• Carregando...

Salvo uma grande zebra, os republicanos vão assumir o controle de pelo menos uma Casa do Congresso norte-americano nesta semana. Mas será que isso é motivo para preocupação? Alguns analistas dizem que não. A última vez em que os republicanos controlaram o Congresso dos Estados Unidos enquanto um democrata ocupava a Casa Branca foi do começo de 1995 ao fim de 2000. As pessoas se lembram desse período como uma época boa, em que havia muita criação de empregos e orçamentos responsáveis. Pode-se esperar algo parecido agora?

Não, não se pode. A mudança será terrível. Na verdade, futuros historiadores provavelmente olharão para as eleições de 2010 como uma catástrofe que terá condenado os EUA a anos de caos político e fraqueza econômica.

Vamos começar pela política. Na segunda metade da década de 1990, republicanos e democratas trabalhavam juntos em algumas questões. Barack Obama parece acreditar que o mesmo pode ocorrer agora. Em uma entrevista recente ao National Journal, o presidente dos EUA adotou um tom conciliador, primeiro ao dizer que os democratas precisam de "certo senso de humildade" e depois ao garantir que "dedicaria mais tempo para promover o consenso". Boa sorte para Obama.

A cooperação parcial dos anos 1990 só teve início após os republicanos terem partido para um confronto radical. Na prática, eles paralisaram o governo federal para forçar o presidente Bill Clinton a fazer grandes cortes no Medicare, o sistema público de saúde voltado principalmente para idosos.

A estratégia de imobilizar o governo acabou prejudicando politicamente os republicanos. Essa lembrança, acreditam alguns observadores, impedirá que a oposição assuma agora um caráter excessivamente obstrucionista. Mas a lição que os republicanos parecem ter tirado de 1995 não é a de que eles exageraram nos bloqueios, mas sim de que não foram suficientemente hostis.

Uma entrevista concedida pelo líder da minoria no Senado dos EUA, Mitch McConnell, também publicada pelo National Journal, atraiu muita atenção graças à declaração que rendeu manchete: "Para nós, o mais importante é que o presidente Obama tenha só um mandato". McConnell também disse que, em 1995, os republicanos erraram ao se concentrar demais na agenda política – e não em arruinar o presidente. "Fomos arrogantes e agimos como se o presidente não fosse importante, como se fôssemos virar o jogo. No verão de 1995, [Clinton] já estava a meio caminho da reeleição e nós tentávamos salvar nossa pele." O senador deixa implícito que, desta vez, os republicanos manterão o foco para derrubar Obama.

É verdade que McConnell também declarou que estaria disposto a trabalhar com Obama sob certas condições – traduzindo, desde que o presidente dê uma "guinada clintoniana", ou seja, assuma posicionamentos que têm mais apoio entre os republicanos do que no seu próprio partido. Uma atitude como essa, é claro, reduziria as chances de Obama ser reeleito – e é esse o objetivo.

Acrescente a isso tudo o fato de que, caso algum republicano considere a possibilidade de agir como um estadista, de maneira bipartidária, ele com certeza terá de pensar duas vezes. Ao olhar sobre seu ombro, esse congressista vai ver o pessoal do movimento ultraconservador Tea Party, que atacará qualquer político que demonstre um mínimo de moderação. O Tea Party, aliás, é mais um motivo para que observadores inteligentes prevejam uma nova obstrução ao governo, provavelmente já a partir de março.

Além da política, a grande diferença entre a década de 1990 e o momento atual é o estado da economia. Quando os republicanos assumiram o controle do Congresso em 1994, os fundamentos econômicos eram sólidos. As famílias norte-americanas estavam muito menos endividadas do que hoje. O investimento das empresas crescia, em grande parte por causa das oportunidades abertas pela tecnologia da informação – oportunidades, aliás, muito mais amplas do que as tolices criadas na bolha da internet.

Naquele ambiente favorável, o gerenciamento da economia resumia-se sobretudo a frear a expansão, controlar o superaquecimento e evitar uma eventual onda inflacionária. Essa era uma tarefa que o Federal Reserve (o banco central dos EUA) conseguia exercer sozinho – aumentando os juros –, sem o auxílio do Congresso.

A situação atual é completamente diferente. A economia, deprimida por dívidas contraídas durante a bolha do governo Bush, está em péssimas condições. A deflação (e não a inflação) é um perigo real e imediato e não está claro se o Fed tem as ferramentas para evitar que ela ocorra. Neste exato momento, os EUA precisam de um governo ativo, que tire o país da armadilha econômica.

Mas os norte-americanos não terão esse tipo de política caso os republicanos controlem a Câmara. Na verdade, se a oposição atingir seus objetivos, os EUA terão o pior dos dois mundos. Os republicanos vão recusar qualquer medida de estímulo à economia – com o argumento de que se preocupam com o orçamento – ao mesmo tempo em que aumentarão o déficit de longo prazo por meio de cortes irresponsáveis nos impostos. Eles até já avisaram que esses cortes não serão acompanhados de redução nos gastos públicos.

Portanto, se as eleições desta semana ocorrerem dentro do previsto, aqui vai o meu aviso à população norte-americana: tenham medo. Tenham muito medo.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]