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Ben Bernanke, presidente do Federal Reserve (Fed), o banco central dos Es­­tados Unidos, recentemente fez comentários desanimadores sobre os prospectos econômicos do país. A economia, ele advertiu, "enfrenta alguns ventos contrários terríveis". Tudo que podemos esperar, de acordo com ele, é "um crescimento econômico modesto no próximo ano, suficiente para causar queda na taxa de desemprego, mas a um ritmo mais lento do que gostaríamos".

Na verdade, ele pode ter sido otimista demais: há uma boa chance de que o índice de desemprego suba, ao invés de cair, durante o próximo ano. Todavia, mesmo se ele diminuir, devemos perguntar: por que o Fed não está tentando diminuí-lo mais rápido?

Um pouco do histórico. Não acredito que muitas pessoas compreendam quantos empregos precisam ser criados para sairmos do buraco em que estamos. Você não pode simplesmente olhar para os 8 milhões de empregos que os EUA perderam desde que a recessão começou, pois a nação precisa continuar a aumentar o número de empregos – mais de 100 mil por mês – para acompanhar uma população em crescimento. Isso significa que precisamos de um incremento realmente muito grande, mês a mês, se quisermos ter a sensação de que todos estão empregados no país.

De quantos empregos estamos falando? Meu cálculo aproximado diz que precisamos de cerca de 18 milhões de empregos ao longo dos próximos cinco anos, ou 300 mil empregos por mês. Isso coloca o relatório sobre emprego divulgado na semana passada, que mostrou a perda de "apenas" 11 mil empregos em novembro, em perspectiva. Foi basicamente um relatório horrível, que só foi relatado como uma notícia boa porque estivemos em baixa por tanto tempo que isso soa como um progresso para a imprensa financeira.

Então, se quisermos ter notícias realmente boas, alguém tem que assumir a responsabilidade pela criação de muitos empregos adicionais. E, nesse ponto, este alguém tem de ser o Fed.

Não estou falando para absolvermos a administração Obama de toda a responsabilidade. Cla­ramente, a administração propôs um pacote de incentivo que, para começar, foi pequeno demais e, gradualmente, foi reduzido ainda mais pelos "centristas" no Senado. As medidas que o presidente Barack Obama propôs no começo da semana passada, apesar de criarem um número significativo de empregos adicionais, não atendem ao que a economia precisa de verdade.

Entretanto, enquanto a análise econômica diz que deveríamos ter um segundo grande estímulo, a realidade política é que o presidente – encarado com obstrução total dos republicanos, enquanto recebe apenas apoio anêmico por alguns do seu próprio partido – provavelmente não consegue votos suficientes no Congresso para fazer mais do que remendos na beirada do problema do desemprego.

O Fed, todavia, pode fazer mais. Bernanke recebeu bastante crédito, e com razão, pelo uso que fez de estratégias não ortodoxas para conter os danos após a queda do Lehman Bro­thers. Tanto as ações do Fed, medidas pela expansão de crédito, quanto as palavras de Bernanke sugerem que a urgência do final de 2008 e do início de 2009 deu vez a uma mistura curiosa de complacência e fatalismo – um sentimento de que o Fed fez o suficiente agora que o sistema financeiro recuou um passo da beira do precipício, apesar de a própria autoridade monetária prever que o desemprego permanecerá penosamente alto pelo menos pelos próximos três anos.

A defesa mais específica e persuasiva que vi de mais ações do Fed foi a de Joseph Gagnon, um ex-funcionário do Fed, agora no Peterson Institute for In­­ter­­national Economics. Ba­­seando sua análise no trabalho anterior de ninguém menos que o próprio Bernanke, em sua encarnação anterior como pesquisador econômico, Gagnon insiste que o Fed aumente o crédito comprando mais US$ 2 trilhões em ativos. Tal programa poderia fazer muito para promover um crescimento mais rápido, sem ter quase nenhum efeito colateral.

Então por que o Fed não está fazendo isso? Parte da resposta pode ser política. Os adversários ideológicos do ativismo do governo tendem a ser tão críticos da expansão de crédito do Fed quanto são do estímulo fiscal da administração Obama. Isso provavelmente deixou o Fed relutante em utilizar seus poderes na sua totalidade. Ao mesmo tempo, um número significativo de funcionários do Fed, especialmente nos bancos regionais, está obcecado com o medo da inflação no estilo da década de 1970 – que eles imaginam já estar à espreita, apesar de não haver pista dela nos dados reais.

Mas também há, acredito, uma questão de prioridades. O Fed entrou em ação quando enfrentou o prospecto de bancos arruinados; ele não parece igualmente preocupado com o prospecto de vidas arruinadas.

É disso que estamos falando. O alto nível de desemprego expresso nas previsões do próprio Fed é uma receita para um imenso sofrimento humano – milhões de famílias perdendo suas economias e seus lares, milhões de jovens americanos que nunca conseguirão iniciar suas vidas profissionais de maneira adequada porque não haverá empregos disponíveis quando eles se formarem. Se não reduzirmos o desemprego em breve, pagaremos o preço por uma geração.

Está na hora do Fed perder a complacência, pôr o fatalismo de lado e começar a ajudar na geração de empregos.

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