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Construção do complexo da MRV Acquaville, em andamento na cidade de Londrina, no Paraná. | Divulgação MRV/
Construção do complexo da MRV Acquaville, em andamento na cidade de Londrina, no Paraná.| Foto: Divulgação MRV/

O copresidente da MRV Engenharia Eduardo Fischer está otimista com o ano de 2019. Não só em razão do atual patamar da taxa de juros e de novidades regulatórias, como a lei de distratos, mas também porque ele enxerga no novo governo “só racionalidade” no que diz respeito à economia. Nem as declarações polêmicas do novo presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, sobre as taxas de juros praticadas pelo banco à classe média, abalaram a confiança de Fischer em Jair Bolsonaro. Nas entrelinhas, porém, percebe-se que a maior construtora da América Latina está buscando formas de crescer para além do programa Minha Casa Minha Vida.

Em 2019, o programa habitacional terá o menor orçamento em dez anos (R$ 4,6 bilhões), com restrições a concessão de subsídios à faixa 1,5, voltada a famílias com renda de até R$ 2,6 mil. A redução da verba para o programa é resultado do aperto fiscal. Com o teto dos gastos em vigor, a manutenção das despesas obrigatórias acaba por pressionar as discricionárias, como as da habitação. Mais investimentos só serão possíveis se o governo federal fizer a lição de casa, com reformas como a da Previdência.

Também neste ano, a Caixa reabriu a linha Pró-Cotista com juros mínimos maiores. Na prática, isso significa que a linha já não é mais necessariamente a mais vantajosa para o consumidor que não se encaixa no Minha Casa Minha Vida. A correção nas taxas da linha foi determinada ainda na gestão de Michel Temer.

Não à toa, Fischer disse à Gazeta do Povo que a MRV voltará a olhar para a classe média neste ano, mais precisamente para unidades de R$ 250 mil a R$ 300 mil, e também para contratos com base em recursos da poupança. O fato de a poupança ter voltado a arrecadar recursos, fechando 2018 com captação líquida de R$ 38,2 bilhões, também fundamental para essa decisão da companhia.

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“O que a gente planeja é alcançar, em três anos, 20% a 25% do VGV dentro SBPE [poupança]”, afirmou o executivo. É um patamar parecido ao que a construtora atingiu em 2013, em pleno boom imobiliário. Atualmente, cerca de 97% dos contratos da companhia têm base em recursos do FGTS.

O copresidente Eduardo Fischer divide o comando da MRV com Rubens Menin.Divulgação

Esse foco na baixa renda e no desenvolvimento de técnicas de construção industrializadas estão entre os fatores que levaram a MRV a registra o 26.º trimestre seguido de geração de caixa no fim de 2018.

Segundo os resultados preliminares, divulgados na semana passada, a companhia fechou o ano passado com um crescimento de 14,2% no Valor Geral de Vendas (VGV) do lançamentos, para R$ 6,4 bilhões, e uma alta de 5,6% em vendas líquidas (descontados os distratos), para R$ 5,3 bilhões, em comparação ao ano anterior. E embora não tenha atingido a meta de 50 mil unidades lançadas, terminou o ano com algo próximo disso (41,1 mil lançamentos) e um crescimento de 10,9% em relação a 2017. Os resultados fizeram analistas do Itaú BBA e do BTG Pactual avaliarem bem as perspectivas dos papéis da companhia para 2019.

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“Mesmo sendo um produto mais customizado, [o produto de classe média também] será feito de maneira industrializada, usando as fôrmas de alumínio e o concreto auto-adensável. Entendemos isso como uma vantagem de mercado”, disse Fischer.

Por ser uma companhia de capital aberto, a MRV não faz previsões de quantos lançamentos deve fazer em 2019, mas Fischer ressalta que o plano é superar 2018 tanto em VGV quanto em número de unidades lançadas.

Assim como em 2017, a companhia também aproveitou a alta geração de caixa e o endividamento próximo de zero para aumentar seu estoque de terrenos no ano passado. O landbank da companhia terminou 2018 avaliado em R$ 49,7 bilhões. Embora tenha estreado na Região Norte no ano passado, com um empreendimento em Manaus, a MRV deve concentrar a aquisição de terrenos nas regiões onde mais atua: Sudeste e Sul.

Além da captação líquida da poupança, a expectativa da MRV em torno das Letras Imobiliárias Garantidas (LIGs), que começaram a ser emitidas no ano passado, como futura nova fonte de recursos para o setor imobiliário é grande. “A LIG tem uma vantagem, ela pode ser securitizada. Então, pode ser criado um mercado secundário no Brasil, nos moldes dos mercados mais evoluídos, que pode ser importante para o setor a longo prazo”, avalia Fischer.

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Funding atual do setor imobiliário funciona e não tem porque mudar

No início de janeiro, o novo presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, declarou que a classe média brasileira pagaria juros de mercado na instituição. A fala do executivo foi interpretada por alguns especialistas como uma sinalização de que o banco poderia rever sua política de juros para o crédito imobiliário e também de que o novo governo poderia rever o uso do FGTS pelo setor.

Como a Gazeta do Povo esclareceu, no entanto, a classe média já paga “juros de mercado” na Caixa há algum tempo. O banco público inclusive perdeu terreno nos financiamentos com recursos da poupança para outros bancos privados, entre outras razões, em razão das taxas juros, que ficaram congeladas por dois anos e meio.

O copresidente da MRV também encarou as declarações de Guimarães com naturalidade, ressaltou que o funding do setor imobiliário, com recursos da poupança e do FGTS, é bom para todos os envolvidos e que não há razão para o novo governo mexer nas regras atuais

“Nosso setor é um gerador de empregos muito forte, é uma parte relevante do PIB, e o fundo de garantia é apartado do orçamento da União e ele ganha dinheiro aplicando em imóvel. A equação é positiva. E uma vantagem é que esse governo tem um grau de racionalidade muito grande. Qualquer pessoa, seja da área econômica, seja da Caixa, que olhe para essa equação (....) vai ver que ela produz unidades de forma muito positiva (...) e não tem denúncias de corrupção”, ressaltou Eduardo Fischer.

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