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Momento romântico em Heavy Rain: cada ação do jogador interfere na história, modifica o desfecho e altera a carga dramática | Divulgação/Visceral Games
Momento romântico em Heavy Rain: cada ação do jogador interfere na história, modifica o desfecho e altera a carga dramática| Foto: Divulgação/Visceral Games

Ficha técnica

Heavy Rain

- Plataforma: PS3

- Produtora: Quantic Dream

- Categoria: Aventura

- Preço: R$ 159

- Pró: Aponta uma alternativa na jogabilidade dos jogos de ação

- Contra: Apresenta alguns momentos de tédio

Vamos começar a coluna desta semana com a informação menos relevante. Sim, Heavy Rain, lançamento exclusivo para Playstation 3, tem os melhores gráficos já aplicados em personagens em um jogo eletrônico. Mas esse é o tipo de discussão que só interessa um pequeno grupo de entusiastas viciados em imagens em alta resolução. O foco desta coluna continua sendo a fusão entre experiência e narrativa. E sobre isso temos muito a falar.

Os jogos de ação, como Uncharted 2 e Call of Duty 4: Modern Warfare 2, podem ser divididos, do ponto de vista da jogabilidade, em dois grupos: os que abusam das "cut scenes", aqueles filmes que entrecortam os jogos, e os que eliminam este recurso completamente. Uncharted 2 está na primeira categoria. A cada cinco minutos o jogo é interrompido com uma animação que auxilia no desenvolver da história, tornando a experiência mais cinematográfica. Já Modern Warfare 2 é do estilo que obriga a interação durante todo o tempo em que o disco estiver rodando no console. Existem apreciadores dois lados. Este colunista, contudo, acredita que jogo é para ser jogado e não assistido.

Uma terceira via se prenuncia neste abismo dicotômico. Nela está Heavy Rain, que muitos classificaram como um filme interativo. O diretor-executivo da Quantic Dream, desenvolvedora do game, afirma que a classificação é errônea. "Heavy Rain é uma história jogável, que pode ser alterada, torcida, descoberta. Uma história única, tornando-se sua", explicou conceitualmente em entrevista ao site Destructoid. Em outras palavras, o lançamento da Quantic Dream é mais uma jornada num ambiente controlado do que uma sequência linear de ações, como a maioria. "É uma história visual que pode ser afetada por suas ações", completou.

O roteiro, que tem mais de duas mil páginas, bebe da mesma fonte dos clássicos "thrillers". Os quatro personagens principais se veem envolvidos com um assassino em série, conhecido como Origami Killer e que faz vítimas somente quando há chuvas torrenciais, daí o nome do jogo. Nas primeiras horas, interagimos com Ethan Mars, casado e pai de dois filhos. Um dos filhos desaparece e inicia-se uma investigação para ver se o caso tem relação com o assassino. Uma jornalista, um agente do FBI e um investigador particular são os outros três personagens que serão controlados para se desvendar os acontecimentos. Como o The New York Times descreveu, é um enredo "noir inspirado nos mestres do cinema como Hitchcock, Kubrick and David Lynch".

Alguns leitores podem estar se perguntando: muito bonito, mas como funciona? A resposta não é muito fácil e só é plenamente entendida quando se coloca o joystick na mão. Quem jogou Indigo Profecy no Playstation 2, uma espécie de embrião de Heavy Rain, conseguirá entender melhor. Nada acontece sozinho na tela. O começo do jogo, de uma simplicidade incrível, mostra Ethan deitado em uma cama. E ele não sairá de lá até que o jogador assuma as rédeas. Para cada ação do personagem é necessária interação do jogador. Precisa levantar da cama? Coloque o direcional para cima. Para escovar os dentes (o jogo é repleto de atividades desnecessárias) use o sensor de movimento e balance o controle de um lado ao outro. Como se pode notar, o jogador é cúmplice em todas as ações, até nas mais banais. A precisão dos comandos também interfere no resultado. Por exemplo: pressionar rapidamente o botão quando se está fazendo a barba pode causar algum tipo de ferimento. Por isso, deve-se dosar a manipulação do joystick para atingir resultados variados. Uma porta pode ser aberta delicadamente ou com força apenas tomando como base a pressão aplicada.

Entre tantas ações possíveis em um ambiente o foco pode ser facilmente perdido. A dica é sempre escutar (ou ler) o que o personagem está pensando. A partir daí abre-se um leque de opções (em formato de nuvem) do que poderá ser feito para se prosseguir na história. Quase tudo pode ser tocado ou modificado, desde os personagens não jogáveis até louça no armário. À revelia, excertos do enredo principal vão cruzando com os passos dados pelo jogador. O objetivo é encontrar o filho desaparecido de Ethan e, consequentemente, prender Origami Killer. Mas, assim como o ambiente é de extrema interação, a história também vai sendo mudada conforme as escolhas feitas. Por isso, seria equivocado afirmar que é um filme interativo, pois existem consequências múltiplas para os finais possíveis. A interatividade afeta a narrativa. Heavy Rain, no entanto, tem muito do cinema, pois a forma encontrada para ação é feita de um amontoado de pequenas "cut scenes", o que acaba criando um fluxo de imagens editadas que fica no limite entre uma obra fechada (filme) e um jogo eletrônico.

A escolha na jogabilidade baseada em microações eleva a carga dramática da trama, que, por incrível que pareça, se transforma em uma boa história, coisa rara no mundo dos videogames, e não entedia com minutos de não interação, como no caso de Uncharted 2. Para o NYT, o jogo aponta para o futuro do entretenimento adulto (não estamos falando de pornografia). Se a previsão de alguns especialistas se tornar real, os videogames devem se tornar o principal produto cultural nas próximas décadas. Neste cenário, Heavy Rain se coloca na vanguarda e tem tudo para criar escola.

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