• Carregando...

Recentemente soube de uma situação que me deixou bastante preocupado, visto que reconheço ser um problema que atinge muitos profissionais despreparados emocionalmente por aí afora. Eduarda era uma moça muito bonita e talentosa, uma promessa dentro da organização que trabalhava. Porém, inexplicavelmente, a moça possuía sérios problemas com as conquistas alheias. Sempre que um colega de trabalho era elogiado, promovido ou recebesse qualquer tipo de benefício (mesmo que fosse um convite para um almoço) a moça se mordia de inveja. Apesar de jamais admitir isso, Eduarda sentia uma espécie de comichão atrás da orelha, só de pensar na possibilidade de alguém (que não fosse ela) receber qualquer tipo de regalia dentro da companhia.

Por conta disso, a jovem tentava desempenhar seu trabalho da melhor forma possível, recebendo justamente pelos méritos de seu esforço. O mais estranho, porém, era seu pensamento pessimista em relação aos demais, não admitindo para si mesma que os outros também desempenhavam bons trabalhos e que também eram merecedores de recompensas.

Como um efeito cascata, e sem que percebesse, Eduarda começou a boicotar seus colegas mais próximos, que dependiam diretamente de sua ajuda ou de seu aval para executar seus projetos. Começou pelos concorrentes diretos (se é que pode chamar alguém dentro de uma empresa de concorrente, já que todos devem trabalhar em equipe). As informações que deveriam ser divididas entre todos, começaram a ser retidas pela moça que, displicentemente, conseguia arrancar dos colegas todas as informações que para ela eram fundamentais.

Mas não eram só as conquistas de seus colegas pares que a incomodavam e não bastava invejar a posição privilegiada de seus superiores, com o tempo, Eduarda passou a atrapalhar o desempenho de seus próprios subordinados. E, o que era mais curioso, ela sabia exatamente onde pisava. Todo e qualquer trabalho que tivesse ligação com seus resultados, ela respaldava. Os demais processos, que nada influenciavam em seu desempenho, ela fazia questão de atrapalhar. Aliás, agia de forma egoísta sempre, dizendo aos seus funcionários que deixassem seus trabalhos para depois, dando prioridade às tarefas que ela delegava. Diga-se de passagem, todas as tarefas eram relacionadas a ela, que ajudariam, de certa forma, a dar vazão a suas responsabilidades.

Não demorou muito para que todos entendessem o que estava acontecendo. Chegou a um ponto em que a moça não conseguia disfarçar seus sentimentos em relação aos demais funcionários. Era impressionante e quase inacreditável, mas ela não conseguia se empolgar com absolutamente nenhuma questão que beneficiasse outras pessoas. Como consequência, receosos de que a inveja dela pudesse interferir no desenrolar de algum processo, seus colegas começaram a evitá-la. Seus amigos mais próximos, então, deixaram de confidenciar expectativas e anseios, com medo de que o "olho gordo" da jovem colocasse tudo a perder.

E, o mais triste de se observar é que a moça jamais percebeu o quanto isso fazia mal para ela e seu convívio social. Ela notava o afastamento das pessoas, mas não entendia qual era a sua parcela de responsabilidade com isso. Questionava-se sobre os motivos de as pessoas evitarem sua amizade, mas não conseguia matar o mal pela raiz, já que não sabia qual exatamente era esse mal. Até que um dia, uma de suas colegas mais próximas criou coragem e abriu seu olho em relação a sua conduta. Demorou um pouco para "cair a ficha", e admitir que ela realmente sentia uma pontinha de inveja quando percebia que outras pessoas estavam se dando bem e ela não. Mesmo reconhecendo seu erro, porém, ela não conseguia imaginar a melhor forma de erradicar o problema. Tentava não sentir aquelas coisas, mas só as tentativas não eram suficientes. A mesma amiga que lhe alertara, sugeriu que ela fizesse terapia e tentasse eliminar essas sensações, descobrindo as causas disso. E foi assim, felizmente, que ela conseguiu aos poucos diminuir consideravelmente a reação negativa que tinha em relação a seus colegas.

Ela não nega que, lamentavelmente, ainda sinta certa titilação no pescoço quando alguém se dá bem de alguma forma. Porém, aprendeu exercícios de respiração capazes de impedir que ela exteriorize isso. Pelo contrário, hoje ela até é capaz de compartilhar das alegrias alheias algumas vezes, sem almejar aquilo para si própria.

Mande sua história para coluna@debernt.com.br e siga-me no twitter@bentschev.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]