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O tema da semana passada (O Efeito Lúcifer) teve tanta repercussão que acabei me lembrando de uma história muito delicada, porém muito pertinente de ser abordada: o assédio sexual. Susan era uma das amigas de minha filha, o que fez com que ela se sentisse confortável em falar sobre o assunto comigo. Quando mais jovem, e muito inexperiente no mundo corporativo, a moça não sabia como se desvencilhar das inúmeras cantadas que recebia, visto que era uma moça muito bonita, com atributos realmente notáveis. Ela mesma conta que, naquela época, não sabia escolher as roupas adequadas para ir trabalhar, e tampouco, via maldade nas brincadeiras pejorativas que seus colegas faziam.

Como Susan era trainee, acompanhava, com muita frequência, seus colegas comerciais em visitas a clientes. A moça até gostava dessas visitas. Considerava seu trabalho bom por não ter uma rotina fixa no escritório, já que a cada dia estava num lugar diferente com pessoas distintas. De acordo com a moça, ela era sempre bem tratada por todos, com muito respeito sempre, o que fez com que, em pouco tempo, adquirisse amizade com todos os seus colegas.

Até que um dia, ao ser convocada por um deles para uma dessas visitas, seu chefe, mais do que imediatamente, a interpelou e disse que, naquele dia, ele preferia que a moça não fosse às visitas, pois ele precisaria dela no escritório. Sem entender muito bem, mas também sem visualizar nada de errado no pedido do chefe, Susan ficou e, enquanto aguardava as ordens de seu chefe, ficou resolvendo algumas pendências em sua mesa. O tempo passou tão rápido naquele dia que ela nem notou quando, de repente, o escritório ficou vazio. Aliás, ela só reparou nisso quando viu seu chefe se aproximando com uma conversa mole, de quem queria lhe dizer algo, mas não sabia como fazer isso.

Frederico começou elogiando o trabalho da moça, demonstrando o quão satisfeito estava com as evoluções que ela vinha fazendo. Explanou para Susan a atual situação da empresa, explicando o que cada cargo fazia ali dentro e demonstrando, através de uma planilha, as possibilidades de crescimento da moça dentro da organização. Enquanto isso, Susan se dividia entre a esperança de receber uma promoção e a incerteza sobre se podia confiar em Frederico ou não. Era a primeira vez que ela observava que os olhares do chefe oscilavam entre seus olhos e seu busto, o que a deixava extremamente constrangida. Finalizando a conversa, o gerente disse que havia tomado conhecimento de alguns comentários maldosos em relação à moça. Disse que alguns profissionais com os quais Susan fazia visitas tinham comentado o quanto a moça era bonita e, pior, haviam feito elogios maliciosos ao corpo da moça. Com isso, pediu que ela tomasse cuidado com algumas pessoas e que, para evitar problemas futuros, a partir daquele dia ela só faria visitas acompanhada de mulheres ou dele mesmo.

Atordoada, a moça não soube bem o que pensar a respeito. Será que era verdade aquela história de comentários maliciosos a seu respeito? Como podia ser isso, se ela havia conquistado tantos amigos? Será que ela passava a mensagem errada a seus colegas de trabalho? Ou será que a malícia estava, na verdade, nas intenções de Frederico?

Diante de tantas interrogações, a moça preferiu apenas redobrar o cuidado com sua forma de se comportar diante dos colegas, além de prestar mais atenção às roupas que escolhia para trabalhar. O que ela menos queria, na verdade, era passar uma impressão errada às pessoas que trabalhavam com ela e, com isso, provocar qualquer problema em seu ambiente profissional.

Porém, pouco menos de uma semana depois desse ocorrido, Frederico a convidou para uma visita de última hora. A moça já se preparava para ir embora quando ele a chamou na sala e perguntou se naquele dia ela poderia acompanhá-lo numa visita. Não querendo negar um pedido de seu chefe, a moça, mais do que depressa, disse que sim, desde que ela fosse em seu próprio carro para que, depois da visita, pudesse ir embora. Foi então que, percebendo a perspicácia de Susan, Frederico expôs suas verdadeiras intenções.

Disse que há muito tempo vinha querendo chegar mais próximo de Susan, mas não sabia ao certo como fazer isso. Frederico chegou a falar que a moça tinha grandes chances de crescer dentro da empresa, insinuando que ele poderia, inclusive, facilitar uma promoção, caso ela saísse com ele. Ofendida, Susan disse que jamais faria algo dessa natureza. Frederi­­co, porém, ainda investiu, tentando abraçar a moça. Mas, não obteve sucesso, e a moça saiu do escritório o mais rápido que pôde. Susan nunca voltou à empresa. Porém, também nunca teve coragem de fazer nada contra Frederico, nem mesmo processá-lo, o que, convenhamos, era exatamente o que ele merecia.

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