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Os R$ 172 bilhões que foram anunciados na semana passada e que serão disponibilizados a partir de julho para o Plano Safra 2013/14 das agriculturas empresarial e familiar devem turbinar a próxima temporada. Em relação ao ano passado, um valor adicional de quase 30% ou quase R$ 40 bilhões. A considerar o volume de recursos, o governo fala em um ciclo com potencial para 190 milhões de toneladas de grãos, um crescimento de apenas cinco milhões de toneladas sobre 2012/13. Contudo, uma previsão de acréscimo modesta, a julgar a variação porcentual e absoluta dos recursos.

No último ano foram R$ 133,2 bilhões que representaram um acréscimo de pouco mais de 8% sobre os R$ 123,2 bilhões de 2011/12. Ao estabelecer uma relação direta, percebemos que foram R$ 10 bilhões a mais que, por consequência, foram suficientes para incrementar em pelo menos 15 milhões de toneladas a produção de grãos, para 185 milhões de toneladas. Isso tudo apenas de um ano para outro. Agora, com mais crédito e juros mais baratos, em especial Pronamp e Pronaf, qualquer previsão, por mais modesta que seja, não pode projetar uma safra com potencial produtivo inferior a 200 milhões de toneladas.

Com cenário de crédito favorável, o produtor tem basicamente três caminhos a seguir, que passam pela ampliação de área, tecnologia, máquinas e equipamentos, incluindo armazéns. Isso é investimento, que gera endividamento. Um investimento alavancado em recursos e programas com juros baixos, carências e longos períodos para pagar. Ainda assim são dívidas. Programadas, é verdade, mas que comprometem a capacidade de endividamento e a receita da atividade. Uma das novidades do Plano Safra é aumento do limite de crédito por CPF, o que amplia a capacidade de contração, mas também de comprometimento.

Isso não significa que mais recursos, menos juros e mais fôlego ao produtor sejam medidas ruins. Ao contrário, tenho certeza que o campo vai responder e multiplicar essa aposta do governo no agronegócio. A preocupação é com o crédito irresponsável e desmedido. A contratação deve ser consciente e responsável, não apenas pelo tomador como pelo agente financeiro. A política de seguro rural do atual Plano Safra tem condições de dobrar a área segurada. Ainda assim a proteção atinge 10 milhões de 55 milhões de hectares. Ou seja, o risco continua grande. Qualquer frustração climática pode transformar um grande investimento em uma grande dívida.

A comparação pode parecer distante, mas vale o alerta. A política do crédito fácil para financiar veículos, imóveis e outros bens no Brasil tem sustentado o consumo e, de certa forma, evitando um Produto Interno Bruto (PIB) negativo. Mas o preço está aí, com a inadimplência crescente e a volta do fantasma da inflação. Não vamos esquecer-nos das dívidas quase que impagáveis do agronegócio das décadas de 80 e 90. Com o mercado aquecido, a evolução tecnológica e da própria política agrícola brasileira, muita gente deu a volta pode cima e superou os tempos difíceis. Mas teve quem quebrou ou então aqueles que carregam passivos e renegociações até hoje.

O crédito então é bom, é bem-vindo e os programas começa sinalizar uma política agrícola de longo prazo. É o caso da linha de armazenagem, que prevê um investimento estratégico e escalonado para os próximos cinco anos, quando o país pretende zerar a relação entre produção e capacidade estática de armazéns. O seguro, idem. Para uma país que há 10 anos tinha praticamente nada de sua área agrícola segura conseguir proteger 10% da extensão cultivada é uma grande conquista. A oportunidade está posta e os instrumentos para aproveitar esse bom momento também. Resta agora consciência e responsabilidade para o uso racional e sustentável desses bilhões de reais que podem tirar muitos produtores do anonimato, bem como remeter tantos outros ao anonimato.

Mercado

Tomados os devidos cuidados, acredito que a situação dentro de casa está bem encaminhada à próxima temporada. Eu só não vi nenhuma ação concreta, clara e objetiva para dar vazão ao potencial de superprodução de grãos que se aproxima. E nem estou falando de infraestrutura de armazenagem e escoamento. Bem ou mal as rodovias, ferrovias e portos ganharam uma atenção extra numa preocupação que deve se perpetuar aos próximos anos. A peça mais delicada desse quebra-cabeça e que fragiliza todos os elos da cadeia é o mercado. Produzimos para abastecer o ambiente doméstico, mas principalmente para exportar. Competitivo ou não no mercado internacional, o fato é que somos um país exportador. E um grande exportador. Mas ainda temos dificuldade em acessar e consolidar parceiros lá fora no mesmo ritmo em que avança nossa produção.

A multiplicação dos R$ 172 bilhões depende, necessariamente, dessa política de comércio internacional. Excedente de produção no mercado interno significa preço baixo, com baixa ou nenhuma rentabilidade. Uma situação que por consequência afeta a capacidade de pagamento do setor, reduz o consumo e esfria a economia agrícola, com reflexos imediatos e desastrosos na Balança Comercial, no PIB e na inflação. Um agronegócio forte requer, sim, um Plano Safra forte. Acima de tudo, uma política internacional capaz de dar sustentabilidade à economia que vem do campo.

Crédito bom é crédito farto e barato? Não! Crédito bom é crédito justo e na medida, consciente e responsável.

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