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A turbulência no mercado lhe deixou com medo? Bem, pois deveria. Está claro que a crise econômica que começou em 2008 de modo algum acabou.

Mas há outra emoção que você deve sentir: raiva. Pois o que estamos vendo agora é o que acontece quando pessoas influentes exploram uma crise, em vez de tentarem resolvê-la.

Há mais de um ano e meio – desde que o presidente Obama escolheu o déficit, não o desemprego, como o foco central do "Discurso sobre o Estado da União" – que temos um diálogo público dominado por preocupações orçamentárias, enquanto ignoramos o desemprego. A necessidade supostamente urgente de redução de déficits tem dominado tanto o discurso que, na segunda-feira passada, em meio ao pânico do mercado, Obama dedicou a maioria de seus comentários ao déficit, em vez do claro e presente risco renovado da recessão.

O que faz com que isso seja tão bizarro foi o fato de que os mercados estavam dando sinais, bastante claros, de que o desemprego, e não o déficit, é o nosso maior problema.

O que o mercado dizia – quase gritando – era, "Não estamos preocupados com o déficit! Estamos preocupados com a economia enfraquecida!" Pois uma economia enfraquecida significa tanto taxas baixas de juros quanto uma falta de oportunidades de negócios, o que, por sua vez, significa que as obrigações do governo se tornam um investimento atraente mesmo com rendimentos muito baixos. Se a desvalorização da dívida dos EUA teve qualquer efeito que seja, foi o de reforçar os medos de que políticas de austeridade enfraqueçam ainda mais a economia.

Então, como acabou que o discurso de Washington foi dominado pelo problema errado?

Republicanos linha dura, claro, tiveram um papel nisso. Embora eles não pareçam se importar de verdade com os, eles descobriram que papaguear sobre os déficits era uma maneira útil de atacar programas do governo.

Mas nosso discurso não teria saído tanto dos eixos se outras pessoas influentes não estivessem tão ávidas para mudar o assunto, tirando os empregos do foco, mesmo diante de uma taxa de desemprego de 9%, e para roubar a crise em nome de suas agendas políticas preexistentes.

Basta olhar as colunas de opinião de qualquer grande jornal, ou ouvir a qualquer noticiário, e você provavelmente encontrará algum centrista auto-proclamado declarando que não há correções a curto prazo para nossas dificuldades econômicas, e que a coisa responsável a ser feita é focar em soluções a longo prazo, e, em particular, na "reforma dos direitos" – isto é, cortes na Previdência Social e no sistema de saúde Medicare. E, quando se encontra alguém assim, deve-se ter ciência de que essas pessoas são um grande motivo pelo qual estamos em tamanhos apuros.

Pois o fato é que agora a economia precisa desesperadamente de uma correção a curto prazo. Quando você tem uma ferida aberta que sangra profusamente, você precisa de um médico que a costure, não de um que lhe dê uma aula sobre a importância de se manter um estilo de vida saudável ao envelhecer. Quando milhões de trabalhadores capazes e dispostos estão desempregados, e o potencial econômico irá desperdiçar em torno de um quase $1 trilhão por ano, você precisa de criadores de políticas que trabalhem com uma recuperação rápida, não de pessoas para lhe dar uma aula sobre a necessidade de sustentabilidade fiscal a longo prazo.

Infelizmente, dar aulas sobre a necessidade de sustentabilidade fiscal a longo prazo está na moda entre os passatempos de Washington; é o que as pessoas que querem parecer sérias fazem para demonstrar sua seriedade. Quando a crise nos atingiu e levou a grandes déficits orçamentários – porque é isso que acontece quando a economia encolhe e a receita despenca – muitos membros de nossa elite política estavam todos ávidos demais em assumir esses déficits como uma desculpa para mudar o assunto do desemprego para o seu tema predileto. E a economia continuou a sangrar.

Mas o que uma resposta real aos nossos problemas envolveria? Primeiramente, ela envolveria mais, não menos, gastos do governo, por enquanto – com desemprego em massa e custos de empréstimo incrivelmente baixos, nós deveríamos estar reconstruindo nossas escolas, nossas estradas, nossos sistemas de abastecimento de água e mais. Envolveria atos agressivos para reduzir dívidas domésticas via perdão de dívidas hipotecárias e refinanciamento. E envolveria um esforço total da Reserva Federal para movimentar a economia, tendo deliberadamente como objetivo gerar uma maior inflação para aliviar os problemas deficitários.

Os suspeitos costumeiros irão, claro, condenar tais ideias como sendo irresponsáveis. Mas sabe o que é realmente irresponsável? Roubar o debate sobre uma crise para empurrar as mesmas coisas que se defendia antes da crise, e deixar a economia continuar sangrando.

Tradução: Adriano Scandolara.

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