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Apesar de o álcool ganhar cada vez mais adeptos no Brasil e no exterior por ser considerado um "combustível limpo" e mais barato na comparação com a gasolina e o diesel, seu processo de produção ainda deixa muito a desejar em termos ambientais.

Atualmente 80% da cana-de-açúcar usada na produção do álcool, que deverá ficar em 17 bilhões de litros neste ano, segundo estimativas da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Única) , é queimada para facilitar a colheita. O processo provoca a emissão de gases e fuligens que circulam na atmosfera, especialmente em momentos de seca, como no inverno.

Um estudo da Escola Superior de Agricultura da Universidade de São Paulo (Esalq/USP) feito em Piracicaba - responsável por 39% da plantação de cana-de-açúcar do estado - mostra que a quantidade média de partículas poluentes no ar da cidade é de 56 microgramas por metro cúbico ao longo do ano.

O máximo permitido pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) é de 50 microgramas, mas a quantidade chega a exorbitantes 89 microgramas na época da safra, caindo para 28 microgramas fora do período de colheita. A Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo chegou a proibir a queima da palha da cana temporariamente nas regiões de São José do Rio Preto, Ribeirão Preto, Araraquara e Barretos, em razão dos baixos índices de umidade relativa do ar (veja a nota da Secretaria).

A discussão sobre os métodos empregados na colheita vem de longa data. Um Decreto Federal 2661/1998 prevê a proibição de queimadas a partir de 2018 em áreas mecanizáveis. Em outras regiões, onde houver declives, por exemplo, a queima será suspensa apenas em 2031.

Na defesa do álcool produtores e especialistas alegam que seu uso ainda é vantajoso na comparação com combustíveis fósseis, que seriam usados de qualquer forma.

- A queima não tem influência adversa no efeito estufa, pois se está emitindo uma parte do CO2 (cerca de 1/3) que foi retirado da própria atmosfera pela cana, ao fazer a fotossíntese. Os 2/3 restantes são transformados em energia (açúcar, álcool e bagaço para as caldeiras), cuja utilização como fonte de energia, no caso do álcool e o bagaço, substituem combustíveis fósseis. Estes, sim, são responsáveis pelo aumento de CO2 - diz o pesquisador do Centro de Tecnologia da Cana (CTC) André Elia Neto.

Já o pesquisador da Faculdade de Medicina da USP José Eduardo Delfini Cançado, lembra que o efeito estufa não é o único fator a ser observado. Um estudo de sua autoria publicado pela revista americana 'Enviromental Health Perpectives', mostra, com base na pesquisa da Esalq e dados do SUS (Sistema Único de Saúde), que o risco de internação de crianças e idosos por doenças respiratórias é 3,5 vezes maior em períodos de safra, excluídos os efeitos da umidade do ar e da temperatura.

- O álcool é um excelente combustível renovável e muito menos poluente que a gasolina e o diesel. Mas quando você queima a cana para fazer o álcool, você melhor a qualidade do ar nos grandes centros urbanos e piora a do interior - diz.

O especialista é enfático em relação à possibilidade de exportação do álcool combustível, que já foi iniciada pela Petrobras:

- Se o Japão passar a misturar 3% de álcool na gasolina, será ótimo para eles, mas toda a poluição e as doenças vão ficar aqui.

A Única alega que o método é aplicado em 80 países de todo o mundo, que representam a maior parte dos produtores. O consultor Isaías de Carvalho Macedo acrescenta que a queima é feita seguindo regras rígidas de controle. Além disso, o setor emprega cerca de um milhão de pessoas, sendo 800 mil na agricultura. Em Piracicaba, por exemplo, entre 60 e 70% da economia giram em torno do setor.

- Um dos motivos para que o cronograma de redução das queimas seja tão longo é a grande quantidade de trabalhadores que vive do corte da cana e que perderá o emprego com a mecanização da colheita.

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