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A queda do superintendente da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa) na semana passada expõe um dos maiores gargalos das estruturas portuárias no Brasil. Para ser eficiente, um porto precisa ter infraestrutura e tecnologia, quesitos em que Paranaguá fica devendo. Mas, para garantir eficiência, precisa de gestão profissional, técnica e qualificada. As filas frequentemente verificadas no acesso ao terminal paranaense, em especial na época de escoamento da safra de grãos, são resultado de um soma de fatores. Eles consideram variáveis como clima, mercado, estrutura de recebimento e embarque e, sobretudo, a gestão dos processos e operações por parte da administração do porto.

A saída de Airton Maron, que atua há mais de 30 anos nesse ambiente, coincidiu com uma série de problemas que novamente causaram filas e expuseram, mais uma vez, a fragilidade do porto. A saída de Maron ainda não se justifica tecnicamente, uma vez que ele gozava da aprovação de alguns dos principais segmentos produtivos e industriais do estado que operam o mercado de exportação e têm Paranaguá como principal canal de escoamento. A decisão de substituir o superintendente assume então um caráter mais político, que o governo tenta justificar com critérios técnicos quando cobra mais agilidade e competência na condução de um dos portos mais importante do país.

O empresário Luiz Henrique Dividino é bem vindo, tem aprovação do segmento exportador e tem comprovada experiência na área, como diretor-presidente dos terminais da Ponta do Félix, em Antonina. Quero acreditar que a saída de Maron, assim como a escolha de Luiz Henrique não foram decisões tomadas da noite para o dia. Mas planejadas, coordenadas e conduzidas com antecedência. Quem sai pode até ter sido pego de surpresa, assim como o mercado, que certa forma também foi surpreendido pelas mudanças e pela maneira repentina como elas ocorreram, quase que um efeito sem causa, uma vez que ninguém, pelo menos de maneira explícita, condenava ou reprovava a gestão de Maron.

De qualquer forma, não vamos nos enganar. A mudança no comando não vai resolver os problemas estruturais do porto. A Appa precisa de gestão, mas principalmente de investimentos. Ampliação e modernização são condições ao resgate da competitividade de Paranaguá, que nos oitos anos do governo anterior perdeu espaço para outros terminais, como Santos (SP) e São Francisco (SP), por exemplo.

A responsabilidade e a atuação do superintendente são a vitrine, estão em exposição. Contudo, não vamos esquecer que elas devem ser partilhadas com o governo. Não tenho dúvida de que a indicação do superintendente deve ser técnica, como foi com Maron e certamente com Luiz Henrique Dividino. O suporte político e econômico, no entanto, quando avaliamos a real e latente necessidade de investimentos, deve ser garantido pelo poder público.

As mudanças, então, sejam elas por quaisquer motivos, que ainda precisam ser esclarecidos, devem pelo menos gerar reflexão. E o momento de discussão não poderia ser melhor. O Porto de Paranaguá experimenta um crescimento, ou melhor, uma recuperação expressiva na movimentação de commodities agrícolas. Nos dois primeiros meses do ano, os embarques de granéis sólidos aumentou em torno de 40%, para 2 milhões de toneladas, em relação ao mesmo período do ano passado. A safra do Paraná e da Região Sul tiveram quebra na produção devido à estiagem, o que nos leva a crer que embarcadores tradicionais, como o Mato Grosso, por exemplo, voltam a priorizar Paranaguá. Além disso, temos ainda os paraguaios, que miram o porto paranaense como principal destino da sua produção agrícola destinada à exportação.

Que a mudança no porto seja consciente e sustentável. Que venha acompanhada de investimentos e prioridades por parte do estado. Que não seja apenas um nome, mas uma equipe e um governo comprometido com a agricultura – que está entre os principais usuários dos terminais – e o desenvolvimento econômico e social do Paraná, que direta e indiretamente depende do Porto de Paranaguá.

O desafio do Paraná, do superintendente da Appa e do governo é garantir o pleno atendimento e o reposicionamento de Paranaguá como um porto moderno, eficiente e capaz de atender a crescente demanda do mercado exportador brasileiro.

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