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Vivo dizendo que um executivo que se preze não entra às 8 horas na empresa e sai às 18 horas. Existe muito trabalho a ser feito, muitas horas a serem dedicadas a tarefas importantes que dependem única e exclusivamente de você. Porém a história que venho contar hoje é um extremo negativo de qualquer exemplo que eu possa dar a esse respeito.

Claudio era um jovem competente e disputado no seu mercado de atuação. Tra­balhava há pouco mais de cinco anos numa empresa de tecnologia e ocupava um cargo estratégico dentro da organização. Com seus trinta e poucos anos, Claudio possuía uma família pequena, mas que demandava grande esforço dele no que diz respeito à sua presença em casa. O que, infelizmente, nem sempre era possível.

Sua rotina era basicamente assim: acordava por volta de 5h30 da manhã e às 6h30 já estava no escritório. Por causa disso, carregava consigo uma cópia da chave para garantir que sempre conseguiria entrar, caso ninguém ainda tivesse chegado. Aliás, raramente havia alguém no escritório quando ele chegava, nem mesmo os zeladores da empresa. Passava o dia envolvido em projetos importantes da empresa e reuniões muitas vezes intermináveis. Quase que diariamente, não conseguia sair para almoçar junto com seus colegas. Sempre se prendia a assuntos mais importantes (pelo menos assim ele julgava), que o obrigava adiar seu horário de almoço. Algumas vezes, e não raramente, passava a base de sanduíches e salgados que seus amigos levavam para que ele não ficasse com fome.

Ao final do dia, quando todos começavam a se arrumar para ir embora, Claudio agradecia aos céus pelo escritório começar a ficar silencioso novamente. Segundo ele, esses eram os melhores momentos para trabalhar: escritório vazio, telefone mudo, silêncio. E assim, em seu ambiente ideal para trabalhar, permanecia até altas horas da noite, às vezes até de madrugada mesmo, colocando em prática seus projetos.

Mas, o pior de tudo é que ele nem mesmo conseguia entregar as coisas que prometia nos prazos corretos. Estava sempre atrasado com tudo e muitos de seus colegas não lhe creditavam a confiança que seu cargo merecia.

Em casa, é claro, tudo ia de mal a pior. Sua esposa vivia emburrada, reclamando da ausência de Claudio. Suas filhas gêmeas, ainda pequenas, já haviam aprendido a dizer várias palavras, menos papai. E, para completar o cenário de fracasso familiar/pessoal, o jovem começava a apresentar os primeiros sinais físicos de que sua saúde não ia muito bem. Aliás, se nem mesmo para a família ele tirava um tempo, quanto mais para ir ao médico. Isso era realmente uma coisa com a qual Claudio não se preocupava.

O RH da empresa em que ele trabalhava vivia chamando sua atenção para o excesso de trabalho. Um dos diretores da empresa chegou a explicar, certa vez, que eles não queriam um profissional que ficasse 24 h à disposição da empresa daquela maneira. Dispo­nibilidade era algo muito diferente do que ele fazia. Ser disponível é atender a empresa quando ela chama, independente de dia e horário, e não trabalhar o tempo todo.

Ao tentarem marcar as férias de Claudio, o RH encontrava outro problema: ele sempre alegava que não podia se ausentar naquele período e que preferia vender suas férias para a empresa, como havia feito nos últimos três anos.

A situação de Claudio só começou a mudar quando a gerente de RH, preocupada com o que vinha observando há tempos, resolveu implementar na empresa um programa de terapia em grupo e individual. Foi assim que, amparado por um profissional competente, Claudio começou a identificar o causador daquela dedicação exacerbada ao trabalho.

Ao me contar essa história, o jovem disse que vinha há um bom tempo se indispondo com sua esposa, estava extremamente infeliz no casamento e preferia, inconscientemente, ficar no escritório trabalhando, do que ter que enfrentar a própria família. Pior, sua insatisfação era tão grande que, mesmo ficando até tarde na empresa, não conseguia fazer seu trabalho a contento.

Às vezes, o problema é muito mais sério do que imaginamos. Se você é um desses profissionais que não conseguem finalizar suas tarefas em horário útil e vivem acumulando horas extras, não deixe de conferir a Coluna Talento em Pauta da próxima terça-feira.

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