Depois de o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) determinar o despejo da Daslu do Shopping JK Iguatemi, a empresa, que chegou a ser o maior templo de comércio de luxo do país, anunciou na quinta-feira (20) que fechará a loja no local.
Trata-se de mais um capítulo na espiral de decadência da butique multimarcas que chegou a abrigar mais de 300 grifes de primeira linha do mundo todo. Com cerca de R$ 3 milhões em aluguéis atrasados – somente no JK –, a empresa também estaria enfrentando dificuldades para pagar salários de funcionários e teria dívida superior a R$ 100 milhões.
Liderada pela empresária Eliana Tranchesi, que faleceu em 2012, a empresa faturava alto até meados dos anos 2000, quando inaugurou a Villa Daslu. O edifício neoclássico, de 20 mil metros quadrados e construído ao custo de R$ 100 milhões, chegou a ter 700 empregados. Pouco mais de um mês após a inauguração do empreendimento, em 2005, a prisão de Tranchesi por sonegação fiscal marcou o início do processo de declínio da empresa. Agora, afirmam fontes do mercado de luxo, a empresa, no seu estado atual, não seria mais economicamente viável.
Hoje, a Daslu se resume a três lojas – apesar do encerramento das atividades no JK, a empresa mantém pontos de venda no Shopping Cidade Jardim, em Ribeirão Preto e no Rio de Janeiro. A unidade de Brasília, embora ainda conste no site da companhia, já foi encerrada.
Em nota divulgada na quinta-feira, a Daslu anunciou o fechamento no JK – citando inflexibilidade de negociação dos atrasados –, mas disse que pretende abrir outra unidade em São Paulo em breve.
A reportagem enviou um e-mail à Daslu com questionamentos sobre brigas societárias, dívidas e atrasos em salários, mas a empresa não quis falar sobre esses temas.
Disputa
O controle da Daslu atualmente está sob disputa. Em 2011, pouco antes do falecimento de Eliana Tranchesi e do fechamento da megaloja na Marginal Pinheiros, a Daslu foi comprada, por R$ 65 milhões, pelo fundo Laep, de Marcos Elias, empresário que enfrenta vários questionamentos na Justiça e que também foi dono da Parmalat no país. Em 2010, a companhia tinha entrado em recuperação judicial, com dívidas de R$ 80 milhões.
No início deste ano, o empresário Crezo Suerdieck, dono do DX Group, especialista na aquisição de ativos em dificuldades, tentou assumir a gestão da empresa com um aumento de capital de R$ 11 milhões. Mas a Justiça cancelou a operação.
Suerdieck afirmou que, antes de o negócio ser inviabilizado pela Justiça, deixou a Daslu com R$ 1,5 milhão em caixa. Em fevereiro, o DX anunciou um projeto de revitalização da marca, com a ideia de criar franquias Daslu em cidades onde o comércio de luxo não é tão desenvolvido quanto em São Paulo e no Rio. A partir da decisão judicial, a proposta não foi para frente.
Diante das dificuldades para pagar as contas do dia a dia de sua operação, fontes de mercado afirmam que o principal ativo que restou à companhia foi a marca. Um consultor de empresas calcula que, a eventual venda do nome Daslu em um leilão poderia render um bom dinheiro. “Se a Rosa Chá foi vendida por R$ 10 milhões (à Restoque, dona da Le Lis Blanc e da Dudalina), a Daslu pode valer até mais”, comparou ele.
De acordo com uma fonte na área de branding, a relação não é tão direta. Enquanto a Rosa Chá era identificada como uma marca de moda praia, a Daslu, apesar de ter produtos próprios, sempre foi vista como uma “curadora”“ multimarcas. A loja também tinha um nome forte em uma época em que as redes luxo internacionais ainda não tinham unidades próprias nopaís. “Acho que é muito difícil que as ‘viúvas da Daslu’ sejam suficientes para salvar a marca”, disse a fonte.
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