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Diante de uma crise financeira devastadora, o presidente Obama criou alguns regulamentos modestos e obviamente necessários; ele propôs acabar com algumas lacunas legais tributárias e sugeriu que o histórico de Mitt Romney de comprar e vender empresas, frequentemente despedindo trabalhadores e sucateando suas pensões no processo, não faz dele o homem certo para gerenciar a economia da América.

Wall Street respondeu – previsivelmente, suponho – choramingando e dando chiliques. E tem sido engraçado, de certo modo, ver como os Mestres do Universo são frágeis e infantis. Lembram-se de quando Stephen Schwarzman do grupo Blackstone comparou a proposta de limitar suas isenções tributárias à invasão da Polônia por Hitler? Lembram-se de quando Jamie Dimon, da JPMorgan Chase, caracterizou todas as discussões sobre desigualdade de renda como um ataque à própria noção de sucesso?

Mas essa é a questão: se o pessoal da Wall Street é um bando de pirralhos mimados, eles são pirralhos mimados com poder e riqueza imensos a sua disposição. E o que eles estão tentando fazer com esse poder e riqueza agora é comprar para si não somente as políticas que servem a seus interesses, mas também imunidade a críticas.

Na verdade, antes de eu chegar a esse ponto, deixem-me desmentir um conto de fadas que tenho ouvido muito de Wall Street e de seus defensores zelosos – um conto de fadas em que o financiamento desenfreado causa um incrível prejuízo nos EUA, a economia vai pelo ralo da memória e os responsáveis por causar esse prejuízo são vistos como heróis que salvaram a América.

Era uma vez, nos diz esse conto, uma terra de gerentes preguiçosos e trabalhadores folgados chamada América. A produtividade caía, a indústria americana estava sumindo diante da competição estrangeira.

Então os reis da aquisição emergencial, másculos e durões, como Mitt Romney e o fictício Gordon Gekko [personagem do filme de 1987, Wall Street – Poder e Cobiça] vieram ao resgate, impondo uma disciplina financeira e trabalhista. Claro que algumas pessoas não gostaram, e é óbvio que eles fizeram muito dinheiro para si no caminho. Mas o resultado foi uma grande recuperação econômica, cujos benefícios chegaram a todos.

Dá para ver porque Wall Street gosta dessa história. Mas nada nela – exceto a parte sobre Gekko e Romney fazerem muito dinheiro – é verdade.

Pois o suposto surto de produtividade jamais aconteceu de fato. Na verdade, a produtividade empresarial na América em geral cresceu mais rapidamente na geração do pós-guerra, uma era em que os bancos eram estritamente regulados e mal havia empresas de fundos privados, do que durante esse período após o nosso sistema político decidir que a ganância era boa.

Mas e a competição internacional? Nós hoje pensamos na América como uma nação condenada a perpétuos déficits orçamentários, mas não foi sempre assim. Dos anos 1950 até os anos 1970, nós tínhamos uma balança econômica, em geral, mais ou menos equilibrada, exportando quase tanto quanto importávamos. Os grandes déficits comerciais só começaram nos anos Reagan, ou seja, na época do financiamento desenfreado.

E sobre os benefícios desse dinheiro chegarem até todos? Nunca aconteceu. Houve ganhos significativos de produtividade durantes as últimas três décadas, mas não na escala que a lenda auto-glorificante de Wall Street quer que acreditemos. Porém, apenas uma pequena parte desses ganhos foi repassado aos trabalhadores americanos.

Então, não, toda essa maracutaia financeira não fez exatamente milagres para a economia americana, e há questões sérias sobre por que, exatamente, os responsáveis por ela terem feito tanto dinheiro, ao mesmo tempo em que geraram resultados duvidosos.

Há, porém, perguntas que eles não querem que sejam feitas – e não é, acredito, só porque querem defender suas isenções tributárias e outros privilégios. É uma questão de ego. Ter uma vasta riqueza não lhes basta; eles querem reverência também, e estão fazendo o melhor que podem para comprá-la. É uma coisa incrível ler sobre como os democratas de Wall Street estão dando todo seu apoio a Mitt Romney, não porque acreditam que ele tem boas ideias para políticas, mas porque estão tomando a brandíssima crítica do presidente Obama contra esses excessos financeiros como uma injúria pessoal.

E tem sido especialmente triste ver como alguns políticos democratas com ligações a Wall Street, como o prefeito de Newark, Cory Booker, erguerem-se pomposamente para defender os egos surpreendentemente frágeis de seus amigos.

Como eu disse no começo, de certo modo, o comportamento egocêntrico e arrogante de Wall Street tem sido um pouco engraçado. Mas embora esse comportamento seja engraçado, ele também é profundamente imoral.

Pensem sobre onde estamos agora, no quinto ano de uma crise causada por banqueiros irresponsáveis. Os próprios banqueiros foram salvos por dinheiro público, mas o resto da nação continua a sofrer terrivelmente, com o desemprego a longo prazo ainda em níveis jamais vistos desde a Grande Depressão, com toda uma corte de jovens americanos se formando diante de um mercado de trabalho abismal.

E, no meio desse pesadelo nacional, muitos membros da elite econômica parecem preocupados principalmente com o modo como o presidente aparentemente feriu seus sentimentos. Isso não é engraçado. É vergonhoso.

Tradução: Adriano Scandolara

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