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Márcia era uma jovem mãe de dois filhos, separada e com uma vontade enorme de crescer profissionalmente. Carregava consigo a certeza de que, para ser feliz, precisava conseguir criar seus filhos sem ajuda externa, pois nem mesmo possuía recursos para tal. Volta e meia, via-se perdida em situações com os dois filhos que nem ela mesma acreditava. Há pouco mais de um ano, para piorar, seu filho mais novo começou um tratamento de saúde. Nada muito grave, é verdade, mas como todo tratamento de saúde, volta e meia requer cuidados especiais da mãe.

Por conta desse tratamento, Márcia começou a faltar ao trabalho com muita frequência. No início, seus horários extras no banco de horas eram suficientes para se ausentar sem que tivesse maiores problemas. Mas, depois de um tempo, com as idas de seu filho ao hospital e as faltas à escola, viu que não conseguiria sustentar a situação sem que afetasse seu trabalho. Foi aí que teve a ideia de montar uma infraestrutura capaz de lhe respaldar quando esses afastamentos fossem necessários.

Seu primeiro investimento foi a compra de um notebook e de um modem 3G. Com essa facilidade de comunicação, conseguiria estar à disposição da empresa em qualquer lugar da cidade, mesmo que fisicamente estivesse em outro. Nessa primeira instância, seu problema fora resolvido. Em casa, para que pudesse atender à empresa quando seus filhos não estivessem na escola, separou um quarto que estava em desuso para montar um mini-escritório. Ali, colocou uma mesa, cadeira, ponto de telefone e internet.

Aparentemente, Márcia estava preparada para atender a empresa 24 horas por dia e 7 dias por semana. Porém, o primeiro empecilho ocorreu quando, em seu primeiro dia em "home office", seus filhos não a deixaram trabalhar por nenhum minuto. Percebeu que teria que pausar suas tarefas para preparar o almoço para as crianças e observou que quanto mais tentava se desligar dos pequenos, menos conseguia. Infelizmente, não podia arcar com a contratação de babás e, por isso, achava que nada mais poderia ser feito, a não ser o entendimento de seus superiores.

Foi aí que entrei em jogo. Márcia me conheceu há algum tempo em um evento. Mandou-me um e-mail relatando o que ocorria e pedindo ajuda, pois não sabia mais o que fazer. Ela queria continuar na empresa e não sabia mais como superar tais problemas. Expliquei a ela que estava no caminho certo. Sua boa vontade em investir para estar à disposição da empresa, mesmo quando ela não podia, foi uma atitude corretíssima, pois demonstrava o quão comprometida ela estava com a empresa.

Porém, se ela continuasse agindo em casa, como se estivesse em casa de fato, não obteria sucesso algum. Estando a trabalho, na verdade, Márcia deveria agir como se estivesse no escritório, mesmo em casa. Os horários deveriam ser rigorosamente respeitados, assim como a dedicação deveria ser a mesma. Não tendo colegas de trabalho por perto para aconselhar, Márcia precisava criar autonomia suficiente para decidir certas questões. Seus filhos deveriam ficar entretidos para que não comprometessem a qualidade do trabalho da moça. E, por mais que não conseguisse se desvencilhar das atividades domésticas, essas deveriam ser readequadas às necessidades do trabalho dela, estabelecendo horários compatíveis com cada obrigação.

No princípio, Márcia não conseguiu fazer com que todas as minhas dicas fossem levadas à risca, até mesmo porque seus filhos custaram entender que ela estava em casa trabalhando e não para brincar com eles. Infelizmente foi um sacrifício que ela teve que fazer, mas se queria realmente seguir firme na empresa, era extremamente necessário que o fizesse. Com o tempo, Márcia foi conseguindo desenhar seu espaço profissional dentro de casa, e seus filhos, aos pouquinhos, foram respeitando, cada vez mais, o espaço da mãe/S.A. em casa.

Hoje, Márcia passa pelo menos um dia da semana em casa. Espera que quando o tratamento do filho acabar, acabe também essa peleja. Porém, mesmo que não acabe, sabe que enquanto for preciso, poderá responder à empresa de casa, da mesma forma que responde enquanto está no escritório.

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