Veganos, intolerantes à lactose e entusiastas fitness estão impulsionando o aumento do consumo de formas alternativas de leite no Brasil. Dados da consultoria Euromonitor Internacional revelam um crescimento de 51,5% do mercado de bebidas vegetais no país em 2018. Aqui entram bebidas elaboradas, principalmente, a partir de arroz, aveia, coco e amêndoas. Na contramão dessas matérias-primas, as vendas de bebidas à base de soja recuaram 19% quando comparadas ao ano passado.
Apesar da queda, as bebidas à base de soja ainda responderão por 90% do mercado de bebidas vegetais em 2018, ou R$ 490 milhões do total dos R$ 545 milhões que o setor deve movimentar neste ano. Em 2017, o segmento representava 94,3%, quando foram comercializados R$ 604,6 milhões em bevidas vegetais.
Já as que não têm soja em sua composição devem crescer de 5,6% para 10% sua participação no mercado em 2018. No ano passado, elas movimentaram R$ 36,1 milhões. Este ano, segundo estimativa da Euromonitor, o valor deve quase dobrar, chegando a R$ 54,7 milhões, o que coloca o Brasil na 21.ª posição no ranking mundial. Nas primeiras colocações estão China, Estados Unidos, Espanha, Canadá e Reino Unido, nessa sequência.
Quando se trata do volume de litros comercializados, as bebidas à base de soja representam uma fatia ainda maior do mercado — 95,7% em 2018. No entanto, o volume deve cair 19,6% em 2018, para 100,3 milhões. As outras bebidas vegetais aumentaram a produção de 3 milhões de litros em 2017 para 4,4 milhões em 2018, um crescimento de 46,9%.
Para Caroline Kurzweil, analista de alimentos e nutrição da Euromonitor International, a queda de quase 20% no consumo de bebidas à base de soja é devida à percepção, de parte dos consumidores brasileiros, de que este grão é prejudicial ao meio ambiente e não é sustentável.
“Além disso, os brasileiros preferem sabores familiares como bebidas de coco ou castanha de caju, que são mais cremosas e mais doces que a soja, mesmo sendo mais caras”, afirma a analista. “Os consumidores desse nicho têm maior poder aquisitivo e, portanto, estão dispostos a gastar em alternativas mais saborosas”, acrescenta.
Marcas gigantes entram no mercado
Essa movimentação fez com que grandes marcas de bebidas lançassem produtos à base de vegetais, como é o caso da Danone, Nestlé, Ambev e Coca-Cola, esta última, líder do segmento com 53,8% de participação. Um ano depois de assumir a operação da AdeS, a Coca-Brasil lançou, em junho deste ano, bebidas à base de novas matérias-primas: amêndoas e coco. Além disso, a empresa atualizou o AdeS original, de soja, que passou a ser feito com soja não-transgênica.
Os produtos são vendidos em embalagens de um litro. O preço sugerido de AdeS amêndoas e amêndoas com baunilha é R$ 12,90. AdeS Coco é R$ 9,90 e AdeS Original, R$ 5,50.
“A chegada de AdeS ao nosso portfólio há um ano e meio marcou a entrada da Coca-Cola Brasil na categoria de bebidas vegetais. A compra fez parte de uma estratégia da empresa de ampliar a oferta de produtos em áreas nas quais até então não tinha experiência”, explica Pedro Massa, diretor de novos negócios da Coca-Cola Brasil.
Massa disse que pesquisas realizadas pela empresa mostraram que existe uma busca cada vez maior por alimentos mais equilibrados do ponto de vista nutricional. “O mercado de bebidas vegetais cresceu rapidamente fora do Brasil e essa tendência também tem sido percebida em nosso país”, destaca. Segundo ele, a expectativa é que 50% do crescimento da AdeS até 2025 venha de novos lançamentos da marca.
No entanto, a AdeS segue conhecida pelos brasileiros como produtora de bebidas à base de soja com suco de frutas em sabores como uva, pêssego, maça e abacaxi. Sobre a redução no consumo de bebidas que têm o grão em sua composição, o diretor se limitou a dizer que “as bebidas à base soja são responsáveis pelos grandes volumes da marca e seguem como uma das nossas apostas de crescimento”.
A Nestlé lançou este ano dois novos sabores de bebidas alternativas ao leite, Nestif Aveia e Nesfit Cacau Integral, que se somaram aos já tradicionais Nesfit Arroz Integral e Nestif Aveia Integral, no mercado desde 2015. A empresa afirmou que a aposta no mercado de bebidas vegetais vai de encontro a um movimento global que busca soluções mais naturais e livres de aditivos.
“Ao ingressar na categoria de bebidas vegetais, que já possui grande penetração em outros países, a Nestlé amplia o universo de possibilidades para adultos que querem ter uma alimentação equilibrada, sem abrir mão de sabor e praticidade”, informou a empresa por e-mail.
A reportagem entrou em contato com a Danone e a Ambev, mas as empresas não responderam aos pedidos de entrevista.
Marcas regionais
Diferentemente das marcas que lançaram seus produtos este ano, a Obrigado está no mercado de bebidas vegetais desde 2016, quando criou linha de leite de coco em quatro versões: original; manga e maracujá; chocolate; e banana com morango e linhaça. O custo para o consumidor final varia entre R$ 10 e R$ 11 o litro. No ano passado, a marca do grupo Frysk Industrial, da Bahia, lançou versões de bebidas vegetais para o mercado externo.
A produção de leite à base de coco segue em crescimento. Em 2017, a marca produziu 300 mil litros da bebida; em 2018, a Obrigado dobrou sua produção para 600 mil litros. E, para o próximo ano, a empresa pretende chegar a um milhão de litros. As expectativas são tão positivas que a empresa ampliará o portfólio de bebidas à base de leite de coco em 2019, dessa vez na categoria de bebidas funcionais, com maior teor de proteínas, vitaminas e minerais.
“É um mercado, realmente, muito promissor e que tende a crescer muito. Nós ainda estamos engatinhando nesse sentido”, avalia Helder Quadros, vice-presidente da Obrigado e responsável pelas operações da marca no Brasil.
Quem também está no mercado há mais tempo é a mineira Vida Veg, que oferece iogurtes com base vegetal desde 2015. No início do ano, a marca lançou, em parceria com a Tetra Park, linha de leites à base de coco e amêndoas, além de shakes com proteína de ervilha. O tíquete médio do litro de leite é R$ 15 (coco) e R$ 16 (amêndoas).
O sócio-diretor da Vida Veg, Anderson Ricardo Rodrigues, afirma que a empresa foi surpreendida com a recepção dos brasileiros aos leites vegetais, especialmente o de amêndoas, que “estourou” em vendas. Os leites vegetais já representam 35% das vendas — sendo, hoje, a principal linha de faturamento da empresa. Para 2019, a expectativa da Vida Veg é crescer 200%.