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A elevação dos custos de produção e o baixo preço recebido pelos cafeicultores desencadearam um processo de demissões na atividade. Na região de Guapé, pequeno município no sul de Minas, o Sindicato dos Produtores Rurais local anotava 456 trabalhadores fixos na atividade em 31 de outubro passado. Nesta quinta-feira, os associados mantinham registrados no sindicato apenas 259 trabalhadores, informa o agrônomo e diretor da entidade, Armando Matielli.

Ele calcula que a região tem 3.600 hectares com café, o que representaria desemprego de 55 trabalhadores registrados para cada mil hectares. Considerando que o número de trabalhadores fixos é equivalente ao de temporários, o total de demitidos alcançaria 110 trabalhadores para cada mil hectares. "Como o Brasil tem 2,35 milhões de hectares com café, podemos estimar que o desemprego direto atinge 258.500 trabalhadores". "O cálculo é generalizado, sem análise estatística, mas dá uma ideia da situação desesperadora", diz Matielli. O impacto da mão de obra na cafeicultura está estimado entre 50% a 60% do custo de produção.

O agrônomo, que demitiu no ano passado 13 de seus 32 trabalhadores em sua fazenda de café, afirma que é perceptível o empobrecimento nas comunidades rurais e cidades que vivem da cafeicultura. Segundo ele, em Três Pontas, também no sul de Minas, a prefeitura local chegou a decretar estado de calamidade pública, considerando os 2 mil desempregados na zona rural.

Ele pondera que, quando um problema dessa natureza ocorre na indústria automobilística, por exemplo, é simples quantificar os danos, pois o universo é de apenas dezenas de montadoras. No campo, porém, é diferente. Conforme dados de Matielli são cerca de 5 milhões de propriedades rurais, das quais 320 mil vivem do café, em cerca de 1.900 municípios produtores. Estima-se que a cafeicultura seja responsável pela geração de 8 milhões de empregos, diretos e indiretos.

O diretor do sindicato observa que o problema da cafeicultura não é de agora. "Os prejuízos vêm se acumulado desde o início da década e a crise só fez agravar a dificuldade". Segundo ele, o preço do café subiu apenas 22% desde 1994, enquanto o custo de produção avançou em torno de 600% no período. "Apesar disso, o setor dobrou a produtividade e como prêmio passamos a gerar um prejuízo insuportável".

Na avaliação de Matielli, na safra do ano passado, estimada em cerca de 46 milhões de sacas, o produtor perdeu entre R$ 100,00 a R$ 150,00 em cada saca, dependendo do pacote tecnológico e da região produtora. "Os custos estavam nas nuvens, mas o produtor só foi sentir o efeito na colheita, na hora de receber pelo produto e pagar o trabalhador", conclui.

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