• Carregando...

Até onde o preço do petróleo é capaz de subir sem que isso cause uma recessão mundial? Essa pergunta tem sido recorrente em tempos do barril acima dos US$ 88. Mas não são muitos os que acham que a freada no crescimento virá daí; pelo menos, por enquanto. De 2002 para cá, o preço quadruplicou, mas isso não impediu o mundo de crescer – e muito – nos anos recentes. Há algumas possíveis explicações para a economia não ter se abalado: o não repasse do preço para os derivados, e a própria mudança no perfil dos setores mais dinâmicos da economia dos países desenvolvidos.

O preço do petróleo tem subido cada dia um pouco mais; sem trégua. A questão da vez é o risco político na fronteira da Turquia, mas já foi no Irã, na Rússia, entre tantos outros. O resultado disso é que está deixando de ser uma sandice imaginar uma cotação próxima aos US$ 100. A barreira dos US$ 90 – ainda não rompida – é bastante simbólica, pois, atualizado para hoje, é onde chegou o preço no segundo grande choque.

Há muitas diferenças entre aquela época, há quase 30 anos, e agora. E são elas que podem estar fazendo com que o mundo não tenha parado de crescer atualmente.

Na segunda grande crise do petróleo, diante do aumento brusco no preço, a decisão dos Estados Unidos foi subir fortemente os juros, para tentar segurar a inflação. Na época, os EUA importavam 85% do petróleo consumido. A recessão que se seguiu atingiu não apenas os EUA como vários países em todo o mundo. Depois desse processo, o preço caiu muito. Só no fim dos anos 90 é que começou, novamente, a seqüência de altas. Os especialistas não imaginavam que ela iria tão longe; tanto que as previsões eram de que o petróleo estaria este ano na casa dos US$ 60.

Agora, em vez de subir, os juros americanos – por outros motivos, é bem verdade – caíram. Isso pode ajudar a empurrar a procura por petróleo no maior consumidor mundial da fonte. No entanto, também é bom lembrar que a demanda, nos últimos anos, tem crescido pouco nos países desenvolvidos; tem aumentado menos que o PIB.

Uma outra diferença do momento atual é quanto ao modelo da economia. No fim dos anos 70, os países desenvolvidos eram mais dependentes do petróleo como fonte de energia de suas indústrias. Hoje, nos Estados Unidos ou nos países europeus, o setor mais dinâmico é o de serviços. Ou seja, eles sofrem menos o impacto direto da alta do petróleo.

Um outro fator que pode explicar o cenário atual, em que o petróleo sobe e o mundo cresce, é o não repasse dos preços para os derivados. Não é só no Brasil, onde a queda do dólar tem justificado a manutenção do preço da gasolina, que isso acontece. Até mesmo nos EUA a gasolina não tem subido. Quando os combustíveis não aumentam de preço, isso ajuda a economia a continuar crescendo.

Há um problema inegável na relação oferta-demanda, que está apertada, mas isso não mudou muito nos últimos 3 anos. As altas sucessivas parecem ser mesmo fruto de muita especulação de papéis.

Ontem a Opep, responsável ainda por 40% da produção mundial, reclamou dos especuladores. Ela está preocupada: se o preço subir demais, o consumo pode acabar caindo. E nem ela nem ninguém quer, no meio da festa, amargar uma recessão.

Pára ou continua?

Hoje o mercado vai especular o dia inteiro. Contudo, a decisão do Comitê de Política Monetária sobre se os juros caem ou não só deve ser anunciada à noite. A maioria aposta num corte de 0,25 ponto porcentual, mas sem consenso entre os integrantes do Copom.

O Modal Asset levantou boas e más notícias da economia no comparativo com a última reunião, no início de setembro.

Algumas boas: risco-Brasil caiu de 206 para 159; Ibovespa subiu 15%; dólar caiu 7,7%.

Algumas ruins: índice de commodities agrícolas aumentou 4,5%; o das metálicas, 11,7%; petróleo, 15%.

Isso indica que há espaço para corte nos juros, mas é preciso ficar bem atento com o risco do aumento dos preços internacionais.

No seu "Informativo Econômico Semanal", o Itaú também destaca a melhora do cenário, com a redução na tensão nos mercados financeiros no exterior. E afasta o temor de que a alta nos alimentos possa contaminar a inflação. Afirmam os analistas do banco que, "apesar de elevado, o impacto deste choque agrícola sobre a inflação foi pontual e sem efeitos secundários sobre os demais preços da economia".

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]