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Transparência. Falamos dela, a defendemos, cobramos transparência dos políticos. Mas será que a colocamos em prática nas nossas vidas? Digo isso porque tenho ouvido histórias de pessoas que passaram por graves dificuldades financeiras, e mantiveram tudo em segredo da própria família, até que a situação se tornou insustentável. Isso é bem mais comum do que se imagina.

Esse tipo de situação costuma ocorrer com pessoas autoconfiantes, principalmente homens, que pensam ter o controle da situação. Só que nem sempre isso é possível. Cito um exemplo extremo, para ilustrar como isso acontece.

Em 1994, um brilhante operador do mercado de capitais da tesouraria do banco britânico Barings em Cingapura começou a usar uma conta especial da instituição para cobrir pequenos erros financeiros de sua equipe. Confiante, ele passou a ousar mais e, quando tinha perdas, compensava-as com essa conta secreta. Os prejuízos, no entanto, cresceram, e o jovem passou a fazer outras operações, uma mais arriscada que a outra, para recuperar as perdas. Não conseguiu. O banco – o mais tradicional da Grã-Bretanha à época – quebrou e o homem, Nicholas Leeson, foi preso em março de 1995.

Se as manobras feitas para esconder uma perda foram capazes de quebrar um grande banco, o que não podem fazer nas finanças da sua família? Transparência – admitir o erro e trabalhar para sanear o rombo que ele causou – não seria uma atitude mais saudável?

Algumas ideias para aplicar a transparência às contas da casa:

1) Controle compartilhado: a planilha com as despesas e receitas da casa deve ser compartilhada com os responsáveis financeiros da família (o casal, normalmente);

2) Alertas: algo deu errado? Perdeu o emprego? Levou prejuízo em um negócio? Conte imediatamente para a esposa (ou o marido). Se necessário, tome medidas para reduzir despesas até que a normalidade seja restabelecida;

3) Decisões em comum: se uma decisão financeira envolve uma soma importante, deve ser discutida. Não é possível comprar um carro ou um imóvel sem conversar antes com os outros responsáveis financeiros da família;

4) Sonhos de futuro: a escolha de um investimento tem a ver com os objetivos financeiros da família. Sonhem juntos. Assim fica mais fácil investir.

Mudando de assunto...

..., mas não muito, lembrei enquanto escrevia de um caso ocorrido em minha vida de repórter.

Há alguns anos, assisti a um comício de um candidato de oposição à Presidência do Paraguai. Foi uma experiência interessante: mais de uma hora de carro até chegar em uma vila bastante pobre, onde os aficcionados do tal candidato se reuniam em um campinho de futebol. Os discursos, inclusive o do candidato, foram todos em guarani – fiquei boiando.

Entretanto, logo comecei a perceber que, em meio ao palavreado de um idioma que não conhecia, brotavam expressões em espanhol. Quase sempre eram palavras do vocabulário particular da política, que, provavelmente, não tinham equivalente na língua de origem indígena. Expressões como "transparencia", "constituición" e "democracia", tão similares inclusive ao português, soavam nos meus ouvidos tão reconhecíveis como sinos em meio a um discurso inflamado que de resto não fazia sentido nenhum para mim.

Na maioria dos casos, os discursos políticos por aqui me lembram o que ouvi naquela manhã de garoa no departamento de Paraguarí. Blá-blá-blá democracia, blá-blá-blá transparência, blá-blá-blá-blá-blá combate à corrupção... Na hora de votar, é preciso separar o blá-blá-blá das intenções reais do candidato.

O chato é perceber que quase sempre sobra tão pouco.

Escreva!

Transparência na gestão pública pode ser bem parecida com a casa da gente. Também é preciso ter algum tipo de controle compartilhado das contas, alertas para mudar a política quando algo dá errado, tomar decisões baseadas em leis orçamentárias discutidas sem toma-lá-dá-cá. Votar é, também, dividir os sonhos de um futuro melhor para o país. Se quiser comentar essa ou outras questões, ou quiser mandar uma dúvida sobre finanças pessoais, escreva para financaspessoais@gazetadopovo.com.br.

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