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Enquanto escrevia este texto, investidores ao re­­dor do mundo aguardavam ansiosamente pelo discurso de Ben Bernanke no en­­contro anual do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) em Jackson Hole, Wyo­­ming. Eles gostariam de saber se Bernanke, presidente do Fed, iria ou não desvelar novas políticas capazes de erguer a economia dos Estados Unidos e tirá-la daquilo que parece ser cada vez mais um estado semipermanente de demanda deprimida e alto desemprego.

No entanto, eu ficaria chocado se Bernanke propusesse qual­­quer coisa significativa – isto é, qualquer coisa visando baixar o desemprego, o mínimo que fosse, ou oferecer qualquer aumento sério ao crescimento.

Por que eu não espero muito de Bernanke? Em duas palavras: Rick Perry.

Tudo bem, eu não quero su­­gerir que Perry, o governador do Texas, está pessoalmente impedindo o caminho para políticas monetárias eficazes. Ainda não, pelo menos. Em vez disso, estou usando Perry – que, famosamente, ameaçou Bernanke com consequências pessoais atrozes caso ele dê continuidade a políticas monetárias expansionistas antes da eleição de 2012 – co­­mo um símbolo da intimidação política que está matando nossas últimas esperanças para nos recuperarmos economicamente.

Vejamos a que políticas o Fed deveria dar continuidade agora.

Obviamente, a economia dos Estados Unidos permanece em depressão profunda, e, sob condições normais, deveríamos es­­perar que o Fed lhe auxiliasse cortando as taxas de juros. Mas as taxas de juros que o Fed normalmente visa – basicamente taxas de curto prazo da dívida do governo dos EUA – já estão próximas do zero. Então, o que poderia ser feito?

Em 2000 um economista chamado Ben Bernanke ofereceu um número de propostas para políticas numa "taxa de juro zero". Verdade, o artigo es­­tava focado nas políticas do Ja­­pão, não nas dos Estados Unidos. Mas a América está agora numa armadilha econômica muito semelhante à do tipo japonês, só que mais aguda. Então, nós podemos aprender muito perguntando por que o Ben Ber­­nanke de 2011 não está aceitando os conselhos do Ben Bernanke de 2000.

Naquela época, Bernanke sugeriu que o Banco do Japão poderia estimular a economia japonesa com uma variedade de políticas pouco convencionais. Elas incluiriam: aquisição de títulos de longo prazo da dívida governamental (para baixar as taxas de juros, e, portanto, custos de empréstimos privados); uma declaração de que as taxas de juro de curto prazo continua­­riam próximas a zero por um período estendido, para reduzir ainda mais as taxas de longo prazo; uma declaração de que o banco estaria à procura de inflação moderada, "visando uma faixa de 3% a 4% de inflação, a ser mantida por um número de anos", o que encorajaria as pessoas a fazer empréstimos e as desencorajaria a guardar di­­nheiro; e "uma tentativa de ob­­ter uma depreciação substancial do iene", isto é, reduzir o valor do iene em relação a ou­­tras moedas.

Bernanke estava no caminho certo? Eu penso que sim – e deveria, considerando que seu artigo foi parcialmente baseado em meu próprio trabalho. En­­tão, por que o Fed não está dando continuidade à agenda política que o seu próprio presidente já recomendou para o Japão?

Parte da resposta é a divergência interna. Duas semanas atrás, o comitê responsável por criar políticas monetárias declarou que as condições "provavelmente garantirão níveis excepcionalmente baixos para as ta­­xas dos fundos federais até pelo menos o primeiro semestre de 2013" – isto é, ele nem sequer prometia manter as taxas baixas, oferecendo apenas uma observação sobre qual seria o estado provável da economia. Mesmo assim, no entanto, a declaração foi recebida com sé­­ria oposição interna, com três membros no comitê, dos que ainda papagueiam sobre o risco de inflação, votando contra ela e considerando-a errônea.

A resposta mais longa, no entanto, repousa além da pressão política. No ano passado, o Fed instituiu, de fato, uma política de aquisição de títulos da dívida de longo prazo, geralmente conhecida como "alívio quantitativo" (pois é). Mas ela foi recebida com desproporcional retaliação, considerando seu efeito modesto na economia, culminando na declaração de Perry de que dar qualquer tipo de continuidade ao alívio monetário antes da eleição de 2012 seria "quase traição", e que, se Bernanke fosse em frente e o fizesse, "nós o trataríamos bem mal lá no Texas".

Agora, apenas imagine qual seria a reação se o Fed atuasse nas outras partes, discutivelmente mais importantes, da agenda política daquele Ber­­nanke de 2000, visando uma taxa mais alta de inflação e aceitando um dólar mais fraco. Com republicanos proeminentes co­­mo o deputado Paul Ryan já condenando políticas que supostamente "rebaixam o dólar", uma algazarra política estaria garantida.

Então, agora vocês veem porque eu não esperava nenhuma declaração política substancial em Jackson Hole. Em 2000, Ber­­nanke acusou o Banco do Japão de sofrer de uma "paralisia au­­toinduzida"; bem, agora o Fed está sofrendo de uma paralisia induzida externamente. A autoridade monetária está sendo in­­timidada politicamente a ficar de molho enquanto a economia vai se estagnando. E isso é algo muito, muito ruim.

Políticas fiscais já foram de­­bilitadas por oposição política; em vez de ajudar a criar empregos, o governo federal está se omitindo, atuando como um pe­­so morto para a produção e o empregamento.

Enquanto o Fed estiver inativo e intimidado, é difícil ver qual­­quer fim para o atual desastre econômico.

Tradução: Adriano Scandolara.

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