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O sucesso (ou não) da tentativa do governo federal de forçar o sistema bancário a baixar as taxas de juros ao consumidor vai depender de duas variáveis intimamente ligadas: endividamento e elasticidade. Uma delas é conhecida, e o seu comportamento vinha assustando alguns economistas. A outra é território totalmente desconhecido.

Começando pelo número disponível: o endividamento das famílias brasileiras nunca foi tão grande quanto é hoje. Esse é um cálculo feito de maneira mais ou menos simples, pelo Departamento Econômico do Banco Central. Pega-se o valor somado das dívidas das pessoas físicas e divide-se pela renda total das famílias. Uma série histórica desse indicador (em porcentuais) está no gráfico abaixo deste texto. Observe como a linha sobe rápido, com pouquíssimos momentos de "trégua" nos últimos sete anos. Mau sinal.

O dado mais recente disponível é o de janeiro deste ano: dívidas referentes a empréstimos e financiamentos de todos os tipos comprometem 42,66% da renda das famílias brasileiras. É um recorde.

De uns quatro anos para cá o crédito tem subido muito no país. Tem sido mais fácil tomar empréstimos – tem até financeiras que fazem propaganda dizendo que não consultam os cadastros de inadimplentes. As novas concessões ajudam a elevar o endividamento. E ele cresce também por causa do efeito dos juros altos, que contribuem ao elevar o saldo devedor. Juntos, esses dois fatores têm um potencial explosivo.

O economista Luciano D’Agostini, professor do UniFAE e membro do grupo de pesquisa em Macroeconomia Estruturalista do Conselho Nacional de Pesquisa, analisou os dados e descobriu que, nos últimos anos, as dívidas vêm subindo à razão de 10% ao ano. A renda dos brasileiros também tem tido um crescimento consistente, mas bem inferior – 3% ao ano. Assim, se nada fosse feito, a tendência do endividamento total seria manter a escalada mostrada no gráfico. Pelas contas de D’Agostini, elas fechariam este ano em 47%, atingiriam 52% no fim de 2013 e, em dois anos, alcançariam 58%.

Não é ruim que as pessoas tomem crédito para comprar bens necessários. A questão é que, quanto maior o comprometimento da renda, mais "apertadas" ficam as contas. Isso porque continua sendo necessário pagar despesas cotidianas – alimentação, transporte etc. E há o risco de faltar recursos para alguma coisa.

Nesse cenário de aperto o governo toma a dianteira de sinalizar ao mercado que não aceita mais esse nível de juros. Há razões para isso: democracia bem estabelecida e uma estabilidade duradoura na economia nacional, atestada pelas agências de rating, que deram ao país grau de investimento. Essa parte também é conhecida: BB e CEF baixaram as taxas, na expectativa de que os bancos privados os sigam.

Aí entra a segunda variável. Para que a estratégia funcione é preciso que o correntista entre na jogada, exigindo das instituições que baixem os seus juros. E mudando de casa bancária, caso isso não aconteça. Em economês, chama-se essa inclinação do consumidor por produtos ou serviços de preço mais baixo de elasticidade preço. Até que ponto o brasileiro apresenta essa característica?

Até hoje não fomos testados nessa área. Trocar de banco no Brasil é um processo mais ou menos difícil e bastante chato. Além disso, muita gente ignora que, mesmo que receba seu salário por depósito em conta, pode escolher um banco diferente daquele com quem o empregador tem acordo. Funciona bem, e digo isto por experiência: há cinco anos recebo por um banco concorrente daquele que recebe a folha de pagamento aqui da Gazeta.

Pela reação das instituições financeiras à atitude dos bancos estatais, elas não acreditam que o cliente vai buscar taxas melhores. Ficaram todas na moita. A exceção é o HSBC, que, mesmo assim, mantém uma banda bastante larga de variação nas suas taxas. O cheque especial, por exemplo, varia de 1,39% ao mês (18% ao ano) a 9,98% ao mês (que equivale a macabros 213,1% ao ano). O piso é baixo, igual ao dos estatais. O teto é uma piada de mau gosto.

O economista D’Agostini é otimista. Diz que os bancos que não tomarem alguma atitude perderão clientes. Faz sentido: um dos fatores que mais influenciam na elasticidade preço é o seu preço em relação ao orçamento do consumidor. Quanto mais um produto ou serviço consome da renda disponível do cliente, maior será a chance de ele sair em busca de condições melhores.

Os perseguidos de Curitiba

Nos intervalos comerciais do episódio passado em Curitiba da série As brasileiras, exibido há duas semanas pela RPC TV, o banco Itaú exibiu uma peça publicitária com funcionários públicos paranaenses posando em locais como o shopping Estação, a Rua das Flores e uma estação tubo. O objetivo era "fisgar" os servidores, para convencê-los a migrar suas contas-corrente para a instituição. Uma semana depois, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal lançaram sua iniciativa de redução de juros ao consumidor. Para usufruir plenamente desses benefícios, é necessário mudar de banco.

Será que houve vazamento? Ou será apenas o início de uma nova fase na concorrência entre os bancos?

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E você? Trocaria de banco em troca de juros menores? Escreva para financaspessoais@gazetadopovo.com.br e conte.

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