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Cerca de 70% do custo das obras civis da futura usina nuclear Angra 3 correspondem a concreto, aço e fôrmas. Não será, então, complicado renegociar o contrato que foi assinado há muitos anos com a construtora Andrade Gutierrez.

Mais trabalhosa será a renegociação com fornecedores de equipamentos encomendados e ainda não fabricados, especialmente os nacionais. Algumas dessas empresas só existem praticamente no papel, como é o caso da Cobrasma. Embora tenham perdido capacidade para produzir o tipo de equipamento necessário a uma usina nuclear, elas têm um contrato em mãos, como vencedoras de licitações promovidas na época em que o programa nuclear se propunha a construir nada menos que nove centrais semelhantes à Angra 2.

A própria Nuclep, uma estatal criada para fabricar equipamentos pesados destinados ao setor nuclear, com tecnologia alemã, ficou parada muito tempo e tem custos de produção elevados. Recentemente perdeu para a Mitsubishi japonesa uma concorrência em que se habilitaria a fornecer uma nova tampa do reator de Angra 1, mesmo sendo beneficiada por redução de impostos. E o fornecedor alemão da tecnologia (que era a antiga KWU, do grupo Siemens) virou francês, e agora se chama Areva.

Como toda essa renegociação deve consumir uns seis meses, a obra de Angra 3 vai começar pela concretagem dos prédios auxiliares, que não abrigarão equipamentos envolvidos diretamente na geração de energia nuclear.

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O déficit em transações correntes do balanço de pagamentos, sempre visto como uma ameaça – e a reação é compreensível, pois, historicamente, as grandes crises da economia sempre tiveram alguma relação com problemas no câmbio, tem funcionado agora como uma espécie de pára-raio.

Não fosse esse déficit, com o fluxo de investimentos estrangeiros que o Brasil vem tendo, estariam sobrando algo como US$ 60 bilhões no mercado. Como o regime de câmbio é flutuante (desde 1999), tal enxurrada levaria a uma valorização descomedida do real, e para evitar isso talvez o Banco Central fosse obrigado a ficar comprando todo o excesso de moeda estrangeira para incorporá-lo às suas reservas.

De certa forma isso chegou a acontecer em 2006 e 2007, antes de estourar a crise imobiliária americana. E o resultado é que a acumulação de reservas (iniciativa, aliás, correta das autoridades monetárias, pois naquele momento foi importante criar um anteparo para proteger a economia brasileira de turbulências financeiras internacionais) teve como contrapartida um aumento da dívida pública interna. Indesejável porque essa dívida custa caro para o Tesouro, já que as taxas de juros no Brasil são muito altas.

O déficit em transações correntes fez com que, no lugar de sobrarem US$ 60 bilhões no mercado, tal volume se reduzisse para algo como US$ 20 bilhões a US$ 30 bilhões, bem distribuídos ao longo do ano, o que tem propiciado um ajuste na cotação do dólar em reais. A dívida pública, por sua vez, parou de crescer, pois a acumulação de reservas cambiais pelo Banco Central não é mais intensa, e não é preciso emitir títulos para pagar o excedente de dólares.

O déficit, então, contribuiu para que a economia brasileira sofresse menos pressões inflacionárias, decorrentes do montante de moeda em circulação que resultaria da conversão de dólares em reais. E o melhor de tudo é que esse déficit tende a ser revertido. Parte da redução do saldo da balança comercial (mercadorias), que explica um pedaço do déficit em transações correntes, é conseqüência do petróleo.

A produção brasileira está para dar um salto, mas como isso não se concretizou ainda, a disparada nas cotações internacionais do produto fez com que o país gastasse mais US$ 8 bilhões na importação de óleo. É uma despesa que tende a desaparecer, e até virar receita, com exportação de petróleo brasileiro e seus derivados.

O outro pedaço do déficit em transações correntes é explicado por uma avalanche de remessas de lucros, que só foi possível devido a enormes ganhos obtidos na Bovespa até janeiro deste ano (o mercado de ações brasileiro foi um dos que mais se valorizaram no mundo nesse período) e a lucros extraordinários obtidos por indústrias e bancos estrangeiros no Brasil, que têm socorrido financeiramente suas matrizes. Só que esse dinheiro vem sendo reciclado no mercado e retorna ao país sob a forma de novos investimentos diretos, o que tem tornado o balanço de pagamentos (contas externas) autofinanciável.

Em suma, ao menos desta vez o déficit em transações correntes veio em bom momento. Problemático seria se ele fosse irreversível.

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Há um clima de forte apreensão entre os produtores agropecuários de Mato Grosso do Sul, especialmente da região que fica ao sul da capital, Campo Grande. Toda essa área, com 12 milhões de hectares, correspondente a um terço do território estadual, está sob avaliação por antropólogos para uma possível demarcação de reservas indígenas. Dos 12 milhões, 3 milhões de hectares se enquadrariam nos critérios que têm sido usados pelos antropólogos. No entanto, muitas dessas áreas já são ocupadas por fazendas, com pastos e lavouras, há quase um século.

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