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Informação e análise, tendências e estratégias, no campo e no mercado. Essa talvez seja uma das principais necessidades do agronegócio moderno que foram identificadas durante o 3.º Fórum de Agricultura da América do Sul, realizado na última semana em Curitiba. Balizados pela ideia central de uma sociedade urbana de economia rural, os debates a partir de temas transversais ou então mais específicos, quando da abordagem de cadeias produtivas, mostraram uma América do Sul frágil e desarticulada quando o assunto é comunicação. Sob o pretexto da soberania, a concorrência e o interesse comercial fragmentam o bloco sul-americano e colocam os países em condição de vulnerabilidade no ambiente internacional.

Um dos pontos mais sensíveis está no comércio internacional. Com exceção do Chile, praticamente todas as economias sul-americanas têm dificuldades enormes de encontrar um modelo eficaz de atuação no cenário internacional. E o mais lamentável é que na maioria dos casos o problema não está necessariamente no ambiente econômico-comercial. Mas em políticas públicas equivocadas – ou na ausência delas – que não enxergam o setor como agente ativo da economia, que não conseguem reconhecer no agro o viés de desenvolvimento econômico e social, típico de um setor que está no campo e na cidade, no comércio e no serviço, no mercado doméstico e internacional.

Talvez falte um entendimento melhor para um tratamento que tenha como propósito não uma política de governo, mas de Estado. Isso porque estamos falando de produção primária, sem adição de valor? Sim! É produção primária. Mas que também é vocação natural, que tem escala e remunera a base da economia. Como também se foi o tempo da falta de valor agregado. Exportar commodity como soja e milho é condição comercial, imposta aos países da América do Sul. Contudo, transformar e agregar valor tem sido uma constante e muda rápida e radicalmente o perfil do produtor e da produção sul-americana.

Basta olhar para o Brasil. Não embarcamos apenas soja e milho. Mas farelo, óleo e carne. Somos o maior exportador de soja em grão, como também o maior embarcador mundial de carne de frango. Do milho começamos a fazer etanol e da soja, biodiesel. Dos dez produtos mais exportados pelo país, oito são do agronegócio. A considerar o cenário econômico doméstico e macroeconômico internacional, pode ser que a pauta do campo feche 2015 com nove entre os dez produtos mais embarcados pelo Brasil. Isso porque não temos estratégia. Temos produção, volume e diversidade.

Não que a solução seja atuar em conjunto, a partir de blocos comerciais. Até porque o obsoleto e quase fracassado Mercosul não nos deixa boas recordações. Mas é preciso encontrar um modelo mais eficaz, que dê respostas rápidas e atenda ao dinâmico e competitivo comércio internacional. O Brasil e os países sul-americanos são grandes fornecedores, líderes no mercado global de muitos produtos. Mas continuam atuando como meros fornecedores. E espectadores de um mundo que ousa e evolui em acordos e benefícios mútuos entre nações, governos e economias que colocam o estratégico e o Estado antes do político e do interesse que não é comum.

O questionamento mais amplo sobre comunicação, no entanto, não se restringe à cadeia produtiva do agronegócio. Também Há uma lacuna na relação, no entendimento e na interação entre os mundos urbano e rural que precisa ser preenchida com informação. Em um mundo de uma população cada vez mais urbana, a economia que vem do campo assume responsabilidade cada vez maior no abastecimento e na segurança alimentar, mas também no emprego, na renda e desenvolvimento.

No Brasil, por exemplo, somos mais de 200 milhões de habitantes, de uma população predominantemente urbana. Quase 85% vivem nas cidades. Uma migração muito rápida, a considerar que em 1950 a população rural era muito maior e em 1980 quase 33% viviam no campo. Mas será que o Brasil, a América do Sul e o mundo, que experimentam um movimento similar, se prepararam para essa verticalização? O fórum disse que não. Que apenas uma pequena parcela da sociedade está devidamente informada e consciente dessa mudança, dessa transformação que mexe com o campo e com a cidade e que precisa ser melhor esclarecida e comunicada, para que seja sustentável, do ponto de vista socioeconômico e ambiental.

É preciso, portanto, ampliar o debate da comunicação como um dos elos da cadeia produtiva, essencial ao futuro do agronegócio sustentável, moderno e globalizado, no campo e nas cidades.

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