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A venda de consórcios de imóveis tem crescido muito. Aumentou 35% no primeiro semestre deste ano em relação a igual período de 2005. Há dois fortes argumentos para a venda de consórcios imobiliários. Em primeiro lugar, não há juros e, em segundo, as prestações são mais baixas do que em um financiamento tradicional.

Discordo desses dois argumentos. Um consórcio é muito diferente de um financiamento. É como se você estivesse comparando tomates com alfaces. No consórcio, realmente não há juros. Afinal, a administradora não lhe empresta nada. Além disso, ninguém lhe garante quando você será o premiado. A data da realização do sonho da casa própria vira uma incógnita cuja resposta pode ser até 15 anos.

No financiamento, o cliente deixa de pagar aluguel para pagar juros. Só que a compra da casa própria é garantida na hora. Com o pacote anunciado na semana passada, surge a esperança de que os juros finalmente caiam. Trata-se de uma interessante oportunidade para quem paga aluguel alto. Quanto mais pobre for a pessoa, mais pressa ela deve ter para trocar o aluguel pelos juros dos financiamentos imobiliários. Ao contrário, quanto mais rica ela for, menos urgente deve ser essa troca. Afinal, sobram imóveis para ricos e faltam imóveis para pobres.

Quanto ao argumento de que, nos consórcios, as prestações são mais baixas, alerto que os azarados que serão sorteados no final do grupo terão de pagar mais de 10 ou 14 anos de aluguel, esperando pacientemente o dia da vitória. Aluguel mais prestação do consórcio geralmente supera, em muito, a parcela mensal do financiamento.

Consórcio é um sistema em que azarados do final da fila emprestam dinheiro sem juros para os sortudos do início da fila. A assimetria é enorme. É muito bom para quem tem sorte e muito ruim para quem não tem. E a probabilidade de você ser o último da fila é exatamente igual à probabilidade de ser o primeiro.

Mas por que se vendem tantos planos de consórcio no país? Porque muitos clientes precisam de uma prestação para juntar dinheiro e porque todo mundo que eu conheço considera-se um sortudo, isto é, imagina ser premiado rapidamente. Eu nunca encontrei alguém que me dissesse: "Vou entrar num consórcio porque quero comprar um apartamento daqui a 15 anos."

Na prática, o otimismo em excesso vai levar milhares de brasileiros a enfrentar o risco de emprestar dinheiro sem juros e ainda ter que pagar mais de 15% de taxas para os administradores.

Em tempo: o problema da assimetria é reduzido no caso de planos mais curtos, como no consórcio de automóveis e de eletroeletrônicos.

O leitor pergunta

– No longo prazo, qual a rentabilidade anual que você espera ao aplicar em fundos de ações? E em fundos de renda fixa?

– O gráfico revela a rentabilidade média anual de alguns investimentos entre 1968 e 2006. Os valores foram deflacionados pelo IGP-DI. Observe que essas rentabilidades são baixas, comparadas com os juros atuais. Penso que um dia o país voltará ao normal e que as taxas do gráfico venham a prevalecer.

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