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Pode até ser que não aconteça. Mas, continuando nesta toada, há uma grande chance de esta semana acabar com o barril de petróleo acima dos US$ 100. Ainda que se fale que parte disso é especulação do mercado, há riscos concretos. O principal deles é o fato de não haver um substituto à altura do petróleo, o que dá um enorme poder a esta fonte de energia. A pergunta que o mundo se faz cada vez mais é como poderá continuar crescendo com um cenário de energia tão cara.

Na semana que passou, o Rio viveu um exemplo local do que é não ter energia suficiente para todo mundo. Faltou gás. Por um dia, algumas indústrias tiveram que interromper ou diminuir sua produção. Na época do apagão, o Brasil inteiro viveu essa situação, e o crescimento do país foi afetado.

Nas contas do professor Roberto Schaeffer, da Coppe/UFRJ, o petróleo só vai ultrapassar o preço a que chegou no segundo choque, no fim dos anos 70, quando superar os US$ 100. Para outros especialistas, a marca já foi batida quando ele atravessou os US$ 90. Independentemente dos valores, os tempos agora são outros. E isso deve ajudar o mundo a não ter que reduzir muito seu ritmo, mesmo com os preços de sua principal fonte de energia lá no alto.

— Na época do segundo choque do petróleo, a importância dele como gerador de energia, nas indústrias, era bem maior. Hoje elas consomem eletricidade que pode vir ou não do petróleo. Também usam óleos pesados, como coque ou óleo combustível, que são muito baratos, então essa variação no preço não tem tanto impacto — explica o professor.

Contudo, mesmo quase 30 anos depois, a realidade é que a economia mundial ainda cresce com base em um combustível fóssil e extremamente poluente. O pior é que hoje se tem a noção de que a transição para outros combustíveis será bem mais lenta do que se pensava.

– A curto e médio prazos, não há substituto. Entre as dez maiores companhias do mundo, quatro são de petróleo e quatro automobilísticas, ou seja, a economia está amarrada nele. Antes de 2030, talvez 2050, não deve haver nenhuma grande novidade.

Tem mais: atualmente, grande parte do consumo de petróleo é para transportes. Em países como a China, por exemplo, deve aumentar bastante o número de carros. Hoje, com 1,3 bilhão de habitantes, são 30 milhões os automóveis no país. Nos EUA, com uma população de 300 milhões, são 260 milhões de carros. De agora até 2030, 85% do crescimento da demanda mundial por petróleo deverá vir dos países em desenvolvimento.

Com tamanha dependência por todos os lados, soa estranha a idéia de que o mundo pode crescer com um petróleo tão caro.

No entanto, o professor Roberto Schaeffer acredita que não é preciso ficar tão preocupado com essa alta, pois ela não permanecerá. E não apenas porque hoje se depende um pouco menos de petróleo. Há outras razões: o preço alto estimula o aparecimento de novas fontes; a própria Opep, se o barril subir demais, pode aumentar sua produção; vem crescendo a participação de outras fontes de energia.

O que ele levanta como a nova grande questão para o setor energético é o fator ambiental. Isso porque os estudos têm mostrado que o mundo não pode continuar consumindo tanto combustível fóssil.

Os tempos podem ser outros agora, mas, sem ter encontrado uma opção energética à altura, o temor de que o mundo diminua muito seu ritmo por problemas com o petróleo persiste. É preciso encontrar logo alternativas. E, claro, das que não destruam o planeta.

Para terminar: mais um pouco de energia

Já que o tema energia – por motivos vários – não sairá tão cedo das preocupações do país e do planeta, retomemos o assunto.

Na quinta-feira, dia 8, o Congresso Nacional vai discutir o "Consumo e Produção Sustentável de Energia Elétrica", um seminário apoiado pelo WWF-Brasil. Um dos objetivos é tentar entender por que, afinal, não é maior no país o uso de energia renovável não convencional. Há várias perguntas sem resposta a respeito desse tema. Por exemplo: em um país onde venta tanto e faz tanto sol, quais são os impeditivos para um uso maior da energia solar ou da eólica?

Normalmente o argumento é de que o gasto não compensa. No caso da eólica, isso já está deixando de ser verdade. Com o aumento da escala, os geradores têm ficado bem mais baratos. Países como Alemanha e Dinamarca têm intensificado o uso. Para a solar, a justificativa é semelhante. Mas uma volta por alguns bairros mais populares da Turquia desmente essa tese. Praticamente todas as casas têm aquecedor solar para água sobre o telhado. Em um ano, a economia na conta de energia compensa o custo de compra e instalação.

O WWF preparou uma agenda elétrica para o Brasil. Nela, diz-se que o aquecimento solar da água é o terceiro maior potencial de economia de energia do país. Alguns outros dados:

Os chuveiros e os aquecedores elétricos consomem cerca de 8% da eletricidade produzida no Brasil.

Em China, Austrália, Nova Zelândia e Europa, o uso de aquecedores solares cresce, ao ano, respectivamente, 27%, 23%, 23% e 11%.

No Brasil, entre 2000 e 2002, na crise de energia, o uso de aquecedores solares cresceu mais de seis vezes.

Esses aquecedores são menos poluentes. Uma pesquisa mostrou que eles emitem 60% menos CO que outros tipos de aquecedores.

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