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Quando o assunto é chatice, sempre me lembro de uma funcionária que tive há um tempo que vivia importunando seus colegas de trabalho, sem ao menos saber o quão chata ela era. Cecília tinha quarenta e poucos anos e possuía uma família normal, marido, filhos adolescentes, cachorro, gato e papagaio. Sua vida era considerada normal, trabalhava das 8 horas às 18 horas e à noite assistia novela com os filhos após fazer jantar para o marido. Não possuía muitas aspirações e, frequentemente, tinha a impressão que sua vida já havia atingido o ápice. Talvez fosse por esse comodismo, que ela agia de tal maneira. Na verdade, era uma pessoa que não buscava crescimento e, por isso, havia deixado de estudar há muitos anos.

No escritório ela era uma pessoa curiosa de se observar. Seus colegas mais próximos demoraram um pouco, mas conseguiram aprender a conviver com a moça, diferentemente do restante da equipe, que não conseguia entender como que uma pessoa pudesse ser daquele jeito. Cecília chegava todos os dias atrasada e, ao se instalar, não respeitava a concentração das pessoas que já estavam a mil por hora no trabalho. Desatava a falar sobre os acontecimentos do dia anterior. Os assuntos eram os mais chatos possíveis, como o filho que tirou nota baixa na escola, a receita de bolo que não deu certo ou, até mesmo, as mancadas dos colegas de trabalho de seu marido. As histórias, normalmente, eram demoradas e ela contava com uma riqueza de detalhes impressionante. Relatava frase por frase das conversas alheias, a cor da camisa que o marido usava e citava ingrediente por ingrediente da receita fracassada. Enquanto isso, seus colegas lhe respondiam apenas com "aham" e tentavam se concentrar sem ter que dizer que ela estava sendo inconveniente.

Na hora do almoço, quase ninguém gostava de acompanhá-la, pois demorava demais para comer (falava mais que comia) e não tinha interesse nenhum em ouvir as histórias alheias, só as dela eram interessantes. Nos e-mails, ela agia da mesma forma. Mandava-os com milhões de pessoas copiadas para mostrar serviço, quando, na verdade, ela não havia feito nada de muito importante. Além disso, não respondia nenhum e-mail interno. E, o que era pior, perguntava coisas para diferentes pessoas, e, mesmo assim, fazia tudo errado. Aliás, era impressionante como ela tinha dificuldade em seguir regras. Às vezes parecia ser de propósito, às vezes não. O certo é que ela não obedecia nenhuma regra, o que gerava sempre algum tipo de constrangimento entre os demais.

Porém, o que considerei mais grave, foi quando recebi um e-mail de um cliente importante que dizia estar insatisfeito com uma funcionária insistente que não parava de ligar perguntando coisas redundantes. Quando fomos verificar o que acontecia, descobrimos que toda e qualquer dúvida que ela tinha, tirava diretamente com o cliente, ao invés de antes tentar resolver dentro de casa mesmo. E, pior, as dúvidas eram, se não iguais, muito semelhantes umas as outras. Chamamos a moça para conversar, demos um feedback sobre as reclamações que vinham acontecendo em relação a seu comportamento, mas nada mudou.

Certa vez, quando organizávamos uma conference call, Cecília foi completamente deselegante por telefone com outro funcionário, simplesmente por não conseguir entender as orientações que lhe eram passadas. O que ela não sabia é que do outro lado da ligação, o telefone estava no viva-voz e mais de dez pessoas escutaram suas grosserias. Uma situação muito chata para o funcionário afetado, mas, principalmente, para ela, que ficou em descrédito com os demais. Aliás, Cecília não era grosseira com todos, apenas com poucos que, por algum motivo, não julgava merecedores de seu respeito.

A moça ficou pouco tempo na empresa, pois notoriamente seu desempenho era tão ruim quanto a sua percepção de incômodo aos demais. Ao ser desligada, chegou a questionar os motivos, mas não entendeu que seu comportamento não era adequado quando explicamos que o motivo era desempenho e adaptação. E, certamente, nunca entenderá, pois vem da personalidade dela, o que ela considera mais do que natural.

Não deixe de conferir se você é um chato na próxima terça-feira, na Coluna Talento em Pauta. Siga-me www.twitter.com/bentschev

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