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Imagine, por um momento, uma história sobre dois países. Ambos sofreram com uma recessão violenta que levou a perdas de emprego – mas não na mesma intensidade. No país A, o número de empregos caiu mais de 5% e a taxa de desemprego mais que dobrou. No país B, o número de empregos caiu apenas 0,5% e a taxa de desemprego está apenas levemente mais alta do que era antes da crise.

Não parece que o país A tem algo a aprender com o país B? Essa história não é hipotética. O país A são os Estados Unidos, onde as ações estão em alta, o PIB está subindo, mas a terrível situação do emprego continua piorando. O país B é a Alemanha, que recebeu um golpe no seu PIB quando o comércio mundial entrou em colapso, mas foi extraordinariamente bem sucedida em evitar a perda de empregos em massa.

O milagre dos postos de trabalho da Alemanha não tem recebido muita atenção nos EUA – mas é real, é chocante, e levanta questões sérias sobre se o governo dos EUA está, de fato, fazendo as coisas certas para combater o desemprego.

Nos EUA, a filosofia por trás da política de empregos pode ser resumida pela filosofia de "quem planta, colhe". Ou seja, não temos uma política de empregos de verdade: o que temos é uma política de PIB. A teoria é que um estímulo generalizado dos gastos pode fazer o PIB crescer mais rapidamente e induzir empresas a parar com as demissões e voltar a contratar.

A alternativa seria desenvolver políticas abordando a questão do desemprego de uma forma mais direta. Poderíamos, por exemplo, desenvolver programas de estímulo ao emprego no estilo do New Deal. Talvez isso seja politicamente inviável agora – Glenn Beck iria descrever qualquer iniciativa como a Work Progress Administration (WPA, agência de empregos criado no governo Roosevelt) como um plano para empregar simpatizantes de Obama – mas deve-se lembrar, a fim de registro, que a WPA e o Civilian Conservation Corps (Corpo Civil Conser­vacio­­nista) já conseguiram empregar milhões de americanos a um custo relativamente baixo para o orçamento.

Como alternativa, poderíamos ter políticas que incentivassem empregos no setor privado. Essas políticas poderiam incluir normas empregatícias que desencorajassem demissões e oferecessem incentivos financeiros às empresas que fizessem novas contratações ou que reduzissem a jornada de trabalho para evitar demissões.

Foi exatamente isso que os alemães fizeram. A Alemanha enfrentou a grande depressão com leis severas de proteção ao emprego. A estratégia foi complementada com a chamada "jornada de trabalho curta", que oferece subsídios a empregadores que reduzirem as jornadas de trabalho para evitar demissões. Essas medidas não evitaram a recessão, mas ajudaram a Alemanha a atravessá-la com um notável baixo índice de desempregos.

Deveriam os EUA tentar algo neste sentido? Em uma entrevista recente, o economista de mais alto cargo na administração Obama, Lawrence Summers, foi relutante: "Pode parecer desejável ter certa quantia de empregos distribuída entre mais pessoas. Mas não é tão desejável quanto aumentar o montante total de empregos".

Verdade. Entretanto, não estamos de fato aumentando a quantidade de empregos disponível – o Congresso não parece estar disposto a gastar o suficiente com estímulos para modificar isso. Não seria então a hora de pensar em outras medidas, pelo menos para frear o desemprego?

Normalmente a objeção às políticas de criação de emprego europeias se deve a elas não funcionarem a longo prazo – que a proteção de empregos e o estímulo para a redistribuição da carga de trabalho torna as companhias de setores em expansão menos propensas a contratar e reduz os incentivos para trabalhadores se transferirem para ocupações mais produtivas. Normalmente o mercado de trabalho norte-americano funciona bem. Ele segue o estilo "livre para perder", leia-se demitir, que confere ao empregador total liberdade para demitir seus funcionários, mas que também facilita a contratação.

A atual situação, todavia, foge da normalidade. Agora quem perde seu emprego não vai mais assumir novas posições: essas pessoas vão para o banco dos desempregados e ficam lá. O desemprego de longo prazo já alcançou seus maiores índices desde a década de 1930 e continua aumentando.

Desemprego a longo prazo implica em prejuízos a longo prazo. Os trabalhadores que ficam sem trabalhar muito tempo têm mais dificuldade para voltar ao mercado de trabalho mesmo quando a situação econômica melhora. E há também os custos não contabilizados – como as crianças que sofrem física e emocionalmente quando seus pais ficam meses ou anos desempregados.Chegou então a hora de tentarmos algo diferente. Apenas esclarecendo, acho que um grande estímulo convencional já resolveria. Mas, como essa opção já é carta fora do baralho, precisamos discutir alternativas baratas para atacar o desemprego de forma direta. Deveríamos aplicar um crédito fiscal do emprego, como propôs o Instituto de Políticas Econômicas? Ou deveríamos utilizar o subsídio para a redistribuição de empregos como fez a Alemanha, também proposto pelo Centro de Pesquisa de Políticas Econômicas? As duas propostas são dignas de reflexão.

O fato é que devemos fazer algo a mais, e diferente, do que já estamos fazendo. A experiência de outros países sugere que é hora de uma política que tenha o alvo claro e explícito de criar mais empregos.

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