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Quando Kirchner, o marido, assumiu o poder, em maio de 2003, a Argentina estava em péssimos lençóis. Havia perdido, no auge da crise, entre 2000 e 2002, 15% do seu PIB; em dólar, o Produto Interno Bruto nominal se reduziu à metade. O desemprego chegou a alcançar os 22% em 2002, e a inflação bateu os 41%.

De 2003 para cá, o país coleciona os seguintes números de crescimento: 8,7%, em 2003; 9%, em 2004; 9,1%, em 2005; e 8,5%, em 2006. E, em 2007, a expectativa é de que possa chegar aos 7,5%. Uma taxa que tem causado muita inveja nos vizinhos, como o Brasil, por exemplo. O desemprego está agora abaixo dos 10%.

Diante desses dados e de muitos outros, como a queda no porcentual da população que vive abaixo da linha de pobreza, não se pode negar que a Argentina está hoje muito melhor economicamente que nos dois anos pré-Nestor Kirchner. No entanto, ele não se livrou de algumas armadilhas que agora ameaçam causar problemas a Kirchner que chega ao poder.

Uma das que têm sido mais comentadas é a questão da inflação. A sra. Kirchner evita (ops!) tratar do assunto, mas ele é sabidamente preocupante. Tanto que tem sido um dos temas prediletos de seus adversários, que brigam para conseguir disputar com ela num improvável segundo turno.

A inflação na Argentina está alta e com tendência de elevação. Quando essa alta de preços começou a incomodar, há alguns meses, Néstor Kirchner optou por, em vez de tentar resolver o problema, controlar o índice. Alguns institutos argentinos mostram que a inflação em 12 meses estaria hoje em torno dos 17%, enquanto a taxa oficial indica metade disso.

O consumo tem crescido bastante. Em média, entre 8% e 10%. Se a oferta não conseguir responder a esse crescimento, poderá ser mais um ponto de pressão inflacionária.

Por falar em preços, a nova administração dos Kirchner terá que tomar decisões importantes quanto à cobrança das tarifas. Nestor escolheu por controlar alguns preços, como, por exemplo, o da energia. Deu no que deu: o investimento caiu em vários setores – ou não cresceu a contento. O resultado mais dramático foram os apagões em várias cidades do país, e o risco de corte de fornecimento para as indústrias.

Um outro preço controlado é o da gasolina. O reflexo foi que a Argentina, outrora exportadora de petróleo, passou a importar o produto. Sem dinheiro para investir, a produção de petróleo tem sido cadente.

Olhando os dados de Investimento Direto Estrangeiro, o que se vê é que a Argentina está melhor agora, mas voltou ao patamar de 2001. Este ano, deverá receber US$ 4,5 bilhões de investimento líquido; muito menos que o Brasil.

– O país já chegou a ter um Investimento Direto Estrangeiro de US$ 20 bilhões. A porção da Argentina diminuiu em relação aos demais países, diz Ricardo Amorim, do WestLB.

Os anos Kirchner I foram beneficiados pela alta do preço das commodities, que garantiu boas vendas para o exterior e também um bom retorno para o governo através de impostos sobre as exportações. Amorim acredita que Cristina Kirchner poderá aumentar esses impostos para tentar melhorar a situação fiscal do país, que vem piorando. Neste ano de eleição, houve um aumento de 50% nos gastos correntes do governo. Não necessariamente são gastos permanentes, mas também não são em investimento.

Fato é que, quem assumir a Argentina para este novo mandato, terá uma coleção de pedras no caminho. Néstor Kirchner resolveu alguns problemas, mas uns tantos outros apenas jogou para debaixo do tapete.

Para terminar: uma proposta estapafúrdia:

Nesta última semana, uma declaração do governador do Rio, Sérgio Cabral, deu o que falar. O governador disse – e depois desdisse – que o aborto "tem tudo a ver com violência". Segundo ele, o padrão de

número de filhos por mãe na Rocinha é africano, e isso "é uma fábrica de produzir marginais". Fora o fato de ter se equivocado com os dados, o governador viu apenas um aspecto dos óbitos violentos.

Mortes no trânsito são tão violentas quanto homicídios. As estatísticas mostram que são os jovens os que mais se envolvem em acidentes de trânsito. Na semana passada, na divulgação de uma pesquisa em que analisou três problemas ligados à juventude (consumo de drogas, o fato de estar preso e as mortes por acidentes de trânsito), o economista Marcelo Neri afirmou que, "em todos esses problemas, o principal personagem é o jovem homem solteiro. A diferença é que, no caso das prisões, é um jovem homem solteiro e de baixa renda, enquanto, no caso do consumo de drogas e nos acidentes de trânsito, é um rapaz de alta renda".

Ou seja, juntando as duas informações, se a lógica do governador estivesse certa, poderia se pensar em lançar também uma campanha de controle de natalidade para reduzir as – já baixas – taxas de fecundidade da classe alta. Com menos jovens de elite, teríamos menos acidentes de trânsito; menos consumo de drogas.

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