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Os dados econômicos mais recentes acabaram com qualquer esperança de solução rápida para a falta de empregos nos Estados Unidos, um problema tão persistente que o desempregado norte-americano fica fora do mercado do trabalho por quase 40 semanas, em média. Mesmo assim, não há vontade política para enfrentar a situação. Longe de gastar para criar empregos, ambos os partidos dos EUA concordam que o momento atual é de cortar despesas – destruindo oportunidades de trabalho no processo – e a única diferença entre as propostas está na intensidade do aperto fiscal.

O resgate também não virá do Federal Reserve (Fed, o banco central do país). Na semana passada, o presidente da instituição, Ben Bernanke, reconheceu a gravidade do cenário econômico, mas indicou que não fará nada a respeito. A renegociação de dívidas dos mutuários – que poderia ter ajudado na recuperação da economia como um todo – simplesmente saiu da agenda. O programa para reduzir o valor das hipotecas é um fracasso, emprega apenas uma fração minúscula dos recursos previamente alocados e aparentemente não há interesse em redesenhá-lo.

A situação na Europa é parecida, talvez até pior. A retórica rígida e contra o alívio monetário do Banco Central Europeu faz Bernanke soar como um liberal. O que está por trás dessa paralisia transatlântica? Estou cada vez mais convencido de que ela é uma resposta à pressão de certos grupos. Conscientemente ou não, as autoridades atendem apenas aos interesses daqueles que vivem de rendimentos, os chamados rentistas – pessoas e empresas que ganham muito dinheiro a partir do próprio patrimônio e que, no passado, emprestaram grandes somas, muitas vezes de forma imprudente, mas que agora estão sendo protegidas contra prejuízos, à custa do sofrimento de toda a população.

Não é dessa maneira que os Defensores da Dor, como gosto de chamá-los, vendem as suas ideias, é claro. Em vez disso, os argumentos contra a ajuda aos desempregados vêm embalados em termos de risco econômico: promova a abertura de vagas e os juros irão disparar, a inflação sairá de controle e assim por diante. Porém tais riscos insistem em não se materializar. As taxas de juro permanecem próximas aos níveis mais baixos da história enquanto a inflação continua fraca – exceto pelos preços do petróleo, que são determinados por mercados e acontecimentos globais, e não pela política econômica.

Além disso, contra esses riscos hipotéticos é preciso expor a realidade de uma economia ainda muito deprimida, que cobra um preço alto tanto dos trabalhadores de hoje como do futuro dos EUA. Afinal de contas, como esperar prosperidade para daqui a duas décadas se, neste instante, milhões de jovens recém-formados não conseguem iniciar suas carreiras?

Peça uma explicação coerente para o abandono dos desempregados e você não receberá uma resposta. Os Defensores da Dor improvisam à medida que avançam, inventam justificativas variáveis para sua receita invariável.

Embora as razões aparentes para penalizar trabalhadores não parem de mudar, as receitas oferecidas pelos Defensores da Dor têm sempre algo em comum: elas protegem os interesses dos rentistas, não importa a que custo. Gastos bancados pelo déficit poderiam colocar os desempregados de volta no mercado de trabalho – mas eles podem prejudicar os detentores de títulos da dívida. Uma postura mais agressiva do Fed poderia tirar a economia do atual marasmo – na verdade, até economistas republicanos já disseram que um pouco de inflação serviria como um remédio adequado –, mas é a deflação, e não a inflação, que vai ao encontro do interesse dos credores. Além, é claro, da forte oposição a qualquer coisa que lembre renegociação de dívidas.

Mas quem são esses credores aos quais me refiro? Não são os trabalhadores ou pequenos empresários que dão duro para se sustentar, ainda que seja do interesse dos grandes beneficiários fingir que tudo se resume à proteção dessas pessoas. Na verdade, tanto as pequenas empresas como os trabalhadores sofrem mais com a economia fraca do que, digamos, com uma inflação modesta que ajude a promover a recuperação. Mas não, os únicos que se saem bem com as políticas ditadas pelos Defensores da Dor (além do governo da China) são aqueles que dependem de rendimentos; banqueiros e indivíduos ricos com muitos títulos no seu portfólio de investimentos.

Isso explica porque o interesse dos credores fica tão evidente na política monetária. Eles não apenas fazem as maiores contribuições em campanhas eleitorais como também integram o grupo com acesso direto às autoridades econômicas – muitas das quais, aliás, vão trabalhar para esses mesmos credores quando deixam o governo, numa espécie de porta giratória. O processo de influência não envolve necessariamente corrupção (embora isso exista, também). Ele só requer a inclinação para presumir que medidas favoráveis para as pessoas com quem se convive, pessoas tão impressionantes nas reuniões – ei, elas são ricas, inteligentes e têm alfaiates excelentes –, são necessariamente boas para a economia. A realidade é oposta: políticas favoráveis aos credores estão paralisando a economia. Trata-se de uma soma de resultado negativo, na qual a tentativa de blindar os rentistas contra quaisquer prejuízos causa perdas ainda maiores para o restante da população. A única maneira de obter uma recuperação real é abandonar esse jogo.

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