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Sérgio desenvolveu sua carreira numa empresa que pode ser tomada como exemplo de ética e compromisso. Era uma empresa do segmento imobiliário, que desempenhava seus processos pensando sempre na forma mais correta e honesta de executá-los. Absolutamente nada na empresa era fora da linha e seus funcionários costumavam brincar que se algum fiscal chegasse lá, dar-lhes-ia uma premiação por tudo estar tão perfeito e dentro da lei. Como diretor da empresa, Sérgio fazia questão de que todos os seus funcionários agissem de maneira exemplar, repreendendo atitudes mínimas, como um office boy furando uma fila de banco, por exemplo. "A ética está nos mínimos detalhes. Não podemos utilizar de artimanhas nem para conseguir um desconto no cafezinho", dizia sempre à equipe.

Por causa dessa forma "certinha" de levar a vida, o gestor conquistou alguns clientes que, sempre que chegavam à empresa, gostavam de ser atendidos exclusivamente por ele. E, numa forma de reconhecimento, um desses clientes o convidou para dirigir a nova unidade de sua empresa que se instalaria numa cidade a 150 km da capital. Era uma mudança difícil para Sérgio, pois, além dos anos de empresa, havia também a questão de mudança de cidade, na qual envolveria toda a sua família. Porém, pesando os prós e contras na balança, percebeu que a oferta era tentadora e que ali onde estava não conseguiria mais crescimento algum.

Resolveu aceitar o desafio e, num espaço de 30 dias, mudou-se com toda a sua família para sua nova moradia. Era tudo muito novo. A unidade que ele assumiu também era recente e ele era seu primeiro diretor. Inclusive, essa foi uma questão que contou muitos pontos na hora de tomar a sua decisão, pois poderia moldar a unidade de acordo com suas crenças, assim como em seu antigo emprego.

Entretanto, as coisas aconteceram de uma forma bem diferente. Já na primeira semana, em reunião com o presidente e diretores das outras unidades, Sergio foi informado sobre um costume que eles tinham ao abordar o mercado que ainda não os conhecia. Sua estratégia de marketing (se é que podemos denegrir o marketing desta forma) era infamar a imagem das empresas concorrentes, dizendo que eles eram ultrapassados, ineficientes e desonestos. Ora! Sérgio não concordou com isso. Desonestidade maior estava exatamente neste ato calunioso.

Porém, como todo bom novo funcionário que há, Sérgio explanou sua opinião contrária, sem exacerbar sua indignação. Preferiu se manter inerte perante todos até o momento de agir da melhor maneira que julgava. Em seguida, em reunião com seus novos funcionários, baseado em sua ética, elucidou tudo que lhe foi dito pela presidência e explicou que, como gestor daquela unidade, sentia-se no direito de adotar uma política um pouco diferente. Caso não desse certo, em seis meses pediria as contas. Sua proposta era arriscada, porém não se sentia à vontade de trabalhar numa empresa que não prezava pela idoneidade.

Foram seis meses de investidas intensas no mercado local. Ao invés de denegrir a imagem de seus concorrentes, preferiu tentar uma aproximação com seus gestores adversários e, depois de certa liberdade, começou a entender um pouco melhor a clientela da cidade. Dali para os primeiros clientes foi um "pulo". No prazo que ele mesmo estipulara para vencer o desafio, já possuía uma carteira invejável. Só depois deste tempo, quando novamente se reuniu com o presidente da empresa e os demais diretores, pôde esclarecer como conseguiu tantos clientes em tão pouco tempo.

Em suas palavras, podia-se sentir certo pesar ao dizer que há seis meses havia tomado uma decisão contra a empresa e que teve de mantê-la em sigilo por todo esse tempo. Falou sobre o tempo em que trabalhou na outra organização e como foi que eles conquistaram estabilidade no segmento em que atuavam. Falou, principalmente, sobre os princípios de ética que os guiavam e contou seu segredo para o sucesso: "quando uma empresa é boa, ela não precisa dizer para o mundo que seus concorrentes não são tão bons quanto, pois os clientes descobrirão isso a ‘trancos e barrancos’. Quem age com ética sempre será melhor visto e mais bem quisto por todos. É só uma questão de tempo". Desta forma, hoje Sérgio comanda não só aquela unidade, mas duas outras em vales próximos dali.

É fato que nem todos na organização em que Sérgio trabalha agem como ele. Porém, é certo que pelo menos os funcionários que estão sob seu comando seguem à risca todos os seus ensinamentos, levando consigo a certeza de que é possível um mundo sem desonestidade. Basta começar por si mesmo.

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