• Carregando...

O mercado de capitais pode dar uma solução honesta, rápida e eficiente para a crise aérea. Um dos principais problemas enfrentados pela Infraero nos maiores aeroportos é o excesso de demanda. Ironicamente, o pesadelo nada mais é do que o desejo de qualquer empresário: longas filas de clientes. Quem desembarca em Auckland, na Nova Zelândia, é brindado com cafezinho e chá grátis. Se a primeira impressão é a que fica, nada mais agradável. Já a última impressão dói um pouco no bolso. Uma fila se forma para pagar a taxa de embarque. Só que ela anda rápido. Tudo para que o dinheiro entre logo no bolso dos sócios do aeroporto, sem risco de calote de companhias aéreas. São 53 mil acionistas muito bem tratados que viram o valor de mercado de suas ações multiplicar-se quase 7 vezes nos últimos cinco anos. O P/L do aeroporto é de 39, um valor alto, justificado pela solidez do negócio e por seu bom potencial de crescimento.

O Aeroporto de Auckland já é a terceira maior empresa da Bolsa da Nova Zelândia e hoje tem valor de mercado de US$ 3,2 bilhões. Detalhe: os maiores acionistas são duas prefeituras. Entre os outros 53 mil sócios, encontram-se famosos bancos internacionais e cidadãos anônimos. Todos devem estar satisfeitos com a boa transparência dos relatórios financeiros, disponíveis no site www.auckland-airport.co.nz.

Do outro lado do mundo, o aeroporto de Congonhas tem números operacionais superiores. Em 2005, atendeu 17 milhões de passageiros e 228 mil aeronaves. Lá em Auckland, em 2006, circularam 11 milhões de passageiros e 160 mil aeronaves. Ou seja, o Aeroporto de Congonhas poderia valer quase o dobro do neozelandês. Temos mais volume, mais potencial, porém muito menos eficiência.

Sugiro um avanço: a Infraero poderia lançar fundos imobiliários lastreados por seus principais aeroportos. Ela poderia se dar ao luxo de vender só a metade das cotas se quisesse manter o controle societário. Numa época em que empresas são lançadas na Bovespa a valores bilionários, aposto que cotas dos principais aeroportos brasileiros fariam muito sucesso, desde que o governo garantisse condições adequadas de governança corporativa, como já ocorre na Petrobrás, na Copel, na Cemig e no Banco do Brasil. Como brinde, teríamos um choque de gestão nos principais aeroportos.

A Infraero faria um dos melhores negócios do mundo. Em poucos meses, colocaria dezenas de bilhões no cofre ao vender caro uma parte de suas propriedades em Congonhas, Santos Dumont, Porto Alegre, Galeão, Cumbica, Brasília, Curitiba, etc. e compraria terrenos distantes e muito baratos para construir ou reformar boas pistas de pouso.

Essa alternativa parece-me mais eficaz do que a sempre adiada abertura de capital da Infraero. Com os ricos dividendos a serem pagos por esses fundos imobiliários, a Infraero receberia ainda, mensalmente, recursos para cumprir sua função social de manter aeroportos em regiões pouco desenvolvidas. Sobraria bastante dinheiro, que o Tesouro Nacional repassaria à Aeronáutica, para esta comprar modernos equipamentos de controle do tráfego aéreo e para capacitação de pessoal.

BNDES, Tesouro Nacional, CVM e Banco do Brasil, em rápidas reuniões, podem desenhar melhor o processo. É o mínimo que se pode fazer em memória das centenas de vidas sacrificadas pelas ineficiências do passado.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]