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Banqueiros, desde priscas eras, despertam nos demais agentes econômicos um sentimento de repulsa. Assim, quando os bancos obtêm lucros elevados, geralmente causam uma onda de indignação. Mas, sejam eles amados ou não, a economia mundial só se livrará da atual crise financeira quando a maioria dos bancos e empresas do setor voltar a ser bem lucrativa.

E a razão principal é que as operações financeiras estão, de alguma forma, atreladas ao patrimônio líquido dos bancos. Se a maior das instituições tem lucro, o patrimônio líquido aumenta e as operações financeiras podem expandir-se de maneira saudável. Mas, se o sistema bancário fica no vermelho – como está acontecendo lá fora –, o patrimônio líquido se reduz, e as operações financeiras se retraem.

Esse ajuste pode ser desastroso e recessivo para o conjunto da economia. Dependendo do tamanho da perda, os acionistas podem reforçar o capital do banco para evitar que o patrimônio líquido se reduza. Porém, quando a crise é de todo o sistema, o ajuste tende a ser dramático porque, ao comprimirem suas operações financeiras no curtíssimo prazo, as instituições acabam se desfazendo de créditos e negócios preciosos que, no futuro, as ajudariam a recuperar lucros. O que sobra em carteira são as operações das quais os bancos não conseguem livrar-se, e elas tornam-se nova fonte de prejuízo, realimentando o ciclo negativo.

Por isso, é que os governos têm procurado socorrer os bancos, seja com reforço de capital ou tentando separar o joio do trigo, ou seja, absorvendo temporariamente as carteiras de títulos e operações ruins. O socorro se tornou necessário porque ninguém quer comprar ações dos bancos em crise enquanto os preços em bolsas estiverem em queda livre. Então, a alternativa de capitalizar tais instituições financeiras praticamente desapareceu.

Socorro governamental é paternalismo? Privilégio condenável para os bancos? Não, pois infelizmente sem esse tipo de auxílio a eles a economia toda naufraga, arrastando junto quem não teria nada a ver com isso.

Nessa crise, o Brasil se diferencia do que ocorre no exterior exatamente porque aqui os bancos (ao menos os grandes) continuaram lucrativos, e, por consequência, seus patrimônios líquidos aumentam, e os deixam em condições de multiplicar as operações financeiras.

Por incrível que pareça, temos todos agora de torcer para que os bancos continuem com lucros polpudos em seus balanços. E que lá fora os bancos consigam recuperar-se o mais rapidamente possível.

Essa é mais uma maldição dos banqueiros em represália ao sentimento de desprezo dos demais agentes econômicos: dependemos sempre da prosperidade deles, em qualquer circunstância.

Nem por isso, o país deve deixar de se indignar com o nível absurdo das taxas de juros que insiste em se perpetuar na economia brasileira.

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Visitei semana passada o Parque Tecnológico da Ilha Fundão, uma iniciativa da UFRJ para permitir o florescimento de pequenas empresas cujas atividades tenham relação direta ou indireta com o mundo universitário. Novos prédios estão surgindo lá, quase sempre compartilhando temporariamente espaço com pesquisadores da Petrobras, até que as novas instalações do Cenpes fiquem prontas, em 2010. As obras de ampliação do Cenpes, que envolvem um investimento de mais de R$ 1 bilhão, já são visíveis para os que cruzam as vias internas da Ilha do Fundão.

O número de empresas incubadas no parque tecnológico está crescendo de 16 para 50. Cerca de duzentos mestres e doutores trabalham nesses projetos, o que é um índice altíssimo, e acaba atraindo outros empreendimentos empresariais relacionados com pesquisa, especialmente nos setores de petróleo e recuperação ambiental. Já com áreas reservadas no parque para instalar centros de pesquisa, a Schlumberger e a FMC, ambas do setor de petróleo, ocuparão provisoriamente prédios já existentes até que os seus fiquem prontos.

Com as oportunidades se multiplicando na Ilha Fundão, o clima de abandono da região começa a se dissipar e, assim, a UFRJ vai removendo resistências para ampliar o seu câmpus principal. Até mesmo o Colégio de Aplicação (que funciona próximo à Lagoa Rodrigo de Freitas, em área apertada) pode ser transferido para lá. Fundamental para o aprimoramento pedagógico da universidade, o colégio é ainda um dos melhores do Rio, especialmente quando comparado a outras instituições públicas de ensino médio na cidade.

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As agências internacionais classificadoras de risco não devem alterar o conceito do Brasil, já promovido a grau de investimento (mas ainda no primeiro degrau, distante de atingir o topo AAA), nos próximos dois a três anos. Porém, com toda essa crise financeira no mundo, nenhuma delas sequer cogitou rebaixar a economia brasileira. O país permanece no que eles chamam de perspectiva estável.

Vão ficar esperando resultados concretos da exploração do pré-sal, do qual a Petrobras promete extrair 1,8 milhão de barris diários de petróleo em 2020 (e mais de 500 mil em 2015). Se todo esse óleo for confirmado, o Brasil será tratado a pão-de-ló pelas agências.

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