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A crise no Ministério dos Transportes, que provocou a queda de titulares do primeiro escalão da pasta, entre os quais o ministro Alfredo Nascimento, estende-se e expõe o governo além do esperado pelo Palácio do Planalto. Está difícil encontrar um substituto. Interessados existem aos montes; a preocupação é encontrar alguém sem amarras, disposto a colocar seu nome à prova. O senador Blairo Maggi foi um dos que não toparam o desafio – ou melhor, preferiu não enfrentar a opinião pública, a mídia e os adversários políticos. Mas por que o ex-governador do Mato Grosso declinou? Ele nunca escondeu suas pretensões e, de certa forma, afinidades com o ministério. Quem conhece o Centro-Oeste conhece também quais foram suas prioridades enquanto no comando do Poder Executivo do segundo maior estado produtor agrícola do país: as estradas.

No governo Maggi, o Mato Grosso viu suas rodovias passarem por uma verdadeira revolução, fruto de investimentos federais, no caso do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e das parcerias público-privadas entre governo estadual e produtores rurais. A BR-163, principal rodovia do estado, continua com pista simples e sem comportar o fluxo de veículos leves e pesados que cresce ano a ano, em toda a sua extensão. Contudo, é preciso reconhecer – mas não se conformar – que há menos buracos e mais sinalização.

Mas é nas estradas secundárias que se percebem as mudanças mais expressivas. Em um território com a extensão do Mato Grosso, elas têm tanta importância quando a 163. É nas vias de acesso que se percebe a presença do governo estadual e do produtor rural, que também coloca a mão no bolso, destina parte da produção ou do seu valor para a construção ou a recuperação das estradas. O Mato Grosso continua longe, é verdade, mas as rodovias melhoraram.

A obstinação do senador pelas estradas tem diversas razões. Pode-se dizer que há interesse próprio ao priorizar o transporte, o que não deixa de ser verdade. Até porque estamos falando de um dos maiores produtores mundiais de soja, uma das commodities mais cobiçadas do planeta. O benefício, porém, é coletivo. A qualidade da malha viária e as distâncias dos centros de consumo ou exportação têm forte impacto no custo de produção do agricultor mato-grossense. Então, pelo interesse público, fica justificada a atenção às estradas no Mato Grosso. O reconhecimento pelas rodovias veio acompanhado de críticas à falta de atenção à saúde e educação. Mas, como a base da economia é o agronegócio, o descontentamento de uma parcela mais urbana da população não impediu sua eleição para o Senado da República.

Outra forte relação de Maggi com os transportes está no Porto de Itacoatiara, às margens do Rio Amazonas, construído em parceria com o governo amazonense. O terminal é utilizado para exportação de parte da soja produzida no Oeste do estado. A produção de Campos de Julio ou Sapezal, por exemplo, segue de caminhão até Porto Velho (RO), e depois em barcaças pelo Rio Madeira até Itacoatiara. Se no caso das rodovias sempre houve relação do Maggi governador com os órgãos federais de infraestrutura dos transportes, no terminal fluvial há uma sociedade do Maggi empresário com o governo estadual. Acredito serem interesses mais públicos que privados, mas que por conveniência ou interesses políticos e econômicos podem ser confundidos. Uma razão nobre, técnica e não de competência, para recusar o comando da pasta.

Como ministro, Blairo Maggi teria ainda de enfrentar, expor e explicar uma série de relações financeiras que o empresário e agricultor tem com os órgãos e agentes públicos no financiamento de suas atividades exclusivamente privadas. Na teoria, transações legais, mas que podem sugerir favorecimentos quando o público se confunde com o privado. Um ônus imputado aos homens públicos, mesmo àqueles de ilibada conduta e acima de qualquer suspeitas. Assim, o agricultor que virou governador e foi ao Senado fica agora conhecido como aquele que não quis ou não pôde ser ministro. Não por vontade própria, mas devido às relações políticas e econômicas, interesses públicos e pessoais, muitas vezes legítimos, mas que por questões éticas e morais devem ser evitados.

Não tenho dúvidas de que um agricultor nos Transportes seria como mais um ministro da Agricultura. De que o principal gargalo que limita a expansão e a competitividade do agronegócio brasileiro teria um olhar mais técnico, econômico e social. Mas, como nem sempre a escolha técnica é a escolha ética ou moral, não será desta vez que vamos ver um agrônomo e produtor rural em um dos ministérios mais relevantes – depois da Agricultura e da Fazenda – para o agronegócio brasileiro. Agrônomo, aliás, formado no Paraná. O gaúcho Blairo Maggi foi diplomado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), no início da década de 80, quando sua família trabalhava na agricultura em São Miguel do Iguaçu, no Oeste do estado.

De qualquer forma, melhor assim – para ele, para o agronegócio e para o país. Pelo menos por enquanto.

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