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A bolsa, os brokers e a formação de preço continuam em Chicago. Mas isso em teoria. Porque na prática, como nunca, oferta e demanda, preço e mercado serão não apenas influenciados, mas definidos a partir da América do Sul.

Com a colheita nos Estados Unidos praticamente encerrada, o Brasil reforça suas apostas no próximo ciclo, amplia área, investe em tecnologia e intensifica o plantio da temporada 2012/13. Mais do que depositar suas fichas em área recorde, com potencial também recorde de produção, na safra que começa o país consolida de fato sua posição como maior exportador e agora primeiro produtor mundial de soja, à frente dos norte-americanos. Agora, porém, em um cenário mais definido, onde oferta e demanda reforçam os fundamentos e limitam os movimentos de especulação.

Por causa da estiagem – uma das mais severas das últimas décadas –, os produtores dos EUA deixaram de colher mais de 100 milhões de toneladas de milho e 10 milhões de toneladas de soja. Incluindo outras culturas, como trigo, por exemplo, o volume perdido para a seca no maior produtor mundial é equivalente a 70% de toda a produção brasileira, de quase 166 milhões de toneladas em 2011/12 ou 60% do total inicialmente estimado para 2012/13, de 180 milhões de toneladas.

O novo ranking do Brasil, como principal player da soja, contudo, não se deve exclusivamente à estiagem que castigou os Estados Unidos. Não há dúvida de que essa variável contribuiu, mas para acelerar um processo natural, que já estava em curso. É possível afirmar que dificilmente a agricultura brasileira deve deixar esse posto. Há todo um investimento em infraestrutura, com abertura e conversão de novas áreas, sustentado não apenas na variável factual da estiagem norte-americana. Mas em uma estratégia que mira o mercado internacional, com demanda aquecida, estoques em baixa e cotações sustentadas no curto e médio prazo, em especial pelas próximas duas a três safras. São ações e definições não apenas de oportunidade, como de planejamento estratégico do agronegócio brasileiro.

Na semana passada, em roteiro pelo Corn Belt, o cinturão do milho nos EUA, era raro encontrar uma lavoura de soja. As poucas lavouras de milho, principalmente em Iowa, o maior estado produtor, também estavam com os dias contados. Em relatório de hoje, o USDA, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, deve mostrar a colheita em fase de conclusão e confirmar a quebra histórica no milho e uma pequena recuperação na soja. São números que abrem espaço ao Brasil não apenas no mercado da oleaginosa como do cereal. A menor produção leva os EUA a racionar a destinação das commodities agrícolas pelo menos até a próxima temporada, o que inclui a redução nas exportações e a necessidade de aumentar as importações.

Como resultado, não apenas para a América do Norte como para outros continentes, este ano os portos brasileiros devem embarcar 70% mais milho que em 2011. A previsão da Expedição Safra Gazeta do Povo é que o Brasil encerre 2012 com exportações de quase 17 milhões de toneladas de milho e 35 milhões de toneladas de soja grão. O volume expressivo de milho, que coloca o Brasil como 2º exportador mundial do cereal, atrás dos Estados Unidos, tem relação com a produção menor na Argentina.

Por fim, na atual conjuntura, nem mesmo a indefinição em relação ao clima será capaz de comprometer o desempenho da safra na América do Sul. Possíveis surpresas climáticas, como nas últimas duas safras, podem até reduzir o potencial produtivo, mas não em escala suficiente capaz de provocar mudanças significativas na oferta ou na cotação de soja e milho no próximo ano. A bolsa, os brokers e a formação de preço continuam em Chicago. Mas isso em teoria. Porque na prática, como nunca, oferta e demanda, preço e mercado serão não apenas influenciados, mas definidos a partir da América do Sul.

Na edição de amanhã, a equipe de agronegócio da Gazeta do Povo, que retornou hoje dos Estados Unidos, traz mais detalhes sobre a consolidação da safra norte-americana e como isso mexe com o mercado e influencia a nova temporada no Brasil.

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