a participação da companhia a partir de 2016”.

Por mais que se esforcem para financiar iniciativas na área de sustentabilidade, empresas cuja gestão está envolvida com corrupção não podem ser endossadas pelas suas práticas ambientais e sociais. Essa é só mais uma face de um escândalo que está fazendo desmoronar a boa imagem da empresa. Contra isso, não há marketing que resolva nem discurso que conserte. Por mais que se tente.

Tentativas têm havido e elas parecem tentar torcer a lógica. A argumentação de que há uma orquestração contra a Petrobras é uma delas. Essa linha, que defende que há uma espécie de complô em andamento, cujo objetivo é desvalorizar a companhia para forçar a venda à iniciativa privada, não resiste. Afinal, a própria empresa admite que há perdas acumuladas em consequência de corrupção. E os acusados pelos malfeitos (para usar o eufemismo da moda) não são da oposição. Sendo assim, a lógica aponta que, se há um complô contra a Petrobras, ele só poderia estar sendo tramado debaixo das barbas dos membros do governo.

Nas entrelinhas, esse argumento surgiu na própria comunicação da empresa, nas peças publicitárias que dizem que a companhia se construiu “superando desafios”. Não deixa de ser verdade – em meados do século passado, seus opositores diziam que o Brasil não tinha petróleo e que os esforços da empresa seriam inúteis; depois a exploração de águas profundas foi criticada, e a empresa provou que todos estavam errados. Mas o contexto atual não é de desafios, mas de crimes. A empresa é apenas uma vítima deles, não está sendo acusada de nada. Essa é a campanha que o comitê de Ética do Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) mandou alterar.

Com as manifestações da semana passada veio uma outra torcida de lógica: a ideia de que é preciso uma reforma política para acabar com a corrupção. Talvez ela possa ser útil, mas o momento é de investigar os crimes e punir os culpados. Isso é bem mais fácil que criar uma Constituinte para fazer a reforma política.

O que isso tem a ver com as ações da Petrobras? Nada. Quanto antes limparem a empresa de corrupção e deixarem de transformá-la em pretexto para conversas mal-intencionadas, melhor.

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