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Os extremos climáticos verificados no ambiente urbano, com enchentes que interditam estradas, provocam mortes e deixam famílias desabrigadas, também têm seu efeito perverso no campo. Enquanto falta umidade em algumas regiões, sobra em outras. A consequência vai do atraso no plantio, por causa da falta de água, à preocupação com o desenvolvimento das lavouras, por excesso de chuva.

Algumas regiões, em especial no Sul do país, sofrem com o desabastecimento, principalmente de hortifrutigranjeiros, pela dificuldade de tirar a produção do campo. O estrago provocado nas estradas rurais e rodovias com a queda de pontes e de barreiras faz com que o alimento, altamente perecível, se perca ainda na lavoura ou no barracão da fazenda. No caso dos grãos, a chuva limita o escoamento e o embarque nos portos do produto destinado à exportação.

Para esta semana, a boa notícia é que a chuva deve dar uma trégua. A notícia ruim é que o estrago foi tanto que o sol não será suficiente para resolver os problemas. Serão necessárias algumas semanas de sol e de muito trabalho para restabelecer as condições mínimas para que o campo volte a operar normalmente. Os rios precisam baixar, o solo precisa enxugar, as pontes ser reerguidas e as estradas liberadas.

Uma pergunta difícil de responder é o tempo que isso vai levar. A resposta está em duas variáveis, que têm a ver com o clima e a agilidade do poder público – ou concedente, no caso das concessões de rodovias – no restabelecimento do tráfego. Está na hora da prova dos nove do programa Patrulha no Campo, desenvolvido pelo governo do estado e coordenado pela Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento (Seab) e pela Codapar, a Companha de Desenvolvimento Agropecuário do Paraná.

Desde que foi lançado, em abril de 2013 este talvez seja o momento que o Paraná mais precisa das patrulhas rurais. Mas será que o programa está ativo? Em tese, sim. Na prática, porém, parece que há uma ou algumas dificuldades de operação. A começar pela condição financeira dos municípios. Muitos deles nem sequer têm recursos para abastecer os equipamentos. Isso quando os equipamentos ainda estão em condição de uso.

Nos últimos dias vários prefeitos do interior do estado procuraram secretarias estaduais em busca de apoio na recuperação das estradas rurais. Na maioria dos casos, a reivindicação era de recursos para compra de óleo diesel, neste momento o insumo básico e fundamental para a recuperação das estradas e, de certa forma, da atividade econômica desses municípios, que têm base no campo. E se o campo não consegue chegar na cidade, ou vice-versa, o prejuízo acaba sendo comum a todos, seja no ambiente urbano ou rural.

As regiões castigadas pelas chuvas precisam, portanto, mais do que a Defesa Civil. É preciso socorrer, prioritariamente, as pessoas em risco. Não podemos, porém, esquecer do campo, da produção que vêm do campo, sob pena de ampliar o risco e o efeito colateral das chuvas à economia das pessoas, dos estados e municípios. Mas é preciso agir logo, imediatamente, no sentido de minimizar os efeitos negativos que vêm do clima.

A semana será de trégua na chuva. Mas ela promete voltar e permanecer, com menor ou maior intensidade, durante todo o primeiro trimestre de 2015. O que nos leva a pensar não apenas na recuperação dos estragos provocados até aqui, como também em desenvolver ações de prevenção e, como nunca, ficar alerta e de prontidão, no campo e na cidade. Porque o El Niño está aí, ativo e configurado em sua plenitude. E não deve ir embora tão cedo.

Poderia ser pior

Esse vem chuva, vai chuva, com regiões mais secas e outras mais encharcadas, ambiente característico do El Niño, afeta sim a condição das lavouras e deve impactar em rendimento das principais commodities agrícolas produzidas no país. Contudo, nada que afete o avanço na produção. Devemos esperar uma redução no potencial produtivo inicialmente estimada para o ciclo atual, o 2015/16. Ainda assim, uma variação positiva em relação à temporada 2014/15. Ou seja, o volume total da produção de grãos do Brasil será maior.

A principal cultura, a soja, deve render 100 milhões de toneladas, de uma produção total estimada para a campanha atual de 215 milhões de toneladas. E o que é melhor, produção em alta, com preço também em alta. A soja atinge picos e estabelece alguns recordes acima de R$ 80/saca na referência de preço no Porto de Paranaguá. O milho, então, com o produto escasso no mercado, passa de R$ 30/saca.

Claro que nem tudo são flores. A condição econômica do país eleva os custos de produção e diminui a rentabilidade. Por outro lado, porém, é essa mesma condição econômica que estabelece um câmbio favorável à exportação e remunera sobre maneira nossa produção, descolando para cima a cotação interna do mercado internacional.

Em resumo, está difícil, mas poderia ser pior. Ainda bem que o Brasil e o Paraná têm o agronegócio. O desafio agora é fazer com que os governos enxerguem essa correlação, direta e indireta que existe entre esses dois mundos. Socorrer o campo é socorrer a economia, é atender o urbano e o rural.

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