Camila, gerente de marketing de um grande grupo empresarial, era muito dedicada a seu trabalho e reconhecidamente competente em sua função. Exigente consigo mesma, ela sempre fez questão de se manter atualizada perante os assuntos pertinentes a sua área, de propor ideias novas à organização de que fazia parte, cumprir os prazos estabelecidos por seus superiores e contribuir para o crescimento de sua equipe como um todo, entre muitas outras características comuns aos bons profissionais. Além de todos esses predicados, Camila tinha outros dois atributos notáveis: a pontualidade e a cordialidade.
A gerente dificilmente se atrasava para compromissos pessoais ou de trabalho. No escritório, ela era extremamente regular: fosse no início da manhã ou na volta do almoço, com sol ou com chuva, Camila mantinha inalterados seus horários de chegada. Faltar era algo ainda mais improvável do que um possível atraso: nem ela mesma conseguia se lembrar da última vez em que fora necessário se ausentar por motivos desvinculados da rotina profissional.
Outra marca pessoal de Camila, a cordialidade era uma constante em sua vida, mantida de maneira natural. Até nos dias mais duros de trabalho ela tinha estampado no rosto um sorriso, sempre pronto para ser exposto a quem quer que fosse. Colegas, chefes e até as pessoas que não tinham um contato mais próximo com a gerente admiravam sua simpatia e seu jeito educado de falar.
Depois de muitos anos atuando nesse grupo empresarial e mantendo a postura descrita, Camila passou a ter um comportamento diferente. Seus dias no escritório já não pareciam tão radiantes. Embora em determinadas ocasiões ela ainda tentasse disfarçar seu desânimo forçando uma expressão facial melhor, muitos já percebiam que aquela não era a mesma Camila de antes. No entanto, ninguém conseguia saber o porquê daquela transformação, já que a gerente era bastante reservada em relação a seus problemas.
Não bastassem os pequenos sinais de mau humor que a funcionária começava a esboçar, também passaram a causar estranheza os atrasos da gerente. Nas primeiras vezes em que Camila se atrasou, o fato foi razão de pilhéria dos colegas, que, embora ariscos diante da leve mudança de temperamento da profissional, ainda arriscavam fazer com ela algumas brincadeiras acerca daqueles deslizes no horário até então de pequenas proporções.
Com o passar do tempo, porém, a situação começou a se agravar. Perplexo com os atrasos da subordinada, que agora aconteciam toda semana, e com algumas ausências injustificadas, um dos chefes de Camila, Mauro, achou prudente chamá-la para uma reunião e questionar o que a levava a apresentar tal comportamento. Hesitante no começo, durante o desenrolar da conversa a gerente não encontrou alternativa senão contar com transparência o que vinha prejudicando seu desempenho.
Com muito esforço, Camila relatou que seu pai atravessava um quadro complicado de doença. Seu estado de saúde, longe de apresentar sinais de melhora, estava afetando de forma incisiva o moral da família, especialmente da mãe de Camila, que, já de bastante idade, não conseguia suportar sozinha a circunstância. Com um irmão morando do outro lado do país e outro em situação financeira menos favorável que a sua, Camila se sentia como a única, no momento, realmente em condições de dar o apoio que seus pais precisavam. Ao tomar conhecimento da complexidade do contexto em que sua funcionária estava envolvida, Mauro se mostrou compreensivo, expressando votos de que tudo logo melhorasse.
Camila, entretanto, sentiu-se muito incomodada por saber que, de alguma forma, tinha decepcionado sua equipe. E o pior, a seu ver, era que aquele panorama não iria se reverter tão cedo. Então, tomou uma decisão que a deixaria mais tranquila para resolver seus problemas domésticos e com a consciência limpa perante sua empresa: pediu demissão. Um ano depois, quando seus problemas se resolveram, sua equipe estava de braços abertos para recebê-la de volta.
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