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Como torcedor e fã de futebol, já vi muitos times perderem a vantagem em uma partida nos minutos finais. No ano passado, times aqui da capital perderam pontos importantes dessa forma, e no fim de semana aconteceu algo semelhante no confronto entre Chelsea e Aston Villa, pelo campeonato inglês. Um cochilo dos azuizinhos do Chelsea, aos 46 do segundo tempo, e o gol adversário saiu – o jogo acabou em 3 a 3.

Não sou comentarista esportivo, muito menos psicólogo, mas tenho um palpite a respeito de situações como essa. Fre­quen­temente, o relaxamento ou a euforia por uma vitória antevista é responsável pelos problemas. E, antes que o leitor se pergunte a que vem esse papo futebolístico, me explico: esses mesmos sentimentos estão presentes na forma como tratamos as nossas finanças.

Revisando 2010, você percebe que a vida econômica da nação foi só alegria. Uma goleada. Segundo estimativas, o Produto Interno Bruto, indicador que representa todas as riquezas geradas no país, deve ter crescido 7,54% no ano passado. Se for confirmado, será o melhor desempenho das contas nacionais desde 1985, época em que a moeda nacional ainda era o cruzeiro e na qual o crescimento econômico alimentava uma inflação que todos gostaríamos de esquecer (o IPCA daquele ano ficou em 242,2%; até que ficou barato, se comparado com os catastróficos 2.477% de 1993). O desemprego é o mais baixo dos últimos dez anos. Não é para comemorar?

Sim, os brasileiros têm todo o direito de estarem felizes. Só não podem descuidar da defesa, ou vão levar gol. Ou, nas palavras da economista Ana Paula Mussi Cherobim, da UFPR: "Só temos notícias boas na economia, por isso as pessoas estão se empolgando. Essa euforia é uma coisa boa, mas faz com que as pessoas gastem muito mais".

Há uma medida para essa euforia, que é o Índice de Con­­fiança do Consumidor, medido pela Federação do Comércio de São Paulo. O índice baseia-se em questionários e mede, entre outras coisas, a intenção de as pessoas fazerem novas compras no futuro próximo. A pesquisa é feita desde março de 1999. Em outubro de 2009, ele superou pela primeira vez os 150 pontos, e não baixou disso desde então. O recorde foi atingido em agosto de 2010, com 162,26 pontos. É a expressão matemática da euforia consumista que tomou conta do país. A torcida vibra.

É bom para o país que os brasileiros consumam. De uma forma ou de outra, um mercado forte traz benefícios para todos. Quando crescem as vendas de geladeiras, por exemplo, ga­­nham os funcionários das fábricas, os vendedores das redes varejistas de eletrodomésticos e as próprias empresas, que terão condições de abrir novas unidades para atender à demanda. Os empregados dessas companhias poderão consumir novos produtos e serviços – poderão almoçar fora mais vezes, pegar táxis, ir ao cinema. Tudo isso faz a economia rodar. Porém...

... É preciso também que esse consumo seja sustentável. Ba­­sicamente, isso significa que as contas feitas precisam ser pagas. Não que as pessoas queiram ser caloteiras de livre vontade, mas o fato de consumir por euforia leva a uma situação de risco, principalmente porque as compras estão baseadas no crédito e não são pagas à vista. Ou seja, são feitas com o dinheiro dos outros – dos bancos, das financeiras. Elas são, também, feitas sob a premissa de que tudo continuará bem. O problema: alguns dos fatores não estão sob o nosso controle. Dependemos, por exemplo, da economia internacional. Se a Europa e os Estados Unidos se recuperarem bem de suas crises, ótimo. Se os problemas se aprofundarem, as coisas podem ficar difíceis.

As empresas, quando fazem seus planos para o futuro, costumam trabalhar com diferentes cenários, e nunca fazem seus investimentos sem levar em conta as consequências de eventos negativos. Fazer isso não é pessimismo, mas responsabilidade. E uma maneira de não levar o gol de empate no finzinho.

Presidenta

Dilma Rousseff pode querer ser chamada assim – a mesma reivindicação, aliás, de Cristina Kirchner, na Argentina –, mas essa palavrinha é estranha de­­mais. Pode considerar um ato de desobediência civil, se quiser, mas esta coluna vai chamá-la sempre de presidente.

Resoluções

Fez alguma resolução de ano no­­vo na área financeira? Gos­ta­ria de compartilhar com os leitores? Escreva para financaspessoais@gazetadopovo.com.br. Apro­veite para enviar também seu comentário, sugestão ou dúvida à coluna.

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