
O comércio e o consumidor encontraram no aumento dos prazos de financiamento a fórmula para driblar a alta dos juros e da inflação. Dados do Banco Central mostram que o período médio das operações de crédito de pessoa física cresceu 11% em março deste ano (566 dias), na comparação com o mesmo período do ano passado (509 dias). Isso significa que o cliente está financiando em mais vezes a aquisição do automóvel, a compra da geladeira ou parcelando mais aquela conta do cartão de crédito.A rede de supermercados Condor aumentou de 18 para 20 vezes o prazo máximo de parcelamento de eletroeletrônicos e eletrodomésticos no cartão próprio. O objetivo é fazer com que a parcela "caiba no bolso do consumidor", segundo Wanclei Said, diretor administrativo e financeiro da empresa. De acordo com ele, a medida, adotada há cerca de seis meses, já surtiu efeito. "A carteira de cartões aumentou em 25% e o valor financiado cresceu 32% desde então. Quem financiou uma geladeira voltou depois para comprar outro produto", afirma.
De acordo com Said, o consumidor continua a comprar mesmo com um cenário de maior inflação e alta dos juros. No primeiro trimestre, as vendas do Condor cresceram 22% em relação ao mesmo período do ano passado.
Na rede de lojas MM Mercadomóveis, com sede em Ponta Grossa, na Região dos Campos Gerais, o prazo médio de financiamento aumentou em 33% passou de nove vezes, em maio do ano passado, para 12 vezes neste ano de acordo com Marcio Pauliki, superintendente da rede. A cadeia de lojas oferece prazo de até 15 vezes no crediário da casa e de até 24 vezes por intermédio de financeiras. As vendas no primeiro quadrimestre aumentaram 25% na comparação com o mesmo período do ano passado.
O parcelamento em até dez vezes, tradicional no pico de vendas de material escolar no primeiro trimestre, foi esticado para o ano todo na Livrarias Curitiba. A medida visa atender principalmente às vendas de maior valor, como notebooks e computadores. "As vendas financiadas em dez vezes já respondem por 20% dos negócios", ressalta Ernani Luiz Pedri, diretor financeiro. A empresa tem previsão de crescer 15% em 2011.
Construção
As lojas de material de construção também têm aumentado as condições de financiamento. A Cassol ampliou de 10 para 12 vezes o prazo de financiamento como forma de aquecer os negócios, segundo o gerente regional, Vanderlei Folmann. A promoção vai até o dia 25 de maio. "Hoje 60% das nossas vendas são parceladas. Há seis anos vendíamos em quatro parcelas e o prazo foi aumentando aos poucos", afirma. Na loja da rede Bigolin, no bairro Vila Hauer, 40% das vendas são financiadas, de acordo com o gerente de vendas, Valdori Schafranski. Segundo ele, o aumento dos prazos de parcelamento para o consumidor vem ocorrendo gradualmente há cerca de três anos por uma exigência do próprio mercado. "Nesse período o número de parcelas foi crescendo de cinco para oito e hoje já vendemos em dez vezes. Mas ainda hoje muita gente prefere negociar um desconto para pagamento à vista".
Restrições
De maneira geral, os prazos vêm crescendo desde fevereiro do ano passado e resistindo até mesmo às medidas do governo para conter o crédito, a partir do fim de 2010. O prazo está maior inclusive na compra de automóveis, setor que foi alvo de medidas específicas, como a exigência de entrada maior nos financiamentos mais longos.
70% preferem compra a prazo
Sete em cada dez curitibanos preferem pagar de forma parcelada suas compras, segundo dados da Associação Comercial do Paraná (ACP). Segundo o vice-presidente da ACP, Camilo Turmina, o consumidor tem aumentado o comprometimento do seu orçamento com outras dívidas, está pagando juros maiores e tem visto a alta da inflação comprometer sua renda. "Tudo isso tem feito muita gente aumentar os prazos na hora da compra para continuar a consumir. Quando falta dinheiro para pagar à vista, o consumidor opta pelo prazo" afirma.
A vendedora de consórcios Cibele Bahr, 48 anos, comprou uma tevê de LED parcelada em 20 vezes para presentear a amiga Lyana Lustosa, 27 anos, que vai se casar daqui a dois meses. Cibele disse que a opção pelo parcelamento tem sido mais vantajosa também em outras compras. "As lojas dificilmente oferecem descontos para compras à vista e, quando oferecem, nem sempre vale a pena", ressalta a vendedora, que afirma preferir as compras à vista somente quando os descontos superam os 10%.
Mas os prazos mais longos, no entanto, embutem o risco de aumento da inadimplência. Turmina calcula que somente em Curitiba haja 1 milhão de CPFs com registro no Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC). O número de ocorrências já que é comum uma pessoa estar com mais de uma contra atrasada alcança 3 milhões. (CR; colaborou Cintia Junges, especial para a Gazeta do Povo)
Colaborou Cintia Junges, especial para a Gazeta do Povo




