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Quantos anos tem seu chefe? Se sua resposta for que ele é mais jovem que você, sua história pode ser parecida com a que vou contar hoje. Renato trabalhava numa empresa de telecom havia mais de cinco anos, na área comercial. Desde que entrara, sempre desempenhou sua função da melhor forma possível, batendo metas, trazendo ideias e participando fervorosamente de grupos de discussão e eventos da área. Renato era bastante reconhecido em sua região de atuação e, volta e meia, algumas empresas o buscavam para preencher seu quadro funcional. Ele, por sua vez, negava todos os convites, acreditando que em breve poderia ser reconhecido internamente, recebendo a sua almejada promoção para coordenador comercial.

Dois anos depois que Renato ingressou na empresa, Juliana foi contratada para desempenhar a mesma função que ele. No começo, o rapaz foi o responsável por treinar a jovem, que vinha de um segmento bastante diferente de telecom. Foi Renato quem mostrou a ela como funcionava cada setor da empresa, como era o movimento do mercado nessa área e, principalmente, as "manhas" para conseguir cativar cada cliente. A verdade é que Renato se sentia um pouco responsável por todo colaborador daquela equipe comercial e, como Juliana era nova de casa e dez anos mais jovem que ele, sua percepção de responsabilidade se expandia ainda mais.

Três anos depois da entrada da moça na organização e cinco após a entrada de Renato, houve uma movimentação relevante, que abalou as estruturas do rapaz. A diretora comercial foi convidada a assumir a diretoria de outra empresa do setor e, com a posição aberta, seus subordinados foram automaticamente promovidos: o gerente se tornou diretor, a coordenadora se tornou gerente e um dos consultores comerciais teria a chance de se tornar coordenador comercial. Era a chance que Renato esperava! Mas, para sua surpresa, a escolhida foi Juliana, justamente aquela que ele havia treinado três anos antes e a quem vinha, ao longo desse tempo, orientando e dando dicas de como resolver problemas de seus clientes.

Ao saber da promoção da colega, Renato sentiu uma espécie de inveja misturada com sensação de injustiça e pitadas de raiva. Não sabia ao certo definir o que pensava a respeito, mas considerava inconcebível ser comandado por uma moça tão mais jovem que ele e, principalmente, por alguém a quem ele próprio havia ensinado tudo o que sabia sobre vendas. Eufórica com a promoção, Juliana mal entendeu quando Renato simplesmente lhe deu as costas e a evitou por dias a fio.

Foram alguns dias até a primeira reunião da equipe com Juliana no comando e, nesse meio tempo, Renato mal a cumprimentava. Por mais que ele soubesse que a decisão viera de cima, foi Juliana que se tornou alvo de toda a sua raiva. Durante a reunião, Renato se mostrou completamente contra tudo que a moça explanava. Discordou de metas, estratégias e até mesmo fez críticas ferrenhas à forma com que Juliana se comportou durante o encontro. Usou de muita ironia para expressar suas opiniões e nem sequer respondeu sobre seu planejamento para aquela semana, como se não devesse satisfações àquela "pirralha".

Chamado para conversar a sós com a jovem, Renato disse que não tinha tempo para perder com bobeiras, recusando o convite. Foi preciso a intervenção da gerência para colocar freio nos boicotes do consultor. Ao ser questionado pelo comportamento, respondeu que não aceitava ser comandado por uma profissional tão mais jovem e que, inclusive, havia aprendido praticamente tudo com ele.

O que chamou a atenção de Fernanda (a gerente), porém, foi que em momento algum seu funcionário questionara o porquê de ele não ter sido promovido. A impressão que ele passava era que isso não o afetava e que continuar sendo um consultor comercial não era problema, desde que não precisasse ser gerido por uma moça tão jovem. Fernanda chamou sua atenção para isso e a resposta de Renato foi cortante: disse realmente não se importar: "Posso ser consultor comercial pelo resto de minha vida, não me importo. Mas para me gerir é preciso ter calos nos cotovelos".

Extremamente decepcionada com a resposta, Fernanda chamou Juliana para uma conversa e, juntas, chegaram à conclusão de que não poderiam ter um profissional como Renato na equipe. Se em cinco anos ele não se importava de permanecer na mesma posição, isso poderia significar uma estagnação não saudável para a equipe. Ambas queriam profissionais engajados com o crescimento, que almejassem sempre mais. Sendo assim, optaram pelo desligamento de Renato, o que, a meu ver, foi uma decisão drástica, mas necessária, já que ele não estava aberto para as mudanças que a empresa propunha.

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