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Acostumado a navegar em águas tranquilas, o agronegócio sentiu o peso da crise, mas atravessou o ano turbulento sem grandes dificuldades. Em uma economia em colapso, que encolheu mais de 3%, o setor ganhou renda, ampliou os embarques e conseguiu fechar 2015 perto da estabilidade.

Mas, 2016 chega carregado de incertezas e anuncia o fim da bonança. A agropecuária deve sentir os efeitos da recessão como outros setores da economia brasileira. Porém, terá de se ajustar. O ciclo virtuoso alimentado nos últimos anos pelo tripé safras cheias, crédito farto e consumo aquecido foi quebrado e, se quiser voltar a navegar em águas mais calmas, o agronegócio precisará de cautela e eficiência para atravessar a tempestade.

Com estoques mundiais recompostos, os fundamentos de oferta e demanda indicam que os preços internacionais tendem a continuar operando em níveis mais baixos em 2016. Em contrapartida, o câmbio, que foi o grande propulsor da renda agrícola em 2015, deve continuar amortecendo ao menos parte da desvalorização das cotações em dólar. Projeções que apontam taxas de R$ 3,90 a R$ 4,50 ao longo do ano afastam a possibilidade de descasamento cambial (insumos comprados a um dólar alto e produção vendida a uma cotação mais baixa).

Por outro lado, os custos de produção inflados pelo real desvalorizado exigirão uma gestão muito mais rigorosa do negócio para fazer as contas fecharem. Até porque a fatura dos fortes investimentos realizados pelo setor nos últimos anos, com compra de maquinário e construção de armazéns, por exemplo, começa a impactar no caixa do produtor e poderá trazer dificuldades de pagamento das parcelas anuais.

O aperto no crédito, aliás, deve ser o calcanhar de Aquiles do agronegócio em 2016. As torneiras que encharcaram o setor com recursos baratos nos últimos anos e que viabilizaram mudanças importantes como a consolidação do Arco Norte começaram a se fechar no segundo semestre de 2015 e vão continuar cerradas. Pelo risco maior de inadimplência, os recursos para investimento serão justamente os mais escassos, o que pode impactar não apenas os resultados de 2016, como os dos próximos anos.

O maior baque deve ser sentido no setor de logística. Foi, afinal, regado a crédito farto e barato da era da bonança que o antigo projeto brasileiro do Arco Norte conseguiu começar a sair do papel. Em apenas dois anos, os portos da metade de cima do mapa ampliaram de 13% para 21% a sua participação no escoamento de soja, milho e farelo exportados pelo Brasil. Um salto que dificilmente vai se repetir em um cenário recessivo em que incertezas econômicas e políticas desestimulam investimentos de longo prazo.

Mesmo porque as exportações brasileiras de granéis, que vinham crescendo a uma taxa média de 10% ao ano, podem desacelerar o crescimento diante de uma competição mais acirrada da Argentina. Após a posse de Maurício Macri, em dezembro, as políticas internas que colocaram o país vizinho à margem do mercado nos últimos anos começaram a ser desconstruídas. A redução (no caso da soja) e eliminação (para os demais produtos como trigo e milho) das retenciones tende a incentivar produtores a liquidar os estoques de grãos acumulados nas últimas três temporadas. Em paralelo, a extinção da política de controle cambial confere aos argentinos uma vantagem comparativa já bem conhecida dos brasileiros: uma moeda desvalorizada que torna o produto nacional mais competitivo no exterior.

Safra em revisão

Os técnicos e jornalistas da Expedição Safra terminam hoje a tabulação dos dados dos estados já visitados pela equipe. O Indicador Brasil, que será lançado no caderno Agronegócio desta terça-feira (5), vai dimensionar o tamanho do impacto da falta de chuva no Centro-Oeste e Centro-Norte na colheita brasileira de verão. Com trabalhos atrasados e plantio fora da janela ideal, estados como Mato Grosso e Piauí devem puxar para baixo a produção nacional de soja, que no início da temporada tinha potencial para mais de 100 milhões de toneladas.

Os contratempos enfrentados pelos produtores do Sul, onde o problema tem sido o excesso de umidade no final do ciclo, no entanto, só devem aparecer no Indicador de colheita da Expedição. Em janeiro, as equipes voltam a campo para o balanço da temporada. Além das culturas de verão, a sondagem incluirá também o milho safrinha, que corre risco de ocupar área menor que a planejada inicialmente pelos produtores devido a atrasos no plantio da soja em Mato Grosso e, possivelmente, na colheita no Paraná.

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